O Egípcio romance Capítulo 78

No dia seguinte, quando acordo, vejo o lado vazio na cama. Hassan já se levantou. Uma rosa e um bilhete estão no seu travesseiro. Escuto sons no banheiro.

Sorrindo, cheiro a flor e leio o bilhete.

Karina,

Com todas as fibras do meu ser, tenho um suspiro infinito de gratidão por haver te conhecido. Intenso e pleno de alegria, que se reflete em cada estrela e reverbera junto à imensidão do Universo.

Quando estamos juntos, no instante em que nossos lábios se unem, meu corpo sente um prazer infinito. Em sua alma encontro a minha própria alma um dia por mim esquecida.

Suas palavras fazem meu coração acelerar, inflar de alegria. Fico encantada com elas. Ele sai do banheiro de robe branco enxugando os cabelos. Eu sorrio para ele.

— Amei!

Ele senta ao meu lado na cama, e eu me sento. Nos abraçamos. Ele toma minha boca e me beija profundamente. Quando nos afastamos, ele diz:

— Hoje iremos jantar na casa dos Smiths.

— É aquele jantar que não fomos… — não completei a frase. Não tocamos mais no assunto “Helena”.

— Exatamente.

— Que horas está marcado?

— Oito horas, na casa deles.

— Está certo.

Ele beija as minhas mãos e se levanta da cama.

— Levanta. Eu preciso te levar.

Verdade, por isso ele levantou cedo.

— E o segurança, será que ele está aí para levar meu carro?

— Com certeza está.

— Puxa! Você tem uma segurança…

— Porque eles sabem que sou um patrão exigente e justo também.

— Preto no branco.

Hassan se senta.

— Com você tenho sido menos radical, tenho tentado ser cinza também.

Eu me emociono com as falas dele e o abraço.

— Nunca pensei que fosse ser cinza.

Hassan respira fundo abraçado a mim, então se afasta e diz sorrindo:

— Vamos? Estou morrendo de fome.

Eu sorrio.

— Você não jantou. Deve ser por isso.

— Verdade, por isso meu estômago está nas costas.

Eu rio.

Quarenta minutos mais tarde, eu já estava no trabalho. Hassan me deixou e o segurança veio atrás com meu carro e ficou plantado, em pé, dentro da loja. Quando deu nove e meia e as vendedoras começaram a chegar, ele deu um tempo e foi embora. Ana correu até a minha sala.

— Bom dia.

— Bom dia — digo sorrindo, cortando um molde em cima de uma mesa grande.

— E como foi ontem?

— Tudo resolvido. Meu marido é cinza, Ana.

— Cinza?

— Sim, quando conheci Hassan era tudo muito preto no branco. Mas, por causa das nossas diferenças culturais, ele tem se mostrado compreensivo. Tem arrumado alternativas para tudo dar certo entre nós.

— Eu vi o brutamontes que estava aí. Precisa mesmo de um segurança?

— É a forma que ele encontrou para solucionar o problema. São os caminhos alternativos para ele descansar. Sentir que estou segura. Poder ir trabalhar sem se preocupar comigo. Não acho ruim, não. Sabe o que cheguei a pensar? Que ele começaria a implicar com meu trabalho, que ele me proibiria de trabalhar.

— Mas isso seria muito radical!

Eu sorrio.

— Sim, mas para um árabe não. Eles são extremistas com suas mulheres. Eu compreendi muito Hassan depois que fui para o Egito. E sei o quanto ele está se esforçando para me ver feliz. Lá, as mulheres são como cordeirinhas, mansas, aceitam tudo, e ele esteve metade de sua vida convivendo com isso.

Ela suspira.

— Entendi. É, amiga, que bom que vocês estão resolvendo as coisas da melhor forma possível. Você tirou a sorte grande.

— Sim, cada vez mais acredito que sim. Mas dou créditos ao sentimento “amor”. O amor incondicional.

— Espero encontrar alguém assim — ela diz, pensativa.

— Espero que sim.

Cheguei em casa pouco depois das cinco. Tranquila, pude arrumar algumas gavetas no meu closet. Depois tomei um banho demorado — é claro que antes aqueci meu quarto com o ar-condicionado. Então, só de roupão, escolhi a roupa para esta noite.

Vestido, sem chance. Estava nevando lá fora. Então coloquei uma calça preta, grossa, de lã, uma blusa cinza de gola rolê colete de lã preta e uma linda parka vermelha. Botas de cano curto completam o traje.

Eu ainda fechava os botões, quando meu sexto sentido me alerta. Logo pude identificá-lo pelo grande espelho da cômoda. Hassan, parado no vão da porta, me analisando.

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