Meu CEO Mandão romance Capítulo 65

Minhas mãos ainda tremiam, o choro se dissipou em soluços quando cheguei na casa de Abby. Ela parecia preocupada. Muito preocupada, para ser sincera. 

— Você está bem? Chase me disse que começou de repente. Eu não entendi… ah, Annelise — ela se aproximou, largando a bolsa no sofá. Abby pegou meu braço e me conduziu para dentro da casa. — Eu… 

— Nem pense em dizer isso — repreendi. — É a última coisa que quero ouvir agora. — Eu cobri o rosto com as mãos e sentei no sofá. Abby colocou a mão no meu ombro e apertou, consolando-me. Meu peito apertou, como se alguém estivesse o esmagando. — Eu não sei por que fiz aquilo… eu… — ela sentou do meu lado. 

Abby foi me buscar no apartamento de Chase. Durante todo o trajeto eu não parava de chorar. Quando eu a fitava, percebia em seu rosto um olhar compassivo. Ela sabia que não ajudaria muito, mas a verdade é que eu estava bem melhor. 

— Como aconteceu? — Perguntou. Eu ergui o rosto, procurando o mínimo de dignidade que poderia ter, e olhei para ela. 

— Estou melhor. — Garanti. Ela fez que não com a cabeça. — Eu não quero conversar sobre isso. 

— Mas vamos conversar sobre isso, mesmo que não queira, porque você não está nada bem. Eu conheço você, Annelise. Você passou esse tempo todo ao lado dele sem ter um momento como esse, mas no primeiro instante em que fica sozinha com ele… — eu franzi a testa, a encarando. 

— Ele não fez nada, Abby. O Chase não fez nada. 

Ela pegou a minha mão e encontrou meus olhos, cravando os dela nos meus. Eu quase podia sentir o calor de seu olhar tocando a minha alma. 

— Anne… você sabe o que aconteceu. Você sabe o que o Chase fez… 

— Não… — ela entreabriu a boca, como se fosse falar alguma coisa, mas então, simplesmente se aproximou mais e envolveu meu corpo com um abraço. — Você acha que eu tô com medo dele? De o Chase tocar em mim? 

Ela não disse nada, então tomei seu silêncio como um sim. 

— Quando alguém sofre um trauma, isso fica gravado no corpo e na alma. — Ela descansou a cabeça no meu ombro. Nossos olhares se encontraram, meus olhos afundados nas lágrimas. — E o Chase… ele tentou forçá-la,  Anne. 

Eu pisquei, como se aquilo não fizesse sentido, como se não pudesse acreditar. Eu não queria acreditar, na verdade. O Chase não chegou a concluir o ato, mesmo assim o que fez doeu imensamente. Eu não podia deixar de pensar nisso, na dor que ele me causou, mas pensei que havia esquecido, porque eu não conseguia perceber que ainda sentia tanto a mágoa marcada no meu peito. Ele tentou me forçar e ponto. Nada mudaria isso, mas não é como se eu o odiasse, eu apenas não acreditava nisso também. E o preço por ignorar havia chegado. 

Nos dias em que fiquei com ele no hospital, não sentia nada parecido, nem mesmo quando me tocou. Naquele momento senti apenas prazer. Apenas isso. Eu não entendia como ou por que isso aconteceu. 

— Acha que tive um ataque de pânico? 

Quando o papai morreu, eu cheguei a ter alguns. Aconteciam de forma repentina e sem nenhum motivo, mas ao ser consultada por médicos, diziam apenas que eram ataques leves, eu não deveria me preocupar. Não era nada sério e se eu tentasse me acalmar, iriam passar. Eu nunca tive um ataque de pânico como esse, não com a mesma intensidade. Mas de alguma forma identifiquei Chase como perigo. E talvez meu corpo estivesse mesmo certo. Tudo o que aconteceu naquela noite deixou algo em mim. Eu fiquei marcada, mas pensava ter esquecido, ou ao menos deixado de lado. 

— Eu não sei, mas você viveu um trauma. Algo sério e… o Chase pode ter desencadeado isso ao tocá-la. — Uma lágrima escapou, tão pesada e dolorosa que todo o meu corpo parecia pesar menos. Minhas mãos ainda tremiam, e o suor escorria por minha testa. — Ele acha que causou isso. Acha que você precisa de um tempo antes de voltar para o apartamento. 

— Eu não sei se foi uma boa ideia — eu disse, encarando Abby. — Não sei se foi uma boa ideia ter ido com ele, entende? E se isso acontecer de novo? Ele ainda está machucado e… 

— Você é mais importante. Ele concorda com isso. Tire um tempo para si mesma. — Ela sugeriu. — Você se arrepende por tê-lo perdoado? 

— A gente ainda não conversou sobre… o 

— Estupro. — Abby falou por mim. — Se não enfrentar isso, nunca poderá se livrar do peso que vai carregar. Se o Chase ama mesmo você, então ele deve saber que o que fez vai persegui-lo por toda a vida. Ele tentou estuprá-la, Anne. Isso é sério, muito aliás. E… eu não sei o que devo dizer, porque você é minha irmã e quero que seja feliz, mas o Chase a ama, eu sei, e… — Abby fechou os olhos e respirou fundo, repentinamente exausta. — Só quando conversarem sobre isso poderão saber se podem ou não continuar. O Chase entenderá se você não conseguir. 

Abby estava certa. O Chase iria entender que eu precisava de um tempo para digerir tudo isso. Seria muito mais fácil entender o que aconteceu do que deixar de lado e fingir que aquilo nunca ocorreu. Se eu continuasse me forçando a acreditar que havia superado, poderia acontecer algo bem pior. 

A sensação de senti-lo tocando em mim era confusa, e eu odiei perceber que não gostava, porque não foi sua intenção causar nada disso. 

Abby levantou e andou na direção da cozinha. Ela pegou uma garrafa de vinho e duas taças. 

Levantei uma sobrancelha. 

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