Por Você romance Capítulo 80

Apenas um desabafo...

Mônica Sampaio

Durante toda a minha vida, eu sempre perdi alguém e sempre que os perdia, eu me sentia como se um punhal atravessasse o peito, fazendo o meu coração sangrar. Foi assim com a minha mãe, que nos deixou ainda muito cedo. Eu tinha apenas quinze anos e mesmo sendo ainda tão jovem, tive que assumir as responsabilidades de um adulto dentro de casa. Foi assim com a minha irmã mais velha, que em um dia estava do meu lado, me dando o apoio de que eu precisava e no outro, me deixou sozinha, com um pai doente e uma bebê recém-nascida. Mas nenhuma dessas dores se comparava à dor de ver minha melhor amiga entre à vida e à morte. Quando conheci a Ana, tinha apenas seis anos de idade. Ela era novata no bairro e sua mãe trabalhava muito. Lembro-me que a minha mãe ficava com ela em minha casa, enquanto a Rose ia para o trabalho. Então, fomos criadas como irmãs. Nós estudamos na mesma escola, paqueramos os mesmos garotos na adolescência, comemos muitos chocolates durante a TPM, rimos e choramos juntas de muitas coisas e por muitas vezes. Ana é uma das pessoas mais importantes da minha vida. Ela foi a única pessoa que não me abandonou... até agora. E eu realmente espero que ela lute por ela, por mim e até mesmo pelo amor da sua vida. Sim, Ana, você tem muitos motivos para lutar e vencer. Por favor, volte logo para nós. Caminho pelo longo corredor branco, assim que as portas do elevador se abrem e encaro o lugar frio e impessoal. Pois é, estou saindo de mais uma visita no hospital que inevitavelmente me deixou abalada e confesso que não aguento mais vê-la naquele estado. Ana já sofreu tanto na vida, para ter que passar por mais essa. Seco a lágrima no canto do olho e quando chego a calçada, ergo a cabeça ao céu, encarando o seu azul infinito e pedindo a Deus que a ajude a sair de mais uma que a vida lhe aprontou. Fecho os meus olhos em uma prece silenciosa.

— Como você está? — ouço a voz do Marcos assim que me acomodo no seu carro.

— Levando — digo com um tom sério. Não sou de ficar me lamentando para ninguém. Não gosto de demostrar a minha fragilidade. Desde que me vi sozinha, tive que me virar sozinha, então aprendi a esconder as minhas dores do resto do mundo. Elas são minhas e somente minhas.

— Ela vai sair dessa, Mônica, você vai ver. — Ele diz depois de um tempo e continua me olhando. Eu assinto em concordância.

— Tenho certeza que sim. A Ana sempre foi uma lutadora. Ela sempre lutou a vida toda e não vai desistir. Não quando já está chegando na beira da praia — digo firme Ele dá um sorriso de lado. Esse maldito sorriso!

— Você é tão forte quanto ela! Eu admiro isso em vocês duas — diz com um orgulho contido. Tenho vontade de sorrir, mas mantenho a minha postura.

— Tivemos que aprender a ser fortes, Marcos. A vida nos levou a isso — ralho desviando o meu olhar do seu e viro-me para olhar pela janela do carro, encontrando a fachada do imponente hospital.

— Melhor irmos logo, Gisele deve estar me esperando — falo encerrando o assunto. Escuto o som da sua respiração, no mesmo instante que ele liga o carro e entra no trânsito.

Não vou negar. Marcos é um achado, mas eu não tenho a intenção de me envolver com alguém e nem assumir um compromisso sério, nem com ele e nem com ninguém. Carrego muita carga em meus ombros e como eu mencionei antes, as minhas dores são só minhas e não é justo dividi-las com outra pessoa. Por isso procuro me divertir da maneira que eu posso. É o meu jeito de me distrair e de fugir um pouco dos meus problemas, nem que seja só por algumas horas. O carro para em frente ao prédio da G & G Advogados e antes que eu consiga sair, ele me segura o meu braço e eu o olho, recebendo um selinho na boca em seguida. Lhe dou as costas e saio sem dizer uma palavra e sequer me dou ao trabalho de olhar para trás. Passo pelas portas largas de vidros escuros e observo o hall luxuoso, que exala um poderio atrativo e respiro fundo. É aqui que eu me sinto livre das minhas algemas. No meio dos problemas dos outros. Eu amo o meu trabalho e é através dele que eu luto e venço algumas batalhas, mesmo que essas batalhas não sejam minhas.

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