O Egípcio romance Capítulo 47

Hassan

A tarde está agradável, um dia maravilhoso para se viver, mas Robert Sheller está morto.

Aos redores do corpo todos estão chorando. O sacerdote que preside o enterro diz palavras bonitas, mas ainda assim nada ameniza a dor.

Fotógrafos estão por perto, e fotos são tiradas.

Sinto a onda hostil na minha direção. Muitos olhos me medem, muitas pessoas cochicham, mas eu me preparei para isso. Acho até natural. A dor tinha que ser descarregada em alguém.

Por que não em mim, o criador dessa festa?

Ainda mais agora que eles souberam que Tarif armou todo o roubo e que ele era um amigo meu, uma pessoa de minha confiança.

Fora isso, eles me julgavam um covarde, pois eu não fiquei com eles até o fim.

O sacerdote fecha lentamente a Bíblia e baixa a cabeça em um momento de oração. As pessoas nessa hora começam a soluçar baixinho, agarradas uma às outras para apoio e força.

Sinto-me sozinho, de cabeça baixa e com meus olhos fechados, mesmo com os braços de Karina me envolvendo. A dor é aguda no meu peito, até a minha respiração fica irregular e instável.

A imagem de Robert na minha mente é forte, sempre sorridente, um homem cheio de vida. Lembro-me de como ele nos ajudou financeiramente, quando não éramos nada, apenas um hotel de quinta categoria.

O padre olha para cima finalizando sua oração e então começa a confortar as famílias, amigos que estão aqui para prestarem sua última homenagem.

As pessoas choram com acenos tristes e sombrios, reconhecendo a perda de um homem muito jovem para morrer, apenas 40 anos. Um homem que nunca mais veriam.

Meu coração bate forte. Levo as mãos aos olhos enquanto a realidade da situação faz minha cabeça doer. Tenho medo de desabar ali. Estou me segurando para não vir às lágrimas. A droga da impotência me assalta.

Aos poucos os enlutados se afastam lentamente para os seus carros. Olho friamente para Karina e digo seco para ela:

— Fique aqui.

Caminho lentamente até a viúva, que está agarrada ao seu filho pequeno, 4 anos. Seu rosto está pálido e abatido com a angústia. Eu posso ver o desespero em sua expressão. Seus olhos estão vermelhos, o rosto úmido. Ela não usa maquiagem. Está frágil ante a situação.

Quando ela vê a minha aproximação, sua expressão muda e ela me olha com sangue nos olhos.

Allah! Achei que estivesse preparado.

Mas eu estava preparado!

Perto dela, hesito brevemente, tentando colocar meus sentimentos em ordem. Quando finalmente consigo, digo com suavidade, tentando não carregar muito no meu sotaque e falar o mais correto possível:

— Meus sentimentos. Robert era uma pessoa maravilhosa. Um grande amigo, é uma perda muito grande…

Seus olhos não mudam, mesmo vendo o quanto estou triste e abalado com tudo isso.

— Quero que esse seu “amigo” pague, seja preso. Isso não trará Robert de volta, mas todos os culpados precisam ficar atrás das grades — ela me corta.

Eu aceno um sim, calado por um momento.

— Esse é o meu desejo também. Ele me traiu, a traição nunca triunfa. Porque, se triunfasse, ninguém mais ousaria chamá-la de traição. Tarif será preso, é uma questão de tempo.

Talvez ela tenha visto o mesmo sofrimento refletido em meus próprios olhos, pois sua expressão suaviza e ela se afasta.

As coisas não saíram tão ruins assim com ela, mas dentro de mim tudo está quebrado…

Não queria que Karina me visse desse jeito, esse foi o maior motivo de eu não a querer nesse momento ao meu lado. Não gosto de demonstrar minha fragilidade para as pessoas do meu convívio. Talvez por tanto tempo esconder o meu ódio pela minha madrasta, engoli meus desgostos, minhas tristezas. Demonstrando sempre frieza ante as situações.

Fecho a mão em punho e baixo a cabeça, em um momento de completa desolação.

— Hassan?

Karina

É nítido que Hassan está sofrendo, mas seus olhos se tornam frios quando ele olha para mim, como se ele estivesse bloqueando seu lado humano. Seu lado sofredor.

— O que acontece com você? Eu não te disse para esperar lá?

Fico quieta. Ele parece um animal ferido, e por isso sei que está predisposto a atacar. A seriedade de seu rosto demonstra que ele está nitidamente controlando as próprias emoções. Agora é uma máscara grosseira que esconde traumas, tristeza e com certeza aquilo que ele tanto quer esconder, fraqueza.

Pela primeira vez desde que cheguei a esse lugar desolador, me arrependo de ter vindo. Ele não parece agora uma vítima que precisa de consolo.

Eu tinha duas opções: podia ignorar sua arrogância e prepotência e fingir que aquilo não me atingia, e responderia com palavras calmas, motivadoras e reconfortantes. Ou ser eu mesma e demonstrar o meu desagrado.

Fiquei com a segunda opção.

— Não precisa me tratar assim!

— Realmente não, caso acatasse o que eu digo.

Eu ofego.

— Pensei que precisasse de algum conforto, ajuda.

Hassan me olha sem falas, não gostou de ver que suas emoções foram lidas por mim.

— Eu estou bem! Se eu precisasse de ajuda, teria te chamado e te dito.

Eu respiro fundo.

— Sim, deve estar bem mesmo. É claro! Transformou sua “dor” em energia para me atacar.

Hassan endurece sua servis.

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