A Babá Perfeita romance Capítulo 65

Em choque, eu levo as mãos a barriga, onde há uma mancha de sangue crescendo em minha blusa. O que houve? O que está acontecendo? O que é isso? Pensamentos e perguntas infestam minha mente, como um enxame de abelhas zunindo. Eles me deixam tonta. Em um segundo eu estava lutando contra Judith e agora...

Mal consigo processar quando Max coloca Maisy no chão e vem correndo até mim. Parece andar em câmera lenta. Mas um segundo depois, já se encontra ao meu lado de joelhos, sacudindo com delicadeza os meus braços.

- Chloe! Chloe! Meu amor, você está bem? - a voz dele chega até os meus ouvidos, abafada.

- Ela está em choque - alguém grita e eu não reconheço essa voz.

Eu olho ao redor, aturdida. Depois me viro para Judith, deitada no chão, gorgolejando o próprio sangue. O transe passa e eu levo as duas mãos sobre o ferimento do lado esquerdo do seu abdômen. Minha pulsação acelera movida por uma forte carga de adrenalina. De repente, há uma pequena multidão se fechando sobre nós, enquanto eu pressiono o local onde a bala a atravessou. Mas é em vão. 

Quando as pálpebras de Judith se fecham, eu simplesmente sei que foi a última vez.

Fecho os olhos com força. Estou exausta e acabada. Contemplo minhas mãos cobertas pelo sangue de Judith sem nem ao menos saber como me sentir em relação a isso. De algum modo, o seu maior medo nunca, jamais, irá se tornar algo de concreto. 

Judith não foi para a prisão. Ela morreu enquanto eu tentava salvá-la.

- Por favor, se afastem  - uma voz feminina ordena, furando a barreira que se formou a nossa volta. Eu olho para trás, através do cerco de policiais, e vejo Lauren se aproximar com uma arma na mão. - Vasculhem o lugar! - ela grita para os homens ao nosso redor - Aquele Dixxie não pode ter ido longe.

Eu olho de Lauren para Max, atordoada.

- Lauren é uma policial?

Ele assente. Tira uma mecha de cabelo da frente do meu rosto antes de me ajudar a levantar. Nós caminhamos para longe de Judith e de todo aquele show de horrores, ao mesmo tempo em que Evie e Maisy vem correndo ao nosso encontro. 

Eu faço um esforço imenso para sorrir. Mas quando as duas se lançam sobre mim, enlaçando a minha cintura uma de cada lado, o meu sorriso se torna mais genuíno.

- Eu não menti quando disse que ela estava me ajudando a resolver um problema, menti? - Max diz ainda se referindo a Lauren. Ele leva os dedos a minha boca, onde está o pequeno machucado causado por Judith. O seu rosto se contrai de desagrado e a sua voz sai rouca. - Aquela maldita... me desculpe se eu não pude contar tudo a você, meu amor, e acabei colocando vocês em uma situação de perigo. Eu estava sob restrição.

- Restrição? - eu acaricio o cabelo das meninas, suavemente. - Vocês duas estão bem? - elas confirmam com a cabeça. - Ótimo. Eu quase morri de preocupação - sorrio.

- Restrição judicial - Max se explica, pegando Maisy no colo outra vez, quando a menina estende os braços para ele. - Eu ajudei Liv a forjar a própria morte para que ela fosse embora para bem longe daqui. Mas a polícia passou a me investigar, Chloe. Eu consegui obrigar os meios de comunicação a desvincular o meu nome de qualquer suspeita sobre a morte de Liv. Mesmo assim, recentemente, a detetive Spencer me procurou.

Spencer. Então esse era o verdadeiro sobrenome de Lauren.

- E o convenci de que era melhor cooperar do que acabar preso junto com ela - revela a detetive, se aproximando. - Como você está, Chloe?

Eu hesito e, por fim, acabo exalando um suspiro.

- Bem, eu acho.

- Foi um susto e tanto.

Tudo o que posso fazer é balançar a cabeça e concordar. Ainda não consigo acreditar que Lauren trabalha para a polícia. Nem que achei que ela e Max estivessem tendo um caso um com o outro. Além disso, não tenho forças nem palavras para explicar o que eu vivi naquele galpão. Nem o que eu senti. Todo o medo, a angústia e o desespero. Esfrego os pulsos ainda doloridos no local onde foram amarrados pelos bandidos, enquanto Lauren é chamada por um dos seus homens.

- Quero ver o meu pai - digo para Max, com uma súbita urgência e um aperto no peito. Ele me olha, sem entender. - Se eu tivesse morrido sem falar com ele, sem poder abraçá-lo e pedir desculpas por tudo o que eu já fiz! Preciso pedir perdão por tudo o que eu aprontei com ele, Max. Todas as decepções, as mágoas... - as palavras se apagam quando ele me beija de novo.

Eu estremeço. Um calor gostoso me envolve, toma conta de mim. Mas é um beijo leve demais, singelo demais. Nem de longe é o que eu preciso. Passo meus braços pelo seu pescoço e puxo Max para mim com tanta força que ele mal consegue respirar. Mas não se afasta. Nós ficamos assim por um longo tempo, nos beijando e confortando, até que as lágrimas irrompem dentro do meu peito e eu começo a chorar e soluçar ao mesmo tempo.

- Vai ficar tudo bem, agora, meu amor - ele promete, se afastando para olhar nos meus olhos, todo preocupado. - Meu Deus... eu fiquei louco, Chloe. Você tem ideia? Eu enlouqueci quando recebi aquela ligação da Liv, juro por Deus. Hoje quando deixei você no quarto para falar com Abigail, Lauren ligou e me pediu que fosse encontrá-la imediatamente. Carter ficou preocupado e quis vir junto, mas eu nunca deveria ter deixado você e as meninas sozinhas. Nunca. E não teria deixado se soubesse que...

Eu encolho os ombros, me sentindo uma idiota.

- Que eu iria cometer uma estupidez tão grande.

- Não, nada disso - ele esfrega os dedos na minha bochecha. O sorriso em seu rosto não é nada condescendente, mas cheio de amor e de carinho. - Não teria deixado se soubesse que Judith e Javier eram os cúmplices de Liv. Eles nos enganaram, meu amor. A culpa não é sua.

É possível que Max esteja certo. Talvez não seja exatamente minha culpa. Mas há um peso sobre os meus ombros que não me permite relaxar, que está me matando por dentro.

- Pensei que Abigail pudesse estar escondendo alguma coisa, Max - minha voz tremula ao admitir aquilo que vinha me sufocando. 

Eu espalmo as mãos em seu peito, sentindo o tecido da camisa entre os dedos. Preciso saber que ele é real, que está ali e que tudo aquilo não passou de um pesadelo terrível. Não sei de onde vem essa necessidade. Se do medo de quase ter morrido ou da consciência de que, se isso tivesse realmente acontecido, eu nunca teria a oportunidade de me redimir com as pessoas que tentaram, de alguma forma, me ajudar. Como meu pai e Abigail.

Ainda não sei como pude acreditar em pessoas como Mallory e Judith, mas elas me cegaram para tudo e para todos. Deus, como eu fui burra! As duas pessoas que julguei serem minhas melhores amigas me traíram, manipularam e enganaram.

- Abigail foi tão vítima quanto qualquer um de nós - Max reitera. - A Srta Hayes teve uma vida difícil, Chloe. Eu me preocupo com ela. Criou as meninas como se fossem seu sangue e eu sou muito grato a ela por isso.

- Eu sei. Quero falar com ela, mas não sei se vai me perdoar.

- Você vai descobrir que Abigail é uma mulher muito mais bondosa e compreensiva do que imagina.

Eu suspiro, enterrando a cabeça em seu pescoço só para sentir o seu cheiro. É maravilhoso. Deus, como eu sou viciada nele! Não me importo nem um pouco com o que os policiais presentes no local irão pensar. Tudo o que eu quero é pegar de Max todo consolo e conforto  que eu puder.

- Você está bem? - a voz de Evie me traz de volta a realidade. Eu quase me esqueci que ela estava ali ao nosso lado, de tão quietinha que estava. O seu olhar traz resquícios dos momentos terríveis que passou, mas a expressão assombrada vai deixando seu rosto pouco a pouco. - Eu fiquei com medo. No começo, quando minha mãe me procurou, eu achei que ela me amava e queria que ficássemos juntas - faz uma pausa, envergonhada, antes de olhar para Max. - Ela disse que você me odiava desde que eu nasci, porque não sou sua filha. Isso é verdade?

Max abre a boca, sem saber o que responder. Após um silêncio atordoado, ele me entrega Maisy, pegando a filha mais velha no colo. Evie não é muito maior do que a irmã, mas infinitamente mais velha em muitos sentidos. Hoje, isso só me fez amá-la e admirá-la mais. Percebi que ela é feita em camadas, e quanto mais vou retirando da superfície, mas vou conhecendo e gostando do que vejo por baixo. 

- Isso é mentira, Evie- Max nega com veemência. Pela forma convicta como responde a filha, imagino que não reste a ele mesmo a menor dúvida. - Eu sou seu único e verdadeiro pai e eu amo você. Me perdoe por ter demorado tanto para dizer isso, minha filha.

- Eu te amo, papai - ela o envolve com força pelo pescoço e eu vejo as lágrimas se acumularem no canto dos olhos de Max. A garotinha se vira para mim só um pouquinho, sem querer desgrudar do pai. - Eu queria ter te contado tudo. Me desculpe, Chloe. Judith me fez prometer.

- Eu sei disso agora. Não importa mais, tudo isso acabou, agora - eu prometo, procurando com os olhos Lauren, que parece ocupada transmitindo ordens para a sua equipe. - Eu já volto - digo antes de me afastar, carregando Maisy comigo. - Agente Spencer? É esse o seu nome, não é?

Lauren se vira para mim com um sorriso sagaz.

- Isso mesmo, Chloe. Como você está?

- Acho que me recuperando - a verdade é que ainda me sinto aturdida com a recente gama de informações que despejaram sobre mim essa noite, mas resolvo deixar isso de fora. Tenho assuntos mais urgentes para tratar agora. - E quanto a Liv e Javier? Foram capturados?

- Sim, apenas o Dixxie escapou. Mas é uma questão de tempo até o pegarmos.

- Você tem certeza?

- Chloe, você pode ficar sossegada.

Eu me pego querendo desesperadamente acreditar nela, mas custo a confiar. Dixxie é escorregadio. Não parece o tipo de cara que se deixa pegar fácil. Além disso, em nenhum momento, ele esteve conosco no galpão. Em nenhum momento, esta noite, eu cheguei a ver o seu rosto. De alguma forma, isso só faz crescer a tensão dentro de mim. 

Me faz imaginá-lo lá fora, vigiando nas sombras, sempre a espreita.

Eu afasto o mau pensamento, mudando Maisy de posição no colo.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: A Babá Perfeita