Volkon (Guerreiros Starianos Vol. 1) romance Capítulo 27

A nova bateria de exames estava para voltar. Elaine comeu pouco, mas comeu e ainda se via limitada ao quarto privativo, uma vez que para voltar ao seu alojamento precisava aguardar as novas implantações de segurança. Para ocupar sua cabeça, evitava perguntar sobre os traidores e o que Galak estava fazendo à respeito, mas perguntava pelo azulado toda vez que o via. Em sua visita, sentiu um mal estar terrível na barriga, mas os exames não mostraram nada de errado com seu ventre ou sua filha; o que a fazia ocupar seu tempo com tecnologia, livros e anotações. Quem sabe pudesse entender essa relação genética e, talvez, aplicar essa medida protetiva na situação de Volkon…

Uma batida na porta a fez levantar a cabeça, Áries adentrou o lugar e mostrou um sorriso, o cabelo solto e os chifres polidos. Era uma questão de orgulho para o Kalliur manter a boa aparência dos chifres e por se tratar de um amigo de Volkon, Elaine ficou mais que feliz com sua visita.

— Nos meus estudos sobre humanos, vi que é educado levar flores para os doente e os mortos. — Ele fechou a porta e mostrou um buquê com flores roxas e um formato de pétalas grossas. Uma planta Stariana, na qual ele com certeza julgou ser bonita. — Não que a humana esteja doente, ou para morrer, ou…

— Me dá as flores. — Elaine sorriu, Áries se livrou do desconcerto, se aproximou e entregou o buquê. — É muito gentil de sua parte, obrigada. — Ele observou a papelada em volta de sua cama e pegou um esboço com um desenho, onde demonstrava um exemplo de como era a reação Stariana e sensitiva na gestação.

— Estudando sobre o vínculo? — perguntou curioso.

Três dias haviam se passado desde que Elaine vira Volkon, não podendo vê-lo novamente, uma vez que deduziram que a aproximação da humana pode ter causado os efeitos sobre o alienígena. E por conta de seu estado, os efeitos foram negativos.

— É, eu não conseguia entender de forma especializada o vínculo com a parceira, e está mais difícil ainda entender o vínculo gestacional. É muita informação.

Ele se sentou ao seu lado na maca, ela pegou alguns papéis na mão para lhe dar espaço e o rabudo chifrudo notou que ela parecia ainda mais magra. É claro que ele se perguntou várias vezes como é que o amigo fez para caber num ser tão pequeno, mas ele sabia que tomaria uma surra se fizesse a pergunta abertamente. Talvez, com o amigo estando longe, ele pudesse fazer a pergunta para a humana, mas o assunto foi para algo mais interessante. Elaine ainda não entendia o vínculo, mas para Áries, este era o assunto mais simples dentre os dois.

— O vínculo é simples, humana. É intenso e bom. Ele existe e pronto.

— Não deve ser tão bom, Áries. Sabe o que aconteceu quando fui vê-lo, não sabe? — ela estava visivelmente preocupada — Tem que ter um jeito de fazer ele responder aos estímulos, de forma positiva. Se eu conseguir entender a genética de como meu bebê está agindo, talvez eu possa ajudar.

— Ele está bem. Se não piorou, já temos um avanço. — Áries tentou ser positivo. — Você só precisa se cuidar, pra ele saber que está tudo bem.

— Ele está desacordado e mutilado, acha que ele ainda sente alguma coisa? — ela abaixou os olhos, pegou mais um papel e anotou uma observação em cima de mais uma escrita, tentando não parecer desesperançosa.

— Ele só vai parar de sentir se morrer. — Elaine mirou Áries e deixou os papéis de lado. — Olha, humana, não dá pra explicar. O Vínculo não é todo uma genética. Ele é da raça, da espécie, do instinto e da vida.

— Do que está falando? É claro que dá pra explicar, tem todo um estudo por trás disso.

— E como você explica o vínculo amoroso dos humanos?

— Bom, quando nós temos reações que…

— Eu não estou falando de corpo, estudo ou resposta certa. Estou falando de sentimentos, como a fé humana. Qual a resposta a ciência tem para a fé humana?

— Bom, se tratando de religião a ciência tem uma contraposta muito específica que…

— Exatamente. — Elaine se calou, ainda sem entender. — Você ainda não percebeu que somos a mesma coisa? Somos a resposta que não existe. Os humanos amam, nós nos vinculamos. Mas é a mesma coisa. Você usa uma ciência para explicar o seu amor, nós usamos outra ciência para explicar o vínculo, mas sempre chega num ponto em que a ciência se perde. — A humana piscou, olhando o chifrudo de pele avermelhada falar como quem contava uma boa história para uma criança, tomando toda sua atenção. — Terráquea, nós sentimos a vida. Volkon sente a vida em seu ventre, e só. A ciência não diz o porquê nós sentimos, apenas sentimos. E com os humanos, está totalmente fora da realidade Stariana. Não é um vínculo comum, é intenso e territorial demais.

— Você está me dizendo que ele apenas sente? — Áries concordou — Mas… — Elaine se pareceu meio perdida, olhou para os papéis à sua frente e engoliu em seco. — Como eu vou trabalhar sem respostas?

— A resposta está aí o tempo todo. — Ela piscou, Áries se colocou mais perto e se aproximou, gentilmente levando a mão grande pra perto da humana e tocando o seu ventre. — Acredite, e só.

A visita de Áries lhe fez muito bem, a fez ficar pensativa, lhe fez comer mais e até passar a mão várias na barriga ainda magra. Áries, justo um Alienígena, lhe pediu para ter fé. Ela relaxou um pouco, jogou conversa fora e pensou nas palavras do amigo.

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