Por Você romance Capítulo 84

Ana Júlia

Passar trinta dias confinada dentro de um hospital não foi a coisa mais agradável do mundo, mas Luís fez questão de que eu ficasse cada minuto determinado pelo médico repousando, sem fazer exatamente nada, além de dormir. Minha perna já estava bem melhor e mesmo assim, o meu noivo exigia que eu andasse de cadeira de rodas para onde quer que eu fosse. Preferi não o contrariá-lo, pois não queria tirar dele a felicidade e o prazer de cuidar de mim pessoalmente. Meu noivo deixa a pequena mala ao lado da poltrona e se acomoda ao meu lado na cada, abraçando-me e beijando-me carinhosamente. Estamos aguardando o papel da minha alta médica. Na verdade, estou contando os minutos para chegar em casa. Minutos depois, o médico entra no quarto deixando as devidas recomendações, algumas receitas e uma indicação para um obstetra, para acompanhar minha gravidez. Não demora muito e eu finalmente estou fora do hospital. Caramba, nunca fiquei tão feliz em sentir o vento bater em meu rosto. Sentir o calor que vem do sol em minha pele e olhar a imensidão do céu azul. Tudo me faz crer que eu nasci de novo. Uma segunda chance para mim, e eu garanto que vou fazer valer cada dia de vida. Luís põe a mala no banco traseiro do carro. Em seguida, ele abre a porta do carona e me ajuda a me acomodar da maneira mais confortável possível. Depois guarda a cadeira dentro do porta-malas. Logo ele está acomodado ao banco do motorista, e antes de ligar o motor e de pegar o trânsito, beija-me rapidamente. Ele parece ainda mais feliz do que antes do acidente. É claro que isso tem muito a ver com essa gravidez inesperada. Luís está radiante e seu estado de espírito é até contagiante.

Eu nunca havia entrado em um consultório de obstetrícia antes e confesso que quando o carro parou em frente a clínica, me enchi de ansiedade e senti meu coração bater acelerado de antecipação. Meu noivo segurou a minha mão e nós entramos no prédio logo em seguida. Meus olhos percorrem o ambiente, de clima agradável. É tão calmo aqui e as suas cores suaves chegam a transmitir um pouco de paz. Depois de falarmos com a recepcionista, nos acomodamos em um dos sofás. Luís beijou a minha mão algumas vezes e notei que vez ou outra ela soltava o ar pela boca. Ele parecia nervoso e ao mesmo tempo ansioso e eu confesso que não estou menos do que isso. A paz acabou quando todos chegaram aqui.

— Chegamos a tempo? — Gisele pergunta soltando o ar com força.

— É claro que chegamos! A Ana jamais faria isso sem a sua melhor amiga ao seu lado. — Mônica rebate

— Aí é que você se engana, morena. O meu amigo ali, nunca faria tal coisa sem o amigão dele aqui. — Marcos se gaba e todos rimos.

— Senhorita Ana Júlia Falcão. — A assistente do médico anuncia e o tumulto estava feito. Pelo menos até o médico estragar a empolgação e barrar a entrada de todos em seu consultório. Eu pude ver a decepção estampada nos rostos dos nossos amigos, quando o médico só permitiu a entrada do pai, que entrou todo orgulhoso na sala, empurrando a cadeira de rodas. Luís me ajudou a deitar na cama e com muita atenção, assistiu o médico espalhar o gel gelado em minha barriga ainda plana. O choro emocionado veio quando ouvimos os primeiros batimentos cardíacos dos bebês. Ele segura forte a minha mão e sorriu, com os olhos molhados, contrariando o sorriso lindo em seus lábios. Os coraçõezinhos batiam com um ritmo acelerado, alegre e contagiante. A emoção maior foi ver aqueles dois pontinhos se mexendo naquela imagem escura e opaca. Não me conhece contive e também chorei. Confesso que ser mãe é algo que eu não imaginava acontecer tão cedo em minha vida. E hoje eu consigo entender por que a minha mãe deixou tudo por mim: sua família, o seu futuro, um grande amor. Tudo foi deixado para trás e tudo por mim. É um amor que não tem limites, que não tem medidas, que não tem tamanho. Esses pequenos pontos agora eram tudo para mim, e por eles eu sou capaz de tudo.

— Será que é um pontinho rosa e um azul? — Sou tirada dos meus devaneios quando escuto a pergunta de Luís ao meu lado. Eu o olho, confusa, mas os seus olhos estão fixos na tela do computador.

— Pontinho rosa e pontinho azul? — Dei uma risada da maneira como se referia ao termo menino e menina e ele sorri.

— Ainda é cedo para ver, senhor Luís. Sua esposa está perto de completar dez semanas. Mas na próxima, quem sabe? — Doutora Kyara disse mexendo o pequeno aparelho e o pressionando um pouco mais em minha barriga.

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