O Egípcio romance Capítulo 64

Horas depois, a vibração do jato particular pousando é forte. Momentos mais tarde, fizemos uma aterrissagem tranquila; me arrepiei com o som dos freios.

No saguão do aeroporto no Cairo, ao lado de Hassan, me deparo com vários tipos diferentes de pessoas circulando.

Imóvel, olho para os egípcios. Homens com longas túnicas brancas caminham com o semblante fechado com ar arrogante.

Os funcionários do aeroporto, muito sérios, estão vestidos com uniformes beges. As mulheres, todas muito bem cobertas e usam um véu.

Não tem mulheres sozinhas transitando, as que estão sozinhas com certeza são turistas.

Hassan em nenhum momento me abraça. Ele só se mantém ao meu lado. Segundo ele, manifestar afeto com beijos e abraços em vias públicas é um ato de desrespeito. Assim como falar palavrão, beber ou tirar fotografias de locais não turísticos.

O Egito é um país de sensível tendência conservadora e muitas coisas que são comuns no meu país não são aceitas por aqui.

— Hassan.

O chamado fez meu marido virar-se. E um homem de pele bronzeada, da mesma idade de Hassan, vem em nossa direção. Ao lado dele, outro homem mais jovem, parece um servo. O homem mais velho exibe um largo sorriso no rosto.

— É meu primo, Ur — Hassan fala para mim.

Tão logo ele nos alcança, Hassan e ele se abraçam e se beijam. O servo fica ao lado de cabeça baixa. Eu seguro uma risada.

Não posso andar abraçada ao meu marido e ele pode beijar um homem.

Hassan fala com ele em árabe, acredito que ele esteja me apresentando. O homem, sem esboçar nenhum sorriso, se inclina.

— Prazer em conhecê-la — diz com seu inglês arrastado.

Sem sorrir, pois Hassan me orientou sobre isso, eu digo com a mesma seriedade:

— O prazer é meu.

Acho que por isso as mulheres cobrem seus rostos, se rirem ninguém sabe. Elas se tornam mulheres sem expressão. A visão apenas dos olhos é muito pouco para saber se elas estão rindo ou não, se estão sérias ou contentes.

Hassan e eu caminhamos lado a lado, seguindo seu primo para pegarmos nossa bagagem. Hassan indica as malas, e, com a ajuda deles, eles as retiram da esteira e as depositam no carrinho.

O servo começa a se afastar de nós empurrando o carrinho. Ur fala algo em árabe para Hassan.

— Vamos, habibi.

Então ele o segue, eu forço meus passos para acompanhá-los.

Recebo muitos olhares dos homens na minha direção depois que passo por eles. São tantos enquanto caminho usando meu caftan um pouco abaixo dos joelhos e meus cabelos loiros expostos, que começo a entender por que Hassan queria que eu me vestisse como as mulheres daqui — túnica comprida de cores claras para refletir o calor — e por que ele queria que eu cobrisse meus cabelos castanho-claros.

Um homem egípcio que passava me comeu com os olhos. Percorreu meu corpo com o olhar e exibiu um lascivo sorriso. Devolvi a ele um olhar gelado.

Deus! Que idiota!

Hassan olha o homem, os olhos dele ardem em fúria. Tanto é que o homem imediatamente muda sua postura. Uma turista talvez se lixaria em ser olhada, mas eu sou uma mulher casada. E tem mais, não com um homem qualquer.

Sou casada com um egípcio.

Hassan busca então meus olhos, em seu rosto uma carranca gigantesca. Sim, ele percebeu o quanto estou chamando atenção.

— Já sei, nem precisa falar — eu digo.

— Quando chegarmos lá, comprarei umas túnicas leves para você, e um lenço.

— Tudo bem — falo séria para ele.

— Decepcionada? — enquanto caminha, ele me pergunta, me lançando um olhar penetrante, os traços duros.

— Não, Hassan. Só não esperava chamar tanta atenção.

— Daqui por diante você ouve mais seu marido. Eu permiti que se vestisse assim para você sentir na pele isso — ele diz, daquele jeito arrogante.

— Hassan, não viemos aqui para brigar, não é? Estamos em uma lua de mel.

A expressão de Hassan não suaviza. Agarra a minha mão.

— Tudo bem — ele diz entre dentes e esconde sua fúria atrás dos óculos escuros.

Ele tinha me dito algo sobre eu me “esconder”, mas eu insisti em usar vestidos comportados como o caftan. Ele não me obrigou, mas insistiu. Eu, como sou turrona, não lhe dei ouvidos. E disse que meu vestido não tinha nada de mais. Ele me olhou por um tempo e saiu do quarto, acho que não quis se impor quando insisti, mas sabia que teria consequências, e pacientemente esperou por elas, mesmo sabendo que isso iria ferir seu ego masculino e eu passaria por todo esse constrangimento.

Sim, ele me deu uma lição.

As portas de vidro automáticas se abrem e pisamos no lado de fora. Imediatamente sinto o choque de temperatura. O ar está quente com o sol do meio-dia.

Um carro negro lustroso nos espera de portas abertas. É um sedã.

O primo dele ocupa o lugar na frente, ao lado do servo, que é o motorista, e Hassan e eu ficamos atrás.

A paisagem que percorremos é sem árvores, alguns pontos com palmeiras. Mas a paisagem que predomina é desértica, como se jogassem uma estrada no meio do deserto e depois construíssem casas e comércios ao redor. Sim, esse imenso deserto escaldante é o mundo de Hassan. Talvez por isso ele seja às vezes tão selvagem. Penso e relanceio o olhar para ele. Hassan está com sua cabeça voltada para a janela, olha tudo pensativo. Parece nostálgico.

Sei que ao mesmo tempo que é uma alegria ver seus familiares, também é difícil para ele, talvez ele esteja se condoendo por tudo que deixou para trás.

Hassan

Tomado pela emoção, desvio o olhar para a paisagem. Esse imenso deserto escaldante é o meu mundo. A nostalgia me faz soltar o ar. Estico as minhas pernas um pouco.

E pensar que meu pai deixou tudo isso para trás quando se engraçou com aquela ordinária.

Concentrei-me na paisagem familiar. Para outra pessoa, o deserto poderia ser um nada, algo monótono. Mas para mim é uma imensidão de belezas sem fim. Eu conheço cada pedacinho como a palma da minha mão.

Embora a família de meu pai tenha um outro palácio, o Ramal, lindo e exuberante, ficaremos no Saalan, onde nasci e cresci. Onde viveu a minha mãe quando era casada com meu pai. O próprio nome significa “Palácio da Paz”. Hoje moram minhas tias. A irmã de meu pai e o irmão dele com sua esposa. Meus primos com suas esposas e filhos pequenos, os quais eu não conheço, pois faz muito tempo que não visito o Egito.

Estou feliz. Karina finalmente conhecerá o meu eu. Sei que ela me entenderá com mais clareza. E vejo que ela tem se esforçado muito para ir de acordo com meus princípios.

Respiro fundo com esses pensamentos, me sinto mais relaxado, mais tranquilo. Busco os olhos de Karina. Ela estava me observando. Quando nossos olhos se encontram, ela sorri para mim. Eu sorrio em resposta e pego sua mão, e a levo aos lábios e deposito um beijo.

Karina

Foi uma hora e doze minutos dentro do carro até Guizé, a província do Cairo.

O motorista entra em uma estradinha ladeada por palmeiras. Mas sem construções, a única que tem é uma enorme cercada de verde.

Finalmente o verde!

Parece um oásis no deserto.

À medida que o carro se aproxima dos enormes portões, estes se abrem.

Passamos por um caminho cercado por palmeiras frondosas e outros portões são abertos e depois fechados, revelando uma linda construção branca com detalhes em amarelo-dourado.

Sim, é um lindo palácio, e parece ser muito antigo…

Um arrepio me percorre de medo, medo de que um dia Hassan queira morar ali. Olho para o meu marido, que me olha com um sorriso de orelha a orelha. Parece um menino.

— Lar, doce lar — Hassan diz, ainda sorrindo.

Os empregados, trajando calças e paletós brancos, estão alinhados na entrada, sorriem e se curvam em reverência quando Hassan salta do carro. Eu desço logo em seguida.

Deus! É bom esticar as pernas.

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