EM BUSCA DO AMOR PERDIDO romance Capítulo 16

James DeLucca Miller.

Quem são essas pessoas?

Me parecem familiar, mas nunca os vi aqui na vila. E quem é aquela mulher tão linda que fez meu coração acelerar? Meus pelos arrepiarem e eu ficar inquieto? E o bebê, nossa ele é muito lindo! A mulher é perfeita, não é baixa, mas não é alta, eu diria que bate no meu ombro, tem os cabelos pretos lisos e bem compridos, tem uma franja bem cortada e bonita, olhos verdes esmeralda, muito familiar, eu já os vi, só não lembro onde, ela tem um corpo muito bonito, tem um bumbum avantajado, cintura bem fina e quadris largos, seios do tamanho perfeito, e pernas lindas, uau, eu nunca admirei uma mulher assim antes, ela realmente é linda, meu tipo ideal de mulher. As roupas dela são bonitas, desenham bem o contorno do seu corpo. E o bebê ele é alemãozinho, parecido com o senhor ali atrás dela, também tem o olho azul e é lindo, sei que é filho dessa mulher linda, e ele é muito fofo.

Ficou tão quietinho no meu colo, e eu amei segurar ele.

Parece que os conheço, mas não sei de onde... Será que eu já sonhei com eles? Eles são bonitos, o casal que está com ela, são lindos também, todos eles muito bem arrumados, com uma aparência de pessoas que se cuidam, e ele o cara, se parece comigo, tem a pele branca, cabelos loiros e o olho azul igual o meu, o rosto quadrado e bonito, ele é alto e forte, a mulher é linda, parece uma modelo, deve estar na casa dos quarenta, mas tem um corpo esbelto, estatura mediana, cabelos pretos e também tem os olhos azuis piscina, rosto angelical e ela me passa familiaridade. Será que são meus parentes distantes? Eu não sabia que tinha.

A minha cabeça é uma tela em branco, não sei quem sou, mas tenho flashbacks de uma vida totalmente diferente da que tenho aqui.

Mas não sei se é delírio meu, ou já aconteceu comigo algumas dessas coisas.

Eu sonho com cérebros, e um olho verde esmeralda, e também sonho que chamo um nome, mas sempre que eu desperto estou sozinho.

Mas nesse momento eu estou frustrado, e com raiva dessas pessoas que fizeram eu perder a pescaria, por mais que eu odeie fazer isso, eu preciso trabalhar para pagar a minha moradia. Ninguém aqui pode bancar ninguém. E eu não posso ficar sem trabalhar, ou não vou ter a janta.

Então eu bravo digo:

__ Eu preciso trabalhar. – Entrego o bebê bonito pra mãe dele e ele resmungando saiu do meu colo, acho que ele gostou de mim, mas eu não posso ficar aqui, começo a andar e a mulher linda fala..

__ Meu nome é Giulia. – então meu coração acelera mais, Giulia, será que é a mesma que está tatuada em mim?

__ Como?

__ Sou a Giulia, como é seu nome?

__ Não sei acho que John. Eu não sei nada sobre a minha pessoa, quando acordei aqui, eu era o John, fui resgatado de um acidente, e provavelmente perdi a memória, mas ninguém aqui sabe quem eu sou, e não tenho documentos nem dinheiro, mas eu sinto que conheço vocês. – digo porque é a verdade, a minha cabeça está doendo agora.

__ Quer entrar no nosso navio? – a moça linda perguntou.

__ Vocês vão me sequestrar? – pergunto e logo respondo: __ Não, obrigado.

__ Não vamos sequestrar você, apenas te dar as informações que precisa pra preencher as lacunas.

__ Informações? Que informações? Vocês me conhecem?

__ Sim, e temos respostas se quiser saber quem é você. – O homem diz e concordo, então subo a rampa de acesso ao navio bem bonito e chique, é a primeira vez que vejo algo tão imponente por aqui.

__ Vocês são daqui? – pergunto enquanto caminho.

__ Não, mas nós estávamos procurando você.

__ Me procurando? Porquê? – pergunto realmente interessado em saber.

__ Vamos para o escritório, acho que é melhor Giulia. – a mulher diz pela primeira vez, a voz dela é muito calma, mas emocionada. Porquê?

__ Tudo bem, é melhor mesmo, assim vamos ter mais privacidade. Ainda é bem cedo e os funcionários estão dormindo.

Eles me conduzem para dentro e o luxo é em todo o lugar, mas eu não fazia ideia que era um hospital aqui dentro. Que doido! Esse cheiro é familiar e eu gosto da sensação que ele me causa.

Chegamos no tal escritório e a mulher muito linda de cabelos negros, compridos e com uma franja que a deixa mais linda ainda, diz:

__ Como eu disse antes, eu sou a Giulia, e você deve se perguntar porque eu falo tanto o meu nome, e então vou dizer, Sim, eu sou a pessoa da sua tatuagem, e eu sou sua esposa, esse é seu filho, - ela diz apontando para o bebê e olha para o casal e diz: __ E esses sãos seus pais. Ah e seu nome é James DeLucca Miller, sua mãe se chama Antonella e seu pai Victor, e esse bebê lindo, se chama Lucca. – ela me apresenta todos e eu não sei o que dizer, estou apenas absorvendo tudo quando ela continua falando: __ Esse navio, é nosso, você montou ele todo pra nossa missão de sair pelo mundo ajudando quem não tinha condições de pagar tratamento de saúde, aqui dentro é tipo um hospital marítimo, estamos há mais de um ano vivendo no mar, à sua procura em todas as ilhas do Mediterrâneo, eu e sua família nunca aceitamos que você tinha morrido, e então viemos atrás de respostas, porque se depender da polícia e investigadores, você estaria pra sempre perdido... – ela para e pergunta:

__ Está conseguindo me acompanhar?

__ Sim, pode continuar falando. – gosto dessa descoberta.

__ Ótimo, então como eu estava dizendo, você é um neurocirurgião muito renomado na América do Sul e do Norte. – peço pause e pergunto:

__ Neurocirurgião? É sério? Eu mexo nos cérebros? – pergunto

__ Sim e é um dos melhores! – ela confirmou.

__ Mas como sabia que eu estava aqui? – pergunto fazendo sinal com as mãos.

__ Não sabíamos, nós estamos há mais de um ano te procurando, pra ser mais exata, quinze meses. E hoje te achamos. – ela reafirma o que já tinha dito.

__ E como eu posso ter certeza que vocês não estão mentindo? – pergunto ainda desconfiado.

__ Você não recorda de nós, né? Mas eu posso te dar detalhes que te conheço. Ah sim, a sua tatuagem é um anjinho cupido com o meu rosto, e com uma flecha nas mãos, e do lado esquerdo tem um coração com o meu nome dentro, o coração é vermelho e o meu nome é verde, como a cor dos meus olhos! Acertei?

__ Sim, mas isso deve ter na internet, não é? – impressionado eu respondo porque me lembrei de onde conheço ela.

__ Aqui tem internet?

__ Só o prefeito, então já ouvimos falar, mas não temos acesso. É proibido!

__ Gente. Como assim proibido? Espera deixa eu ligar o meu celular. – o cara que é meu pai, está com o bebê dormido em seu colo, e a mulher que é a minha mãe, está me olhando fixamente, eu me sinto bem com eles. Estranho!

__ Olha! – ela chega pertinho de mim pra me mostrar seu celular e seu cheiro é muito gostoso! Tem cheiro de chocolate e hortelã, eu gosto do cheiro, e estou com o coração acelerado por ter ela tão perto. Ela clica numa tela e aparece o meu nome, com fotos minhas e muitas informações sobre mim. Pego o telefone de suas mãos e começo a ler tudo.

Sou casado com ela, há três anos e meio, meus pais são aqueles que estão ali, sou neurocirurgião, tenho trinta e dois anos, moro em Manhattan, já ganhei muitos prêmios e minha esposa é herdeira de um hospital, onde eu era o chefe da neurocirurgia, e Giulia também é neurocirurgiã. Minha mãe é arquiteta e meu pai é treinador aposentado. Mas não fala nada do meu filho. Porquê?

__ Porquê não tem nada sobre o bebê?

__ Porque ele nasceu no navio e mantenho ele o mais discreto possível, afinal ele é filho da herdeira de um hospital, e tem tantos malucos que não aceitam a morte do seu ente querido, e às vezes acham que a culpa é a negligência dos donos do estabelecimento, sendo que muitas doenças ainda não tem cura, mas muitos querem achar alguém para culpar, e fazem isso com o hospital, por isso mantenho a nossa descrição em assuntos pessoais. – é uma boa resposta.

__ Mas eu te amava? – essa pergunta é válida né? Afinal ela não chorou por me encontrar, será que ela sentiu a minha falta mesmo? Quer dizer ela não está chorando agora, e não percebi se fez isso antes.

__ Você amava sim, mas eu tenho certeza que não mais do que eu. – ela diz rindo e uma lágrima corre, mas continua falando: __ Eu ainda não acredito que é você aqui, sabia? Eu estou aliviada que seus pais estão comigo, porque senão eu iria pensar que estava alucinando. Mas eu só não me joguei em cima de você ainda porque eu sei que seria estranho, e bom, eu sou neurocirurgiã e sei tudo sobre o cérebro, então sei que é muita informação pra você assimilar, por isso peço que acredite em nós por favor, estamos muito felizes por você estar vivo, se eu te contar que só faltava onze ilhas para acabar a nossa esperança você acreditaria?

__ Porque diz isso? – pergunto aflito, mas ao mesmo tempo aliviado.

__ Porque o avião que você estava caiu no mediterrâneo, e seria impossível você nadar pra tão longe. E um barco por aquelas redondezas, só mesmo de pesca. Imaginamos que estaria em uma ilha, mas não fazíamos ideia que essa ilha seria tão distante de onde aconteceu o acidente, por um acaso se lembra de alguma coisa?

__ Não, eu só sei o que os pescadores me disseram! Eles me acharam porque viram o acidente acontecendo, nesse dia, eles estavam em uma embarcação grande, porque é a que traz os mantimentos pra ilha, e ajudaram eu e outro sobrevivente, só que ele estava muito ferido e aqui não tinha ninguém que pudesse fazer uma cirurgia nele, e infelizmente ele não sobreviveu, não me lembro quem ele era, mas fizemos um enterro pra ele. Eu não tinha me machucado gravemente, só uma pancada forte na cabeça e uma perna quebrada, mas me ajudaram aqui.

__ Tudo bem, eu fico tão feliz com essa notícia, mas eu acho que chega de informação por hoje né? Você deve estar com dor de cabeça, acertei? – ela pergunta.

__ Sim, é muito pra digerir. – afirmo e estou aliviado.

__ Nós entendemos, quer mais alguma prova, ou acredita em nós?

__ Eu acredito, eu sempre tive flashbacks que eu via cérebros, e olhos verdes. E nunca me senti parte daqui. – faço sinal com a mão, pra dizer da ilha.

__ Isso é bom, as memórias podem estar armazenadas, mas é muita informação agora. Você quer ir para a sua casa ou deseja fazer exames? Quer dizer, desde que você chegou aqui, após o acidente, você teve algum cuidado médico?

__ Não temos isso aqui moça, tem apenas um senhor que é o curandeiro da vila.

__ Ah sim, então gostaria de ter alguns exames? eu gostaria de saber se a sua amnésia é retrógrada que esqueceu tudo após o trauma ou se é qualquer outra. Porque seria bom descobrir, claro se você quiser! – ela diz e acho uma boa ideia, mas não agora, mais tarde, eu estou precisando ficar sozinho um pouco.

__ Pode ser mais tarde? Agora eu preciso ficar sozinho, pensar e colocar a minha cabeça no lugar.

__ Claro, aqui está o meu cartão, pode me ligar se quiser.

__ Não tenho telefone moça, mas vocês vão ficar por aqui né?

__ Sim, agora não vamos sair daqui mais, e pode avisar quem você conhece que a consulta, tratamento e até mesmo cirurgias, é tudo gratuito aqui.

__ Sério? Não é pegadinha não né?

__ Claro que não, olha só fica aqui um pouquinho, eu já volto, vou buscar uma coisa sua.

Ela sai correndo e fico aqui com o meu filho e meus pais, eu gostei deles, mesmo eles querendo me abraçar, eles estão respeitando meu espaço, e não me forçando a lembrar deles... Mas adorei saber que tenho uma família que me ama, porque me procurar sem desistir é só com muito amor mesmo, e parece que tirei a sorte grande na escolha de esposa, porque ela quem começou a procura, ela me ama, e por mais que esteja controlando a vontade de me abraçar ou beijar, consigo ver que ela me ama. Eu não sei como eu sei disso, mas eu me senti amado. Até porque senão fosse, ela não estaria aqui não é? E o bebê eu já o amo sem nem me dar o trabalho, porque foi natural, e instantâneo. Como pode?

Ela demorou para voltar e quando veio, seus olhos estavam vermelhos, com certeza ela chorou. E não gosto disso. Não quero ver ela sofrendo! Cheguei perto dela e a abracei, eu não sei porque fiz isso, mas eu queria confortar ela. E ela cabe perfeitamente no meu abraço. Seu cheiro é divino, e ela está soluçando agora. Não falamos nada, apenas deixei ela soltar o que estava segurando desde que me viu. – olho para os lados e meus pais não estão mais aqui, eles nos deram privacidade, eles sabem o lugar deles na minha vida, e não tem problema se eu não lembrar hoje, porque eles vão esperar por mim. Mas a minha esposa talvez não tenha tanta paciência, já que ela está há quinze meses me procurando.

__ Não chora Giulia...- digo e ela chora mais.

__ Eu nunca acreditei que estava morto James, eu te amo tanto, eu sofri muito amor, a minha vida não fazia sentido sem você querido, eu não sei, me desculpa, eu estava com tanta saudade, desculpa... – ela sai do meu abraço e me sinto vazio.

__ Eu imagino que deve ter sofrido. Me desculpa esquecer de você.

__ Ah não tem problema, eu estou feliz por ter te encontrado, isso é mais do que eu poderia pedir. Estou feliz amor, as memórias podemos refazer se você quiser. Se ainda me quiser, eu quero você de qualquer jeito. Com ou sem memória, mas eu só quero você! – as lágrimas dela caem grossas no rosto. E como ela é linda.

__ Sou sortudo então...- digo enxugando as lágrimas do rosto dela com o meu polegar.

__ Você é James, eu jamais deixaria você em paz, eu iria te procurar pra sempre. Mas meu coração doía demais quando eu não encontrava, eu não queria desistir, não era uma opção, mas eu precisava seguir em frente pelo nosso bebê.

__ Eu entendo, obrigada por não desistir de mim, agora só peço mais um pouco de paciência, tá bom?

__ Eu sou muito paciente! – Ela ri e seus dentes são brilhantes. As lágrimas caem e ela enxuga com as costas da mão. E diz: __ Eu te amo, e você está muito lindo.

__ Obrigado, Giulia mas me diz o que foi buscar pra mim? – mudo de assunto.

__ Ah é verdade, eu havia esquecido... – ela pegou uma mala preta de rodinhas e disse: __ Aqui dentro tem todos os seus diários. Desculpa eu precisei invadir a sua privacidade, eu tive que ler para poder saber o que você estava pensando, e não imaginei que eu iria ganhar esse navio todo equipado para realizar o nosso sonho, foi você quem fez tudo isso, era uma surpresa pra mim e eu amei, e só por isso eu consegui vir ao seu encontro, mas quando você ler, vai entender sobre nós dois, quando tudo começou, e como... Também vai saber o quanto era bom em ser neurocirurgião, aí dentro tem tudo o que precisa saber sobre você.

__ Eu escrevia em um diário? Uau! - estou realmente impressionado, porque continuo fazendo isso.

__ Sim, e graças e ele, hoje você vai se redescobrir. Ou se reinventar, você escolhe.

__ Obrigado, só que eu preciso ir mesmo. Mas eu volto tá bom?

__ Eu te espero, sempre vou te esperar!

Pego a mala e saio, eu não posso dizer a ela as mesmas coisas então não posso dar esperança. No momento não sinto nada por ela... além das minhas mãos suadas, pele arrepiada e coração acelerado. Mas isso não é um sentimento, e sim uma reação a presença dela. Não é? Talvez atração.

Cheguei na pensão que alugo, é um quartinho simples, com uma cama, pia, fogão e banheiro. Eu pago por mês, por isso trabalho com a pesca, porque ela dá um dinheiro, e posso ter esse quarto aqui. Não é muito, mas é o que posso pagar.

Entro e fecho a porta, mas antes de conseguir fazer isso, acontece o que vem sempre acontecendo, de uns dias pra cá, toda a vez que chego a filha da dona da pensão, vem ao meu encontro pra conversar, eu não gosto dela, porque ela é muito oferecida, mas sou educado, e não posso ser hostil, ou a dona daqui me expulsa. E só tem essa pensão na vila. Então eu coloco a mala pra dentro e fico ao lado de fora da porta esperando a pergunta:

__ Ei querido, você viu aquele barco grande? É diferente né? Será que vão ficar por aqui?

__ Ah sim, eles vão, é um navio e lá dentro é tipo um hospital marítimo, e as consultas lá são grátis se quiserem ir lá conhecer, podem ir. – falo já querendo que se vá.

__ Como sabe disso? – pergunta duvidando

__ A dona do navio me disse. – falo

__ É uma mulher? – pergunta com o queixo aberto.

__ Sim. – respondo apenas mas na minha cabeça continua, a mulher mais linda que já vi na vida. E é minha mulher. Ah sim eu sou casado.

__ Tá bom, então vou ir lá ver se é verdade. Tchau.

_ Tá.

Entro e fecho a porta com a chave, vai que ela desiste e tenta entrar aqui, eu meio que entendi agora o porquê nunca me senti atraído por ninguém aqui, é que meu coração já tinha dona, e era a mulher de olhos verdes dos meus sonhos, e por isso que instantaneamente quando a vi eu gostei dela. Achei maluca de início, por ter colocado seu filho nos meus braços, mas como ela sabia quem eu era, não teve medo de deixar o seu filho com o pai.

Sentei na cama, e abri a mala, e tinha muitos cadernos de capa dura, bem bonitos e cuidados. Cada caderno tem uma data, e em cima de cada um, tem uma dedicatória da Giulia para eu saber a ordem correta.

Peguei o de dois mil e doze, onde diz: “quando me conheceu”

E comecei a ler...

E eu chorei, porque eu não era só um louco apaixonado, mas eu era um perseguidor, e ela não correu de mim depois de ler isso. É ela me ama.

Li todos os diários que envolvia nós dois. Me perdi no tempo, porque olhei na janela, e vi que já era noite. Olhei o meu relógio na cabeceira da cama e constatei que já era dez e meia. Mas estou com fome, porque eu só tomei o café da manhã hoje e por não ter ido trabalhar não tenho janta. Aqui é assim, trabalha de dia para garantir o jantar.

Tomei um banho gelado de bacia, porque aqui não tem como ser quente a não ser que esquente a água no fogão, e como não tenho o que fazer só vai gastar muita lenha e aí fico sem, para cozinhar, mas graças por ser verão, então não é tão difícil.

Troquei de roupa, e saí pra ver se consigo jantar hoje e pagar amanhã, às vezes dá certo.

Estava caminhando na rua, perto da Doca, porque a vila aqui é só uma rua, quando eu a vi, na proa do navio. Linda, ela e o meu filho. Ela não me viu aqui, está falando baixinho com ele e rindo, ela parece feliz, será que é por minha causa? Fico parado olhando pra ela, acho que um bom tempo.

Vejo quando ela me vê e acena:

__ Ei James!! Boa noite, você está bem?

__ Assim eu estou, - falo me recompondo porque eu estava babando nela.

__ E você? – eu pergunto.

__ Melhor agora que te vi. Escuta você já jantou?

__ Ainda não, mas eu estava indo agora pra comprar. – minto, porque não tenho dinheiro, mas ela não precisa saber né?

__ Vem jantar comigo? Eu não jantei também, e hoje tem lasanha a bolonhesa a sua preferida! – ela disse e corrige: __ Quer dizer era a sua preferida uma vez.

__ Tudo bem, eu nunca comi por esse nome, mas eu aceito. Eu entro ali por baixo?

__ Sim, pode subir a porta está aberta, e vem até aqui em cima, estarei te esperando!

__ Tá bom. – graças a deus vou jantar, e não vou pagar, eu acho.

Entro no navio, e tem muitas pessoas andando de um lado para o outro. Estão vestidos com roupas de médicos, e outros com uniformes acho que são funcionários do navio, mas não vejo ninguém conhecido, acho que o atendimento ao público já encerrou, eu fiquei admirando aqui dentro e me perdi, acho que não sei como ir para a proa, então eu paro uma moça e pergunto:

__ Com licença moça, como eu faço para chegar na proa? A dona Giulia está me esperando...

__ Oh meu Deus doutor James, nossa o senhor está vivo? O senhor disse que a doutora Miller está esperando o senhor? Ah sim, é só me seguir. Nossa, ela tinha razão, o senhor está bem vivo. – ela fala sem parar, e achei engraçado...

__ É só ir reto depois que subir aqui – ela me mostra a saída e subo as escadas que ela indicou. E no final do corredor tem a linda mulher me esperando, com o meu filho em seu colo, ela continua em pé, mas na frente dela tem uma mesa redonda com quatro cadeiras e uma cadeirinha infantil ao lado. A mesa está com os pratos e talheres, mas ainda não tem a comida. Ela está vestindo uma roupa bem bonita, é um vestido bem comprido e nos pés tem uma sandália baixinha, os cabelos em um rabo de cavalo e a franja em frente, os olhos estão bem marcados, acho que tem maquiagem, o que a deixa ainda mais linda. Ela sorri pra mim e diz:

__ Oi, como você está? – ela pergunta me fazendo sair do transe que eu estava, com certeza eu estava a encarando porque ela está com as bochechas vermelhas. Gostei... Ela está tímida. Então vejo que já fiquei muito tempo em silêncio e respondo:

__ Ainda estou assimilando tudo o que li, mas pelo visto eu era muito apaixonada por você, inclusive eu era um perseguidor, quando você leu o diário você não me achou um doente? – pergunto querendo entender os motivos dela.

__ Não achei não, eu te perseguia também, nós ficamos nessa por uns três anos, eu por três e você cinco porque você me conhecia bem antes, eu era tão tímida quanto você, eu já te amava, mas tinha medo de dizer e você o mesmo, então éramos assim. – ela dá de ombros e continua: __ Mas não me respondeu, tirando isso tudo, você está bem? – insiste.

__ Eu estou sim, e você?

__ Estou ótima, pra falar a verdade, fazia tempo que eu não sorria tanto quanto hoje.

__ E qual o motivo da sua felicidade? – pergunto já sabendo da resposta.

__ Vocês dois! – ela aponta pra mim e o filho, ele está quietinho mexendo no colar dela. E então pergunto:

__ Posso pegar ele? – ela vem mais perto de mim e diz:

__ Você pode. Ele é seu! – e me entrega o bebê gordinho, que ao me ver abriu o sorriso banguela mais lindo que já vi, ele me dá os bracinhos e começa a dar gritinhos de felicidades, eu acho.

__ Uau, ele gosta de você, acho que sabe que é o Papai dele.

__ Eu gosto dele também, eu te achei doida hoje de manhã quando me deu ele, mas você confiou em mim, mesmo não me vendo há tanto tempo. Porque? – pergunto olhando para o bebê e brincando com os dedinhos dele.

__ Eu sempre confiei em você, e eu sabia que jamais machucaria seu filho.

__ Mas eu não sabia que ele era meu filho. Poderia ser um sequestrador, ou qualquer outro maníaco.

__ Você foi meu perseguidor por anos e nunca me fez nenhum mal, a não ser roubar o meu coração, mas me diz, em algum momento lá embaixo você pensou em machucar esse lindo bebê?

__ Nenhuma vez, mas não é esse o caso. Bem você estendeu o que eu quis dizer.

__ Sim eu entendo amor, mas eu conheço você, não era um estranho pra mim, é o pai, e o homem da minha vida, eu jamais daria ele para qualquer um segurar.

__ Tudo bem, você tem um ponto! – assumo porque ela está certa.

__ Obrigada, mas o que acha de sentar, logo o jantar será servido, estou apenas esperando seus pais. – ela diz e só agora percebi que não os vi no navio.

__ Onde eles estão? – pergunto

__ Foram pagar a promessa que fizeram a não sei quem, porque eles disseram quando saíram que demorariam, e eles se foram logo após o café da manhã. – ela diz e me preocupo e então pergunto:

__ Mas você não fica preocupada?

__ Eu fico, mas ela me enviou mensagem dizendo que está chegando daqui a pouco e pediu para esperar eles para jantar, eles tinham novidades.

__ Tudo bem, Giulia, eu posso te fazer uma pergunta?

__ Qualquer uma.

__ Lá em Manhattan eu sou bem de vida? Digo eu tenho dinheiro?

__ O que você acha?

__ Não sei, por isso estou perguntando.

__ Bem, você comprou esse navio e o equipou todo ele, acredito que deve ter gasto muito mais que uns duzentos bilhões de dólares. Então pra ter todo esse valor precisa no mínimo ser milionário né? – ela me convida para sentar e eu precisei mesmo porque minhas pernas chegaram a tremer.

__ Nossa! Eu não imaginava, achei que era só bem de vida, mas milionário ou bilionário nem passou na minha cabeça. – falo a verdade e continuo perguntando.

__ Então, escuta eu era bom na neurocirurgia mesmo?

__ O melhor James, era meu professor, e tenho certeza que as suas memórias vão voltar é só uma questão de tempo, e se familiarizar novamente com tudo o que conhecia antes do acidente, porque talvez é só uma amnésia temporária, onde o trauma bloqueou as suas recordações como forma de proteger o seu cérebro de uma lesão.

__ Isso acontece? É possível?

__ Ah sim, o nosso cérebro é o que manda no corpo todo, então ele pode ter apagado suas memórias antigas, para te ajudar. E só Deus sabe de todas as coisas. Eu realmente torço para que retorne, porque acredito eu, que não deve ser fácil, não saber quem é.

__ Isso não é fácil mesmo, é como uma tela em branco, não tem nada. É vazio.

__ Mas você gostou de saber quem é? Na vida real?

__ Eu gostei muito, sabe eu nunca gostei dessa vida aqui, não posso reclamar as pessoas aqui são acolhedoras, mas estava deslocado, a pobreza aqui é extrema, as pessoas não tem perspectiva de futuro, vivem um dia após o outro, não sonham em ter uma vida melhor, porque oque eles conhecem é isso aqui, não tem televisão, internet, luz e nem água encanada, a vida deles é isso, armazenar durante o dia para ter a noite, trabalhar, pescar ou caçar e vender para ter como comprar os mantimentos no mercadinho. Sou grato por ter sido resgatado por eles, mas nunca senti que eu pertencia a um lugar desses, e quando eu acordava depois dos sonhos que eu tinha com a minha vida anterior, eu ficava perdido, porque eu não sabia se era verdade, ou coisa que li em algum lugar. – desabafo com ela, porque ela me passa confiança. E vai me entender porque é uma neurocirurgiã.

__ E o que você pensa sobre mim? – ela pergunta e ainda não sei o que responder mas ela merece saber o que estou pensando.

__ Eu gostei da reação que o meu corpo teve ao ouvir a sua voz. Pela primeira vez em quinze meses eu me senti atraído por uma mulher, é como se meu coração soubesse que ele já tinha uma dona. Então se na tua cabecinha, tinha dúvidas que eu fiquei com alguém, pode ficar tranquila, eu nunca senti nem desejo de ter uma companhia feminina. E teve até um tempo que fiquei preocupado com a minha masculinidade, mas eu me dava prazer sozinho e nunca senti atração por homem, só que eu não sabia dizer porque o meu corpo não pedia outra mulher. – ela está sorrindo, e os dentes brancos estão quase todos à mostra, e ela é linda demais. E é minha!

__ Impressionada é pouco para o que estou nesse momento, mas estou muito feliz em saber disso, e também não tive ninguém enquanto eu estava a sua procura, meu coração, mente, corpo e alma é só teu. Sempre foi. E sempre será. James, e posso afirmar que é bem másculo.

__ Que bom, mas você se contentaria com um homem pela metade? – pergunto porque realmente é o que sou nesse momento.

__ Você é a minha metade James, e só de ter você novamente, eu estou muito feliz, as memórias se você não recuperar, por mim tudo bem, ainda somos jovens e podemos fazer novas, o meu amor por você não mudou, ele só aumenta a cada dia, e eu espero você me amar de novo, eu sou paciente, eu conquisto você todos os dias, a única coisa que eu jamais faria, é se você me pedisse, pra te esquecer, isso não é possível.

__ Eu não pediria algo assim. Mas um tempo para organizar meus pensamentos eu pediria. Aprender a ser o James.

__ Isso eu te dou, só não me peça o divórcio sem nem tentar me conhecer okay? Mas se tentar e não gostar de mim, me fala, eu vou entender, não vou te obrigar a ter uma vida infeliz comigo. Eu o amo, mas eu jamais te prenderia a mim por capricho! – ela diz e baixa o olhar. Deve ser difícil dizer isso.

__ Eu te agradeço por isso, mas me diz ele é sempre assim? – pergunto sobre o bebê que dormiu no meu colo sozinho, eu só coloquei ele deitado e apagou.

__ Assim como?

__ Calminho.

__ Sim, sempre foi ele adora uma bagunça também mas quando está de barriguinha cheia ele dorme bem.

__ Ele já jantou?

__ Sim, ele gosta de comer aqui, e eu estava dando papinha aquela hora que você me viu.

__ Legal, e me conte mais sobre ele?

__ Tá bom, ele nasceu no dia treze de julho, às nove e cinquenta da manhã, com três quilos e setecentos e cinquenta e sete gramas, com cinquenta e dois centímetros, meu parto foi normal, não sofri e nem ele, nasceu de quarenta e uma semanas, bem preguiçoso. Tudo no tempo dele. Não teve cólicas, dorme bem, mama no peito, e agora à pouco que comecei a dar papinhas. Ele gosta de banana, maçã, mingau de milho e suco de laranja. Ah e ele é muito risonho, ama seus pais de um jeito doido. E está com muita gana por causa dos dentes, e quer morder tudo. – ela conta e amo saber sobre ele, ser pai é bem legal.

__ Você gosta de ser mãe?

__ Eu amo, quando eu engravidei foi porque nós dois queríamos, mas eu não te falei que tinha tirado o meu dispositivo contraceptivo, porque eu queria te fazer uma surpresa quando eu engravidasse. E no dia que eu tinha preparado o jantar para te contar você precisou vir viajar!

__ Mas eu viajava com frequência?

__ Às vezes, porque os pacientes te amavam, eles achavam que você fazia milagres. – ela ri e continua falando: __ E nesse dia eu ia vir com você, mas as cirurgias dos pacientes agendados não podia esperar e eu era a sua substituta.

__ Então eu nem cheguei a saber do meu bebê?

__ Não...

Ela ia falar mais coisas só que o pessoal chegou trazendo as travessas de comida, e minha barriga roncou, eu estava tão entretido conversando que até tinha esquecido da minha fome. Mas agora eu lembrei de novo. Ela se levanta, pega o Lucca do meu colo e o coloca no carrinho que antes ele estava sentadinho jantando. Ela o tapou com uma mantinha porque tem uma brisa suave, pega o celular e diz:

A sua mãe mandou uma mensagem de voz só um pouquinho que vou escutar. Ela aperta play e a voz dela sai:

“Ei minha querida, pode jantar, desculpe avisar só agora, mas achamos um lugar muito romântico, e vamos passar a noite acampando tá bom? Amanhã eu te conto o que fizemos hoje, eu estou tão feliz agora que achei meu filho, que vou voltar a prestar atenção no meu marido, se não eu o perco. Beijos e boa noite. Amo vocês, beija meu netinho lindo por favor.”

O áudio acaba e ela sorrindo diz:

__ Ela está tão feliz, mesmo você não se lembrando dela, ela não se importa, o sorriso deles é imenso agora. E ela nunca deixou de prestar atenção no marido como ela disse, ela tem um ciúme do teu pai, ele é um coroa bonito, e se você ser que nem ele quando ficar coroa, aí eu também seria muito ciumenta, Claro só se nós estivermos juntos né? – ela diz e sorrio, mas não gosto quando ela diz SE estivermos juntos, será que ela pensa que não vou ficar com ela? Claro existe essa opção, mas não a estou considerando agora.

__ Mas chega de falar e vamos comer? Eu estou com fome James, e fica a vontade tá bom? É só eu e seu filho aqui. Quer que eu te sirva?

__ Você fazia isso?

__ Às vezes sim, e você também me servia. Éramos muito parceiros.

__ Tudo bem pode servir, por favor. Essa mesa está bem bonita. – digo olhando tudo bem colorido e cheio de opções de refeição. Acho que desde que moro aqui nunca tive uma refeição assim, e se tive não lembro.

__ Costumo comer muitas saladas. E a comida aqui é da minha governanta, ela é cozinheira de mão cheia, eu mandei equipar uma cozinha aqui só pra ela, porque a da navio é industrial e ela não gostava de cozinhar lá.

__ Legal, eu acho!

__ Você aqui é bem simples né? – ela pergunta.

__ Sim, o dinheiro é pouco, e preciso trabalhar o dia todo pra ganhar vinte francos. E não rende, porque tenho que comer e juntar dinheiro pra pagar o quarto que alugo, e não sobra pra nada. Essas roupas são doadas. Acho que é de um defunto. Sei lá. – ri e ela também. Então ela diz:

__ Eu trouxe tudo o que é seu, suas roupas, sapatos, documentos, produtos de higiene e seus cartões de crédito e debito, dinheiro e comprei um celular novo pra você e já está configurado porque acredito que o seu está no mar né? – ela diz e isso me anima, ela termina de servir o meu prato e fala: __ Eu tenho o péssimo hábito de falar demais quando estou com você, e estou tão feliz que não paro de tagarelar, ah eu servi tudo o que você gostava tá bom? Se não gostar agora, não precisa comer ok? – ela me entrega o prato e eu espero ela começar a comer também, daí eu digo quando dou a primeira garfada.

__ Uau isso é delicioso, como se chama? – aponto o que perguntei.

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