A Babá Perfeita romance Capítulo 38

Max e eu retornamos para o carro em silêncio.

Desta vez, não há ninguém do lado de fora com quem argumentar. Nenhuma ameaça. Ainda assim, parece centenas de vezes pior. Eu me sinto quebrada. Partida por dentro. Meu coração lateja, dolorido, enquanto penso em Mallory e tudo o que passamos juntas até chegar ali. Da infância alegre, divertida, a adolescência confusa que compartilhamos. Tanto sofrimento... perdas.

Eu expiro longamente. 

Por trás do volante, Max me encara sem dizer uma palavra. Seus olhos estão atentos sobre mim, concentrados. É como se eu fosse uma matéria muito difícil e Max Lancaster fosse um aluno exemplar, disposto a me entender minuciosamente.

Por fim, ele desiste e sua expressão estoura em uma careta de reprovação.

- Se você me disser que está com pena dela, eu vou ter que reconsiderar aquelas palmadas.

- Não é pena... é que... - suspiro alto, cobrindo o rosto com as palmas das mãos. - Talvez seja um pouco de pena, tá legal? Mas é difícil não sentir nada. Até outro dia, ela era a porra da minha melhor amiga.

- E agora?

- Agora está envolvida com um criminoso e chantageando milionários - eu digo as palavras com um aperto no coração. - Mas não consigo acreditar que ela seja a própria encarnação do mal. Não consigo.

- Chloe - ele murmura, pousando a mão na lateral do meu pescoço. Seu polegar acaricia a linha atrás da minha orelha, de cima a baixo, sem nenhuma pressa. - Não estou julgando você. É só que... toma cuidado. Ela não parecia nem um pouco arrependida do que fez. E tampouco preocupada.

Eu engulo em seco. Max está coberto de razão. Por que me preocupar com Mallory, quando ela obviamente não estava preocupada comigo.

Ainda assim, dói. Dói para caralho.

Eu me viro para ele, devagar, cruzando as pernas. Seus olhos estão presos em mim, mas um leve movimento das pálpebras indica que ficou mais atento. Elas agora estão baixas, pesadas. 

Minha respiração oscila. Meus lábios entreabrem, deixando escapar uma respiração ruidosa. Sem qualquer aviso, eu me inclino para frente e capturo a sua boca com a minha. 

Por um momento, Max ofega, de pura surpresa. Mas logo a mão livre agarra a minha cintura com firmeza. Ele me puxa contra si e eu não apresento qualquer objeção, mesmo quando ele me coloca sentada em seu colo. Minhas pernas se atrapalham na marcha, mas eu sequer me importo. Eu me mexo até encontrar uma melhor posição em suas coxas e ouço um gemido lamentoso quando pressiono sua ereção. 

Minha blusa escapa de dentro da calça. Max enfia a mão por baixo do tecido, roçando os dedos na minha pele. Um arrepio atravessa a minha coluna de cima a baixo. Puta merda.  Eu arquejo, passando minha perna direita para o outro lado do seu quadril. Montada nele, torno a agarrar sua boca com voracidade.

Max deixa escapar o auto controle. Enterra os dedos no meu cabelo, na altura da nuca, e puxa,  inclinando minha cabeça para trás. Passa a língua devagar na minha garganta, de baixo para cima, lambendo o meu queixo no caminho até a boca. Ao chegar no destino, ela invade minha boca com ferocidade, me deixando sem ar.

Sem pensar, levo os dedos até a barra do seu moletom. Ele se afasta para me dar passagem e eu arranco a peça pela sua cabeça. Ela voa para o banco de trás. Eu ataco os cabelos de Max com as mãos, enquanto minha boca faminta reivindica a sua.

Sua língua entra macia na minha boca. Eu gemo, ansiando por mais. Seu gosto doce, naquele toque molhado, me faz estremecer e arfar. Quando os dedos de Max encontram o fecho na parte de trás do sutiã, eu suspiro dentro da sua boca.

É o meu celular tocando que nos traz de volta a realidade. Quando nos separamos, meu coração está martelando, descontrolado.

Max passa as mãos pelos cabelos bagunçados e eu luto para recuperar o fôlego. Ele parece incrédulo, tentando entender o que aconteceu, enquanto eu tateio o celular dentro do bolso traseiro da calça, desligando o aparelho sem nem ao menos ver quem está me ligando.

Max respira fundo. O rosto está vermelho e  os lábios inchados. Seus olhos têm aquele brilho obsceno e pecaminoso, misturado a uma incerteza dolorida sobre o quanto disso é realmente verdade e o quanto não passa de um sonho.

Meu corpo palpita nos lugares mais inesperados. Entre as coxas, eu me sinto molhada, encharcada contra o tecido da calcinha. 

- Vamos embora. Precisamos voltar antes do dia clarear - sua voz sai rouca e ele pigarreia, me ajudando a descer do seu colo.

Eu volto para o meu  lugar com as pernas trêmulas feito gelatina. Que efeito esse desgraçado tem sobre mim!

Max termina de se recompor antes de dar a partida, entrando pela estrada deserta e pouco iluminada.

Eu olho pela janela, tratando de disfarçar o alvoroço que sinto. Engulo várias vezes, mas o gosto da sua saliva continua impregnado na minha boca. Minha língua parece inchada, quente e desejosa. Esfrego as mãos nas pernas da calça, tentando ocupá-las com algo que não sejam os seus cabelos macios entre os meus dedos.

Por trás do volante, Max também parece enfrentar algum tipo de inferno astral. Com o canto do olho, eu o vejo piscar algumas vezes e respirar fundo. Mas então, um barulho, parecido  com um ronco no motor, faz ele e eu nos entreolharmos, admirados. 

O ruído começa  fraco, mais aumenta conforme o veículo avança. E morre.

Eu olho para Max, em estado de pânico. 

- O que aconteceu? Por que paramos?

- Merda. Eu não sei - ele resmunga, girando a chave na ignição. - Não quer pegar.

- Então conserta logo isso.

- Eu? - me olha, surpreso, apontando com o polegar na direção da janela - Com certeza se eu soubesse como, estaria lá do lado de fora agora mesmo. Pode acreditar.

- Merda. Estou presa em um carro quebrado com o único homem no mundo que não suja as unhas de graxa...

Ok. Não era para isso ter saído pela minha boca, mas saiu. Foi como pensar em voz alta. Não é algo que a gente faça de caso pensado. 

Além disso, sei que não estou sendo razoável, mas um medo irracional me invade. Falta pelo menos duas horas para amanhecer, talvez mais, e a noite me provou quanta merda pode acontecer com um ser humano num curto espaço de tempo. Não duvidaria se um bêbado surgisse do nada para mijar na porta do carro. Ou um bando de prostitutas se juntasse para balançar o veículo até virá-lo de ponta cabeça.

Respira, Chloe. E não dê uma de maluca agora.

Max me encara, a expressão ofendida e cheia de mágoa. Eu ainda estou pensando se deveria ou não me desculpar, quando uma batida na janela me faz pular de susto no banco.

Meu coração quase sai pela boca.

Uma mulher acena do outro lado do vidro. Ela é jovem, cabelos louro platinados, e está mascando chiclete com a boca aberta.

- Olá, meus amores. Precisam de um quarto? - mexe as sobrancelhas, sugestivamente, e eu reviro os olhos sem nem tentar me conter. - Aqui - sorri, entregando um cartão para Max - Sou recepcionista no Montelair Hotel. Temos vagas, caso precisem. Esse é um lugar ruim para passar uma noite dentro de um carro, sabem? Mesmo que só algumas horas. A vizinhança não é das melhores.

Eu suspiro. Ah, meu Deus. Não tem como ficar pior. Tem?

- Os pombinhos deveriam aceitar a oferta- ela pisca um olho em cumplicidade e eu quero chorar.

A contar pelo seu comportamento, eu posso imaginar que tipo de espelunca deve ser o Montelair Hotel.  

Do tipo onde casais apressados arrancam as roupas um do outro antes mesmo de chegarem aos quartos.

E onde encontramos camisinhas espalhadas pelo chão do banheiro.

Para o meu desespero, eu pego Max considerando o cartão com uma atenção desnecessária. Ele só pode estar brincando!

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