A Babá Perfeita romance Capítulo 42

- O que aconteceu?

- Nada, por que?

Evie se aproxima com passinhos curtos e cautelosos.

Somos apenas nós duas, a manhã inteira,  em seu lindo quarto de princesa, todo decorado em tons pastéis. Enquanto isso, mais um  dia de inverno acontece do lado de fora das paredes.

A neve baixou e um solzinho fraco resolveu dar as caras. Evie e eu poderíamos estar nos divertindo a beça lá fora, mas a verdade é que  estamos, as duas, apreensivas demais para sequer pensar nisso.

Maisy foi para uma consulta com o pai mais cedo e ainda não retornou. Uma avaliação com uma nova profissional, muito recomendada, que eles ainda não haviam procurado.

Max parecia esperançoso quando saiu com a filha, horas antes. Eu também estava. Em vez disso, agora, estou morrendo por dentro, roendo as unhas em expectativa. Fui a responsável por enfiar a bendita ideia naquela cabeça dura. Tagarelei tanto a respeito todos os dias, nas últimas semanas, até que ele finalmente concordou em tentar.

- Bem, normalmente você não consegue fechar a boca - Evie bate os cílios com uma doçura que suas palavras desmentem. Oh garotinha atrevida! - Ainda está chateada pela nossa briga?

Eu abro um sorriso lento, pensando a respeito.

Ela e eu resolvemos nossas diferenças com pipoca e cobertura de chocolate na semana anterior. Demorou mais do que eu esperava, mas finalmente, consegui amansar a fera.

- Nós não brigamos - eu defendo, sentada no chão do quarto, enquanto penteio o cabelo de uma das suas bonecas. - Vamos dizer que você defendeu o seu ponto de vista com muita... força de vontade.

Evie franze a testa, sem se dar por satisfeita.

- Bom, a minha força de vontade fez você ficar com essa cara esquisita a semana inteira, sim ou não?

- Não.

Os lábios dela se contraem.

Ok. Como eu poderia explicar?

Por mais que Evie seja esperta, e até precoce, como poderia admitir para uma criança que estou apaixonada, mas seu maldito pai não dá a mínima para isso?

- É por causa do meu pai?

- Evie! - eu me engasgo.

- Só me responde, por favor. Você está chateada por que ele usou você e depois jogou fora como um brinquedo quebrado?

- Onde você aprende essas coisas? Juro por Deus que eu não...

- Você não deveria jurar em vão - a garotinha me adverte com um olhar de repreensão. Depois sorri, amenizando a expressão no rosto. - Jud é religiosa, sabe? Quase tudo o que sei sobre Deus é por causa dela.

- E o que você sabe sobre Deus?

Evie suspira, esfregando a ponta das sapatilhas verde menta no tapete felpudo.

- Que ele não quer ver você chorando assim.

Que droga.

O que eu digo agora?

Evie pode ser uma mala às vezes, mas parece que tem o dom de enxergar o fundo da minha alma.

- É complicado - eu coço a cabeça, desviando o olhar. - Não quero que você pense sobre essas coisas. Eu estou aqui, não estou? E não vou a lugar nenhum.

- Como vou saber? Você já foi uma vez.

- Mas não agora - eu nego com veemência. Diante do seu olhar desconfiado, tiro o celular do bolso da calça, desbloqueio o visor e entrego o aparelho para ela. - Olha só, estou tentando encontrar uma forma de ajudar a Maisy.

- A Maisy? Por que? - Evie pergunta, curiosa, pegando o celular da minha mão e lendo minha pesquisa.

Eu respiro fundo. Está na hora de ser honesta com ela.

- Evie, o que você sabe sobre o acidente da sua irmã?

Ela dá de ombros, parecendo confusa com as informações da matéria que eu andei estudando mais cedo. É sobre grandes traumas físicos na infância e as consequências que podem pedurar durante toda a vida.

- Muito pouco. Só que foi culpa do meu pai.

- Do seu pai? - eu pergunto, surpresa. - Por que? O que aconteceu?

- Eu não sei - ela dá de ombros outra vez. - Eu era muito pequena.

- Quem te disse que foi culpa do seu pai?

Evie aperta os lábios um contra o outro, enquanto aguardo uma resposta.

- Ninguém -desconversa, mas de jeito nenhum está dizendo a verdade. - Eu só acho que foi.

- E foi por isso que a Evie parou de falar?

Ela pensa um pouco.

- Sim. Bom, é o que eu acho. Eu já disse que não me lembro.

- Quem estava dirigindo o carro, você sabe? - pergunto e Evie me olha como se nunca tivesse pensado a respeito antes. - Esquece. Vou dar um jeito de descobrir. E então nós vamos consertar isso.

- Consertar a Maisy? - a menina levanta as sobrancelhas, perplexa com a ideia.

Eu rio baixinho.

- Não consertar de verdade, Evie. Nós vamos ajudá-la - ela parece reticente, nem um pouco animada, e isso me surpreende bastante. - Você não gostaria de ver a sua irmã falando outra vez?

Evie me encara com a testa franzida.

- Eu não sei se eu já ouvi a Maisy falando algum dia, Chloe.

- Ah - eu não tinha pensado por esse lado. Que estúpida. Estendo a mão, que a garotinha agarra prontamente, se aproximando até estar sentada no chão ao meu lado. Ela encosta a cabeça no meu ombro e emite um longo suspiro. - Não se preocupe. Vai ficar tudo bem.

- Você promete, Chloe?

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