A Babá Perfeita romance Capítulo 15

Quando chego no topo da escada, para minha surpresa, o Sr Lancaster desapareceu. Oho para um lado e para o outro do corredor extenso da mansão, mas não existe o menor sinal dele. Caminho através do piso vinílico, cada vez mais curiosa, quando me deparo com a porta do seu escritório fechada. Ela só costuma estar assim quando o dono da casa está lá dentro.

Eu me aproximo e, respirando fundo, bato duas vezes.

- Entre.

Eu empurro a porta, tentando ficar alheia a sua voz grave e sensual e o emaranhado de emoções confusas que desperta em mim. Mais uma vez, está sentado sobre a mesa com uma postura relaxada, perna direita sobre a esquerda, os olhos azuis cálidos pousados suavemente em mim. Ao seu lado, há uma maçã intacta. Por trás daquela calmaria toda, no entanto, se esconde uma agitação. Sei disso pela forma como suas adoráveis sobrancelhas, negras e arqueadas, estão ligeiramente franzidas. Parece estar me sondando.

Oh, que loucura. Esse homem só pode ser doido, esta é a única explicação plausível. Me chamar daquele jeito lá em cima e, depois, me receber como se eu é quem devesse alguma coisa a ele. O Sr Lancaster está precisando de um bom analista. Ou ao menos alguém para lhe dizer umas boas verdades.

Com um suspiro pesado, cruzo os meus braços sobre o peito, mas notando que o vinco em sua testa se torna ainda mais profundo diante disso, solto os braços, deixando-o caídos ao lado do corpo. Ah, francamente. Convenhamos, eu odeio ser analisada. Mas odeio mais ainda me sentir reprimida. No entanto, nossa discussão da noite anterior ainda está bastante viva em mim. Os resultados foram quase catastróficos. Não quero perder as meninas. Especialmente agora que estamos criando um elo de confiança. Sinto que precisam de mim. E a verdade é que também, de alguma forma, sinto que preciso delas.

- O senhor gostaria de falar comigo? - pergunto, me sentindo deslocada no meio da sala, ainda mais do que na noite anterior, quando estive aqui pela primeira vez. Todas as coisas parecem em seu devido lugar. A estante lotada de livros, o carpete marrom e macio sob os meus pés e, é claro, a mesa de trabalho com o lap top, agora fechado.

Mesmo assim, sinto que falta alguma coisa. Olho em volta, tentando saber o que é, mas por mais que procure, não encontro. Ainda assim, a sensação não desaparece rápido. Ela apenas se esvai quando o Sr Lancaster escorrega para fora da mesa, avançando em minha direção com um sorriso hesitante que rouba a minha atenção. 

- Srta Henderson, quero saber se você tem planos para o final de semana - diz, parando a dois passos de mim, com a expressão ansiosa.

Eu olho para ele, o meu rosto passando de uma emoção a outra antes de a ficha realmente cair sobre a natureza da sua pergunta.

- Eu... bem, eu ia visitar meu pai amanhã, mas se o senhor precisa de mim... - balbucio, com raiva por não conseguir formular uma frase decente diante daqueles olhos sedutores.

- Ah, perdão. Não quero de jeito nenhum atrapalhar os seus planos, especialmente tão em cima da hora- abaixa a cabeça, envergonhado. - Mas, é claro, se você vier a aceitar o que vou lhe propor, eu ficaria feliz em compensá-la depois com uma outra folga- ele ergue uma única sobrancelha, com um sorriso suplicante que me faz derreter - Amanhã é o aniversário de Maisy e sei que ela adoraria ter a sua presença.

A notícia cai sobre mim como uma bomba nuclear. Eu abro a boca, chocada demais para dizer qualquer coisa. Quando enfim, reúno as palavras, elas não saem do jeito que deveriam.

- O aniversário de Maisy? - exclamo, causando um olhar de compaixão nele - Como eu... é impossível... como eu não soube disso?

Max Lancaster comprime os lábios, enfiando as mãos nos bolsos da calça.

- Culpa minha - confessa com um olhar arrependido. - Nós não comemoramos nos últimos dois anos. O aniversário de Maisy é também o aniversário da morte de sua mãe.

Eu não disfarço o sobressalto diante das suas palavras. Impossível acreditar no que acabei de ouvir... Deus, que coisa horrível! Se é algo grotesco demais para uma adulto digerir, imagina para uma criança aos cinco anos... Maisy deve ter ficado arrasada e com razão.

- No ano em que Liv partiu, nós decidimos não comemorar o aniversário de Maisy. No ano passado, Abigail e Judith fizeram um bolo algumas semanas depois - ele explica com o olhar triste e perdido.- Mas eu pedi a elas que não fizessem nada esse ano. Pedi que não comemorassem.

- Por que não? - pergunto, me arependendo logo em seguida. - Me desculpe. É claro que eu posso imaginar o seu sofrimento.

- O sofrimento das meninas, isso é  o que mais me machuca - ele me corrige e pigarreia, sem conseguir afastar a emoção da voz rouca. - Não importa se adiamos a data, a dor nos olhos de Maisy permanece lá quando ela sopra as velas.

O meu coração se quebra em pedacinhos. A imagem de Maisy diante de um bolo lembrando a morte da mãe acaba comigo para valer. Quando percebo, uma lágrima rola pelo meu rosto, quente e silenciosa. Ah droga, como sou estúpida! Nunca perguntei pelo aniversário das meninas. Agora percebo como sei pouco a respeito delas...

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