A Babá Perfeita romance Capítulo 59

- Chloe?

- Eu preciso de um tempo, Max.

- Um tempo? - a voz dele sai por um fio - É claro, eu entendo.

- Tenho que digerir tudo isso o que eu acabei de ouvir, você entende? 

Max hesita por um momento. Parece querer dizer mais alguma coisa, mas, por fim, acaba optando pelo silêncio.

Eu gostaria que não fizesse isso. Independente do que seja, gostaria de ouvir o que ele tem a dizer.

Ele enfia as mãos outra vez nos bolsos da calça e desvia o olhar para o outro lado do quarto.

- É claro, eu entendo. Tudo bem, Chloe, me avise quando esse tempo acabar.

E dando meia volta em direção a porta, ele sai, me deixando sozinha.

Não demora muito, entre todas aquelas fotografias e porta retratos quebrados, minhas roupas dobradas sobre a cama, o choque que ainda me devasta, e eu percebo que posso ter tomado a atitude errada. Mas o que vou fazer? E se nunca mais conseguir levantar os olhos para Max, outra vez, sem me lembrar das decisões ruins que ele tomou um dia? Não quero ter que vivem assim. Não quero ter essa sombra sempre pairando entre nós. Uma nuvem negra, o prenúncio do céu prestes a desabar a qualquer momento.

Eu me encosto na cabeceira da cama, pernas cruzadas sobre o colchão, e deixo as lágrimas rolarem livres pelo meu rosto. Penso em minha mãe e no que ela me diria se estivesse aqui. Com certeza, algo sábio e decisivo como...

Você mesma não cometeu seus próprios erros tantas vezes, Chloe? E não teve sempre o perdão de quem mais magoou? Por que, agora, não consegue fazer o mesmo por alguém que precisa?

Por que? Por que eu não consigo? Por que é tão difícil perdoar quando achamos que, o mínimo que merecemos, é o perdão das outras pessoas? Penso em meu pai, que tantas vezes passou uma borracha em cima dos meus erros. Ele nunca se recusou em me dar uma segunda chance. Por que é tão difícil fazer o mesmo?

Cubro o rosto com as mãos. O choro sacode o meu corpo e logo estou soluçando em prantos. Sinto uma mão tocar o meu ombro. Ergo o rosto, mas não há mais ninguém além de mim dentro do quarto.

Um arrepio atravessa o meu corpo e o meu choro cessa. Um sentimento de paz me invade e a primeira coisa que me vem a cabeça é minha mãe, outra vez. Se ela estivesse viva, se estivesse aqui comigo hoje, com certeza estaria brava para cacete.

Eu pulo para fora da cama e atravesso o corredor como um maldito foguete. Com a respiração ofegante e passos determinados, empurro a porta do escritório. Não encontro Max lá dentro, somente Judith, que dá um pulo para trás ao me ver.

- Dio mio, que susto, menina! Quase me mata!

- Me desculpe, Jud - consigo sorrir. - Achei que o Max estivesse aqui.

- O Sr Lancaster saiu, agora a pouco - revela, inclinando a cabeça para o lado. -  Abigail me pediu para fazer a limpeza em seu lugar. Está tudo bem com você, Chloezita? Andou chorando?

-  Tudo bem agora - eu minto. - E Abigail, o que ela tem? - sei que não costuma delegar suas funções aos outros empregados, em especial as que envolvem o escritório do patrão, e isso me intriga.

Judith baixa o tom para um cochicho divertido.

- Ela disse que precisava resolver problemas pessoais. Saiu hoje cedo e ainda não voltou.

- Max sabe disso? - eu pergunto.

Jud pisca algumas vezes. Parece se dar conta, pela primeira vez, de que pode estar encrencando Abigail.

- Eu não sei. Acho que sim.

Eu sorrio para tranquilizá-la.

- Não é por nada, mas Abigail tem andado muito esquisita. E aquelas dores... eu me preocupo, Jud. Tenho medo que ela se sinta mal na rua.

- Você tem razão - a expressão de Judith se torna preocupada. - Ela parecia tão bem quando saiu... você sabe que eu não pensei direito a respeito? Ou teria pedido ao patrão para que Javier a acompanhasse.

- Javier não foi com ela?

Jud balança a cabeça em negativa.

- Ela não quis.

As palavras de Judith causam uma estranha inquietação dentro de mim. Não é de hoje que Abigail tem andado diferente.

- Max disse onde ia, Jud?

Ela nega com a cabeça novamente.

- Mi amore, os superpoderosos homens nunca dizem onde vão, nem quando, nem por que. Somos sempre nós que temos que segui-los na coleira.

Sua afirmação me diverte e eu esqueço, momentaneamente, da Sra Hayes.

- O que houve, Jud? Brigou com o Javier?

- Mais ou menos. É que, às vezes, os homens irritam. Na verdade, acho que eu ando precisando chutar o balde, soltar a franga, sabe como é?

Sua risada me contagia. Desta vez sou eu quem balanço a cabeça, concordando em gênero, número e grau. Os últimos meses para mim tem sido um constante vai e vem entre passear no céu e dar uma voltinha no inferno. É como andar na montanha russa, repetidas vezes, um sobe e desce ininterrupto.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: A Babá Perfeita