Ana Júlia
Estes dias não têm sido nada fáceis para mim. Para vocês terem uma ideia, eu estou imensa de gorda, apesar de meu marido dizer que estou linda e que continuo gostosa. Sei, me engana, que eu gosto! Estou me sentindo tão pesada, que uma baleia perderia para mim. A barriga está tão grande, que mal consigo ver os meus próprios pés, mas estou muito feliz e satisfeita com meu marido, com a minha vida e com a minha gravidez. Depois de ter completado seus nove meses, os bebês estão para lá de inquietos aqui dentro. Minha barriga faz ondas imensas, enquanto o papai conversa com eles e se diverte com os seus movimentos.
— Está chegando a hora, pontinhos! — Ele fala em um tom baixo, acariciando o barrigão. — Hoje vocês completam nove meses. Estão fazendo festa aí, né? Tô vendo. Também estamos fazendo festa aqui e ansiosos pela chegada de vocês — diz tão carinhoso que eu chego a me derreter. Luís levanta sua cabeça e olha para mim. Ele pisca um olho e sorri, depois volta o olhar para a barriga e cochicha com os pequenos. — Posso pedir um favor pra vocês? Não maltrata a mamãe, não, tá? Ajuda ela na hora do parto. Papai tem um coração mole, ele não aguenta ver a mamãe sofrer, combinado? — Aguarda, como se fosse receber uma resposta dos seus pontinhos. Quando ele termina de falar, sinto uma mexida mais forte e a barriga faz uma onda ainda mais alta. Eu não seguro uma boa gargalhada. — Valeu, pontinhos! Sabia que vocês entenderiam, o paizão aqui. — Fico boba ao ver que ele tomou aquele gesto como resposta. Ele beija a barriga e sorri, com os olhos marejados. Estamos resolvendo os últimos preparativos do quarto dos bebês; arrumando o guarda-roupas e a cômoda, uma babá eletrônica ficará entre os dois berços, sobre uma mesinha alta e o carrinhos de bebê duplo ficará bem próximo a porta. Observo maravilhada, o meu marido olhar as roupinhas coloridas, entes de arrumá-la em um cabide e pôr no móvel. Satisfeita eu pego a cesta de higiene pessoal dos nenéns e a ponho estrategicamente sobre a cômoda branca. E ainda tem alguns presentes de parentes e de amigos para organizar. Eu e Luís fizemos questão de arrumar cada detalhe juntos, nada de vovó, ou titia e nem mesmo a empregada. Mas ultimamente apenas ele está fazendo e faz questão de que eu o assista a pôr tudo em seu devido lugar. A sua empolgação é contagiante e em alguns momentos chega a me fazer rir. Enquanto arruma o quarto dos bebês, ele se delicia com cada momento, e chega até a fazer planos de escolas, viagens, jogos de futebol e até passeios de fim de tarde. Suspiro. Ele vai ser um paizão mesmo! Um que eu nunca tive, mas que eu sempre sonhei para os meus filhos.
Já é noite quando Luís me chama para o nosso quarto e faz a sua rotina dos últimos meses: contar histórias para os seus pontinhos — que digo de passagem, já deixaram de ser pontinhos faz muito tempo, mas ele insiste que eles serão sempre seus pontinhos cor-de-rosa e azul. A história da vez é O Patinho Feio. A rotina é a seguinte: tomar um banho morno, colocar uma roupa leve, jantar na cama, deitar na cama com travesseiros confortáveis nas costas, enquanto ele abre o livro e inicia a sua história. Segundo o papai Luís, estamos estimulando a rotina dos bebês e quem sou eu para contrariar um papai coruja?
— (...) Aí o patinho feio se tornou um belo e elegante cisne branco e encontrou o seu bando. — Ele olha para mim, coloca o dedo indicador em sua boca e faz um biquinho engraçado — Shiii! — Faz o som engraçado pedindo silêncio. — Acho que eles já dormiram. Viu como a barriga está quietinha? — pergunta como se me contasse um segredo. Eu apenas assinto lentamente e sorrio, achando lindo o seu lado todo cuidadoso de pai.
— Vi, sim. Você é um amor de pai, sabia? — falo em um tom baixo, imitando o seu gesto. Luís tem várias versões e eu sou apaixonada por todas elas. Tem o Luís empresário, aquele sério e carrancudo, o Luís marido, que é todo apaixonado, carinhoso, amante e confidente, mas o que eu sou apaixonada mesmo, arriada dos quatro pneus, é pelo Luís papai coruja.
— Acha mesmo que eu vou ser um bom pai? — Ele indaga, sentando-se ao meu lado na cama.
— Tá brincando? Você já é um bom pai, meu amor! — digo e ele dá um beijo cálido em minha mão.
— Obrigado, meu amor! Às vezes tenho medo de estragá-los, sabe? De ser exagerado demais...
— Bom, quanto a estragar, acho que você deveria maneirar um pouquinho... — Faço um gesto com os dedos indicador e polegar. — Porque você sabe o que eu acho daquele carro de controle remoto e do skate para Jonathan. E sem falar no iPhone para Cristal. Eles não têm nem idade...
— Nós já falamos sobre isso, amor. Cristal um dia pode precisar ligar para mim ou pra você.
— Amor, eles nem nasceram ainda. — E mais uma vez ele me faz calar com um beijo, que termina em sexo e que me faz dormir em seguida. É sempre assim quando tento argumentar a respeito de seus presentes exagerados.
***
— Hum! — gemi dolorosamente quando senti uma dor incômoda nas costas. Acendi a luz do abajur e vi que ainda era uma da madrugada. — Nossa! — sussurrei tentando me levantar. Sento-me no colchão e me levanto vagarosamente da cama e sigo para o banheiro, pesada feito uma pata, mas nem chego até lá, pois logo em seguida, sinto uma água quente escorrer por minhas pernas e em seguida uma pontada aguda na barriga me faz levar a mão ao ventre e eu volto toda desengonçada para a cama. — Amor? — chamo Luís, sacudindo o seu corpo na cama. — Amor, acorda. Acho que minha bolsa estourou. — Mal disse as palavras e Luís pulou da cama em um rompante. Exasperado, ele pega sua carteira, as chaves do carro e chega perto de mim.
— Respira, amor! — pede, fazendo os exercícios de respiração na minha frente. Calmamente, me arrasta para a porta do quarto e eu estanco na metade do caminho. Olho para o meu marido, espantada da cabeça aos pés. — O quê? —indaga exasperado. — O que foi, pequena? Não consegue andar, é isso?
— Se for para ir à maternidade com você vestido assim, prefiro ter os bebês em casa! — resmungo com um tom sério demais. Ele olha para única peça em seu corpo, uma cueca boxer preta e rolando os olhos, corre para dentro do closet e volta minutos depois, usando uma calça jeans e uma camiseta. Sinto as dores vindo com muita tensão e eu respiro e expiro por várias vezes.
— As bolsas. — diz voltando para dentro do closet e pega as bolsas dos bebês. — Pronto, amor, agora vamos.
Entrei na maternidade gemendo em dor e Luís estava quase se descabelando. Não demorou para que uma equipe de médicos caísse em cima de mim e logo eu estava na sala de parto.
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