Por Você romance Capítulo 106

Ana Júlia

Estes dias não têm sido nada fáceis para mim. Para vocês terem uma ideia, eu estou imensa de gorda, apesar de meu marido dizer que estou linda e que continuo gostosa. Sei, me engana, que eu gosto! Estou me sentindo tão pesada, que uma baleia perderia para mim. A barriga está tão grande, que mal consigo ver os meus próprios pés, mas estou muito feliz e satisfeita com meu marido, com a minha vida e com a minha gravidez. Depois de ter completado seus nove meses, os bebês estão para lá de inquietos aqui dentro. Minha barriga faz ondas imensas, enquanto o papai conversa com eles e se diverte com os seus movimentos.

— Está chegando a hora, pontinhos! — Ele fala em um tom baixo, acariciando o barrigão. — Hoje vocês completam nove meses. Estão fazendo festa aí, né? Tô vendo. Também estamos fazendo festa aqui e ansiosos pela chegada de vocês — diz tão carinhoso que eu chego a me derreter. Luís levanta sua cabeça e olha para mim. Ele pisca um olho e sorri, depois volta o olhar para a barriga e cochicha com os pequenos. — Posso pedir um favor pra vocês? Não maltrata a mamãe, não, tá? Ajuda ela na hora do parto. Papai tem um coração mole, ele não aguenta ver a mamãe sofrer, combinado? — Aguarda, como se fosse receber uma resposta dos seus pontinhos. Quando ele termina de falar, sinto uma mexida mais forte e a barriga faz uma onda ainda mais alta. Eu não seguro uma boa gargalhada. — Valeu, pontinhos! Sabia que vocês entenderiam, o paizão aqui. — Fico boba ao ver que ele tomou aquele gesto como resposta. Ele beija a barriga e sorri, com os olhos marejados. Estamos resolvendo os últimos preparativos do quarto dos bebês; arrumando o guarda-roupas e a cômoda, uma babá eletrônica ficará entre os dois berços, sobre uma mesinha alta e o carrinhos de bebê duplo ficará bem próximo a porta. Observo maravilhada, o meu marido olhar as roupinhas coloridas, entes de arrumá-la em um cabide e pôr no móvel. Satisfeita eu pego a cesta de higiene pessoal dos nenéns e a ponho estrategicamente sobre a cômoda branca. E ainda tem alguns presentes de parentes e de amigos para organizar. Eu e Luís fizemos questão de arrumar cada detalhe juntos, nada de vovó, ou titia e nem mesmo a empregada. Mas ultimamente apenas ele está fazendo e faz questão de que eu o assista a pôr tudo em seu devido lugar. A sua empolgação é contagiante e em alguns momentos chega a me fazer rir. Enquanto arruma o quarto dos bebês, ele se delicia com cada momento, e chega até a fazer planos de escolas, viagens, jogos de futebol e até passeios de fim de tarde. Suspiro. Ele vai ser um paizão mesmo! Um que eu nunca tive, mas que eu sempre sonhei para os meus filhos.

Já é noite quando Luís me chama para o nosso quarto e faz a sua rotina dos últimos meses: contar histórias para os seus pontinhos — que digo de passagem, já deixaram de ser pontinhos faz muito tempo, mas ele insiste que eles serão sempre seus pontinhos cor-de-rosa e azul. A história da vez é O Patinho Feio. A rotina é a seguinte: tomar um banho morno, colocar uma roupa leve, jantar na cama, deitar na cama com travesseiros confortáveis nas costas, enquanto ele abre o livro e inicia a sua história. Segundo o papai Luís, estamos estimulando a rotina dos bebês e quem sou eu para contrariar um papai coruja?

— (...) Aí o patinho feio se tornou um belo e elegante cisne branco e encontrou o seu bando. — Ele olha para mim, coloca o dedo indicador em sua boca e faz um biquinho engraçado — Shiii! — Faz o som engraçado pedindo silêncio. — Acho que eles já dormiram. Viu como a barriga está quietinha? — pergunta como se me contasse um segredo. Eu apenas assinto lentamente e sorrio, achando lindo o seu lado todo cuidadoso de pai.

— Vi, sim. Você é um amor de pai, sabia? — falo em um tom baixo, imitando o seu gesto. Luís tem várias versões e eu sou apaixonada por todas elas. Tem o Luís empresário, aquele sério e carrancudo, o Luís marido, que é todo apaixonado, carinhoso, amante e confidente, mas o que eu sou apaixonada mesmo, arriada dos quatro pneus, é pelo Luís papai coruja.

— Acha mesmo que eu vou ser um bom pai? — Ele indaga, sentando-se ao meu lado na cama.

— Tá brincando? Você já é um bom pai, meu amor! — digo e ele dá um beijo cálido em minha mão.

— Obrigado, meu amor! Às vezes tenho medo de estragá-los, sabe? De ser exagerado demais...

— Bom, quanto a estragar, acho que você deveria maneirar um pouquinho... — Faço um gesto com os dedos indicador e polegar. — Porque você sabe o que eu acho daquele carro de controle remoto e do skate para Jonathan. E sem falar no iPhone para Cristal. Eles não têm nem idade...

— Nós já falamos sobre isso, amor. Cristal um dia pode precisar ligar para mim ou pra você.

— Amor, eles nem nasceram ainda. — E mais uma vez ele me faz calar com um beijo, que termina em sexo e que me faz dormir em seguida. É sempre assim quando tento argumentar a respeito de seus presentes exagerados.

***

— Hum! — gemi dolorosamente quando senti uma dor incômoda nas costas. Acendi a luz do abajur e vi que ainda era uma da madrugada. — Nossa! — sussurrei tentando me levantar. Sento-me no colchão e me levanto vagarosamente da cama e sigo para o banheiro, pesada feito uma pata, mas nem chego até lá, pois logo em seguida, sinto uma água quente escorrer por minhas pernas e em seguida uma pontada aguda na barriga me faz levar a mão ao ventre e eu volto toda desengonçada para a cama. — Amor? — chamo Luís, sacudindo o seu corpo na cama. — Amor, acorda. Acho que minha bolsa estourou. — Mal disse as palavras e Luís pulou da cama em um rompante. Exasperado, ele pega sua carteira, as chaves do carro e chega perto de mim.

— Respira, amor! — pede, fazendo os exercícios de respiração na minha frente. Calmamente, me arrasta para a porta do quarto e eu estanco na metade do caminho. Olho para o meu marido, espantada da cabeça aos pés. — O quê? —indaga exasperado. — O que foi, pequena? Não consegue andar, é isso?

— Se for para ir à maternidade com você vestido assim, prefiro ter os bebês em casa! — resmungo com um tom sério demais. Ele olha para única peça em seu corpo, uma cueca boxer preta e rolando os olhos, corre para dentro do closet e volta minutos depois, usando uma calça jeans e uma camiseta. Sinto as dores vindo com muita tensão e eu respiro e expiro por várias vezes.

— As bolsas. — diz voltando para dentro do closet e pega as bolsas dos bebês. — Pronto, amor, agora vamos.

Entrei na maternidade gemendo em dor e Luís estava quase se descabelando. Não demorou para que uma equipe de médicos caísse em cima de mim e logo eu estava na sala de parto.

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