Sal, Pimenta e Amor(Completo) romance Capítulo 9

Claro que não havia necessidade de pânico. Eu podia ficar perfeitamente calma, nada demais ia acontecer. Exceto ter que me apresentar para o porteiro depois de saltar do uber, no que parecia ser um condomínio de casas gigantes e lindas. Eu só estava na área vip da cidade, não era nada demais.

– Você está dizendo então que é a namorada do senhor Alexander? – Perguntou o porteiro com um sorrisinho no canto dos lábios. Ele não parecia estar acreditando em bosta alguma do que eu dizia e ainda me encarava sem medo algum, porque eu certamente estava mais mal vestida do que ele. Então era justificável que eu parecesse mais uma mendiga do que uma namorada de um moço tão importante. Claro, né?

– Sim. O senhor poderia interfonar para ele e deixar eu entrar? – E o babaca do porteiro continuava me olhando! Claro! Eu sei que estava mal vestida, que não tinha trocado a minha maldita roupa de cozinheira e que meu cabelo devia estar parecendo uma nuvem preta na minha cabeça, mas isso era preconceito! Alexander não podia ter uma namorada tão estranha como eu? Por que não?

– É para já madame...? – Perguntou o porteiro rindo da minha cara e eu respondi entre dentes:

– Sara. – E ele concordou discando para a casa de Alexander.

Ele continuava me olhando como se esperasse que Alexander dissesse que eu não podia entrar, como se eu fosse uma aberração. E por um momento eu quase comecei a acreditar que talvez tivesse algum problema comigo e eu precisasse de um conserto. Respirei fundo e olhei o porteiro que parecia atônito:

– Sua namorada? Mesmo? – Toma porteiro! Dei um pequeno sorriso. Não acreditou em mim, merece sofrer agora! Quase comecei uma dancinha da vitória só para ele perceber que eu podia muito bem estar ali, mesmo que eu me sentisse um ser insignificante naquele monte de mansão. Mas normal. Tudo bem. Era por pouco tempo.

– Segue a rua até o final. É a última casa que você vai encontrar. – Disse o porteiro carrancudo agora que tinha tomado na cara. Dei um grande sorriso e concordei enquanto o agradecia e seguia em direção a casa do estimado senhor Alexander merecedor de uns socos.

Me senti um ser pequenino diante de casas tão grandes. Havia algumas meninas na rua e eu logo compreendi porque o porteiro não achou que eu talvez fosse namorada do Lorde Falcão. As meninas dali eram mais do que lindas! Eram tipo modelos! Os cabelos aos ventos, um monte de peito que só podia ser siliconado! Ou talvez eu que tivesse pouco mesmo.... Com roupa de ginástica, andando calmamente com uns cachorros minúsculos e suando ouro, porque, sinceramente, até o suor delas era mais bonito do que o meu!

Engoli em seco. Pare de se menosprezar Sara. É só um trato. Não é nada mais do que isso. Não é como se vocês fossem namorados de verdade.

Por um momento fiquei a pensar em Maquiavel. Parecia uma loucura eu começar a pensar em coisas do tipo enquanto caminhava. Mas eu nunca discordei de sua celebre frase: Os fins justificam os meios. Em busca de ser uma chef de uma cozinha, eu estava me submetendo a toda essa humilhação. Fingir que estou namorando quem nem conheço? É algo que nunca imaginei que teria que passar.

E ali estava eu passando por isso.

Talvez a sensação de estar passando por uma caminhada da vergonha estivesse ajudando nisso. Olhar mulheres muito bonitas, tentar entender porque Alexander me escolheu para essa loucura. Estaria eu no lugar certo no momento errado? Talvez fosse a explicação mais plausível para isso.

Rapidamente pude olhar onde o meu barquinho estava se metendo. Eu sabia o quão rico Alexander era, mas as proporções eram maiores do que eu imaginava! Uma casa – ou eu diria mansão? – Se estendia a minha frente. Havia um lindo jardim aberto na parte da frente – e aparentemente atrás da casa também. Por um momento fiquei a pensar se estava nos Estados Unidos, com casas sem muros, grandes e aconchegantes. Aparentemente sim. Ali era um pequeno pedaço dos Estados Unidos no Brasil.

Toquei a campainha com a mão tremendo, suando. Acalme-se Sara! É tudo parte de um trato! Você precisa encarar dessa forma, não?

– É a sua namorada, Ale? –Ouço uma voz feminina perguntando. Sinto que tenho o meu rosto ficando vermelho e agradeço por estar escuro para que ninguém perceba isso.

Com um susto gigantesco percebo Alexander abrindo a porta da casa e dando-me um daqueles sorrisos sugestivos que somente ele tem. Um sorriso de canto de lábios.

– Chuchu, você veio. – Comentou Alexander de maneira irônica, como se perguntasse nas entrelinhas se eu tinha pensado em desistir do nosso trato.

– Pois é... Eu vim. – Comentei com certo medo e vergonha. Alexander, no entanto, não parecia acanhado. Sua mão tocou a minha me puxando com intensidade na direção da sua casa. E, por um segundo, eu esqueci de tomar controle do meu corpo, deixando-me ser puxada.

Não consegui perceber muitos detalhes da casa. Rapidamente fui puxada para a sala, onde a família de Alexander estava reunida. Novamente, me senti excluída. Eles estavam tomando chá na sala e pareciam apenas estar me esperando.

– Essa é a Sara. Demorei para mostra-los e espero que vocês não a menosprezem, motivo pelo qual relutei em mostra-la. – Disse Alexander de maneira séria. O olhei. Vê-lo assim era no mínimo curioso. Olhei então sua família e, novamente, me senti um ser pequeno.

Havia o pai de Alexander, Frederico, que eu já tinha conhecido e que estava vestido da mesma maneira que antes. Ele pareceu me reconhecer, já que deu um sorriso de canto de lábios, ainda que sem falar nada. Já a mãe de Alexander era uma senhora muito observadora que parecia estar me observando por inteiro. Ela tinha os cabelos bem loiros e os olhos castanhos. Os lábios cheios pareciam com os de Alexander, mas se eu pudesse dizer, aparentemente era a única coisa que eles tinham em comum. E, por último, havia o que parecia ser a irmã de Alexander, uma jovem que aparentava ter por volta dos dezoito anos, de cabelos azuis presos em duas tranças e piercings pelo rosto. Os olhos eram da mesma cor inebriante de Alexander. Parecia alheia ao mundo e a família alheia a ela também.

– Prazer...... Sara. – Disse a mãe de Alexander tentando ser simpática. Ela parecia estar se esforçando para ser, ao menos, já que a carranca que ela fez após a frase parecia ser no mínimo memorável.

– Muito prazer Senhora. – Disse de modo acanhado. Mas rapidamente fui interrompida.

– Qualé, pai, mãe. Tamo atrapalhando o casal. Vamo embora? Já conhecemos a Sara. É um prazer Sara. – A jovem piscou para mim – Marcamos um almoço agora e tá tudo certo. – Disse a menina e eu quase sorri aliviada para ela, já que o ambiente tinha parecido ficar menos tenso após a frase dela, ao menos para mim.

– Isso é verdade, não é chuchu? – Perguntou Alexander tentando flertar, como se dissesse nas entrelinhas que eles estavam nos atrapalhando! E a minha mente pecaminosa acabou imaginando cenas, ou melhor, que tipo de cenas os pais dele estavam pensando e eu acabei corando ao mesmo tempo que retirava a minha mão da de Alexander.

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