Sal, Pimenta e Amor(Completo) romance Capítulo 47

Ale estava lindo quando se juntou ao meu lado. Estava com um terno azul muito bonito, os cabelos devidamente cortados – o que eu nunca seria capaz de fazer perfeitamente- todo penteado galantemente. Os olhos voltavam a se destacar no rosto másculo e para terminar toda a perfeição agoniante do homem em questão, ele ainda estava segurando um buquê de rosas, o que fez o meu coração se apertar todinho, porque eu julgava que era para mim e que Ale aparentemente tinha vindo para dizer algo para mim.

Agora já era tarde demais.

Engoli em seco voltando a atenção para Ana que ria abundantemente. Um riso tão louco que meus pelos se eriçaram de medo enquanto a voz dela se fazia presente no ambiente, retumbando forte:

– Agora está claro. Não precisa nem de resposta, Sara. Agora percebo como você conseguiu tudo o que conseguiu até agora. – E a mulher gargalhou novamente enxugando inclusive uma lágrima que caia do olho, de tanto que ela ria. – Que engraçado. Eu vim para matar uma, mas olha que bonitinho, eu vou matar três. O meu número da sorte. O dia do meu aniversário. Que maravilha! Só me faltava um cigarro numa hora dessas. – E a mulher gargalhou novamente enquanto eu via de soslaio o rosto de Alexander se contorcendo, ele não parecia nada satisfeito com o que ouvia.

– Se o problema é que você quer tudo o que a Sara conseguiu, Ana, não se preocupe. Eu posso dá-la isso. A gente finge que isso aqui nunca aconteceu e você tem minha palavra de que terá tudo o que quer. Só nos deixe viver. – Disse Alexander tentando chamar a voz da razão para Ana, mas, aparentemente, era algo que ela estava longe de voltar. A insanidade já havia a tomado por inteiro.

– Como é lindo ouvir você clamando por sua vida, chefinho. – Diz Ana e dá um galanteador sorriso ao mocetão. – Mas eu agora tenho um plano mais perfeito ainda. Escute, Escute. – A mulher passou a língua entre os lábios, como se estivesse se preparando para a notícia do século. O tempo só ia passando e minha agonia aumentando. A gente tinha que tentar alguma coisa, do contrário, os três sairiam dali mortos.

– Mas pense, chefinho. Se você me desse o que eu quero, eu só seria lembrada no mundo por ser uma reles cozinheira da Rede Falcão. Mas olha o que eu posso caso eu mate vocês três! – A mulher gargalhou. – Se eu mato vocês três serei marcada em toda a história, para sempre! Nunca esquecerão daquela que foi responsável pela morte de um dos herdeiros da Rede falcão, tampouco a sua namoradinha e essa outra desmiolada que não sei quem é, com cara de sonsa. – A mulher franziu o cenho, mas pareceu fazer Aninha acordar, voltando um olhar cheio de ódio na direção da mulher. – De qualquer forma, eu serei lembrada por isso! Quer coisa melhor, chefinho? – As pupilas dilatadas de Ana agora pareciam sonhadoras com essa hipótese ensandecida.

– Você diz ser conhecida por algo terrível como a morte, Ana? Você tem que ser reconhecida por algo bom, não algo ruim. – Diz Ale alarmado. Aparentemente, ele ainda não aceitou a ideia de que vai morrer nesse instante, muito embora isso já esteja tão claro para mim que eu só consigo esperar as horas derradeiras antes de que eu morra. Ainda assim, preciso tentar uma última cartada.

Nem Ale, tampouco Aninha merecem morrer por erros meu. Talvez eu realmente tenha feito errado, começado a vida de maneira completamente errada, comprando minha promoção com um noivado de mentirinha com Ale. Mas agora eu aprendi com meus erros. Agora sei que isso foi errado. E, de qualquer forma, foi eu que aceitei. O erro foi meu. Se há alguém que tem que pagar por tudo o que Ana diz que houve, esse alguém deve ser única e exclusivamente eu! Ninguém mais.

Eu não me perdoaria em nenhuma outra existência, se é que exista isso, se eles morressem por algo que é culpa minha! Por isso, decidi tentar.

– Ana, o seu problema é comigo. Única e exclusivamente. Ale e Aninha, deixe-os fugir. Não os mate. Se é com alguém que você tem que resolver algo, esse alguém sou eu. Não é mesmo? – Ana voltou a atenção para mim parecendo pensativa enquanto me olhava. Na mente dela parecia maquinar qualquer coisa que fosse, mas a agonia me tirava do sério e foi com muito susto que percebi que Ale tinha agarrado a minha mão apertado-a entre os dedos dele, enquanto falava logo em seguida:

– Eu não concordo com isso. Deixe só Aninha ir embora. Eu e Sara somos os culpados disso, Ana. Então faça conosco o que você quer e deixe Aninha fugir. De qualquer forma, se você pensar em só matar a Sara, eu vou intervir. Eu não vou fugir coisa alguma! Eu já errei muito na vida, já fiz muita besteira para querer fazer agora a coisa certa. E se a coisa certa é a Sara, essa coisa certa é a única importante para mim. – Ouço Ale falar com um brilho no olhar e isso me toca, mas logo volto a razão, pois sei o que Ale está fazendo e sei que isso é insano da parte dele, errado! Ele não pode querer algo assim! Ele está enlouquecendo!

– Calem-se! – Grita Ana visivelmente afetada por nossa falação. Ela então suspira enquanto fala: – Eu não estou nem aí quem fez o que ou não. Os três estão aqui agora na minha frente e eu vou matar os três. Simples assim. A começar por Sara, chefinho, para você ver como é bom ver quando alguém escolhe outro no seu lugar, como você fez comigo. – E Ana respirou fundo sorrindo. – Dê um passo para frente, Sara. – Ordenou.

Meu coração martelava no meu peito com a simples ideia de que tinha chegado a hora. Obriguei que Ale soltasse a minha mão, que ele ainda segurava e apertava visivelmente alterado e desesperado que fossemos morrer naquele momento. Mas eu não queria olhar os olhos tristonhos dele, não queria que ele percebesse que eu estava sofrendo, não queria que nossa despedida fossem só lágrimas e tristeza.

Muito embora as últimas despedidas que tivemos sempre fossem regradas desses componentes em excesso.

Ana também deu um passo para frente sorrindo. Então segurou a arma entre as duas mãos, parecendo se concentrar no que ia fazer, mirando em direção ao meu peito. Fiquei esperando o som que viria, mas Ana decidiu continuar minha tortura, falando:

– Sabe, eu vou guardar isso na minha memória para sempre, Sara. O dia que eu finalmente te derrotei. O dia que eu fiz você, sua vagabunda prodígio, de poucos anos e já tão conhecida, ir para debaixo da terra. Diga Adeus a sua amada, Ale. – E Ana mal terminou de dizer isso e eu ouvi o barulho tão característico de tiro, retumbando mais alto do que imaginei que seria, depois dos filmes que eu costumava ver.

E então tudo aconteceu rápido demais. Uma mão me empurrou para trás, me fazendo cair de bunda no chão. Arregalei os olhos ao ver Ale recebendo um tiro no meu lugar, mas, ao mesmo tempo, batendo na mão de Ana e retirando a arma da mão dela, a mesma que escorregou para um canto do restaurante próximo de mim. Assustada, só ouço Ale cambaleando na direção do chão e Aninha, para meu total susto entoando um grito de guerra indígena e pulando em cima de Ana. O meu susto foi tanto que parei de caminhar em direção a arma e passei a andar em direção de Ale, ele que já parecia uma mancha vermelha.

Aninha continuou espancando Ana e nunca pensei que ela fosse tão forte assim. A mulher ainda tentou dar um chute nela, mas Aninha imobilizou a mulher e passou a dar tapas e socos no rosto da mulher, batendo a cabeça da mesma no chão até que a mulher ficasse meio torpe. Por fim, ela deu um último soco que pareceu realmente colocar Ana para dormir enquanto eu só conseguia voltar minha atenção para Ale, estrebuchado no chão.

– Corre! Chama uma ambulância, Aninha! – Grito completamente assustada e mal termino de falar percebo que Aninha deu uma de flash saindo correndo para fora do restaurante. Volto minha atenção para Ale e a situação é pior do que uma tragédia. Meus olhos se enchem de lágrimas.

O buque de rosas que Ale estava segurando, pareceu se perder em pétalas ao redor dele, e acima da cabeça dele. O sangue que escapa de Alexander forma uma mancha vermelha no piso, aglomerando-se em formato ovóide ao redor dele, fazendo com que o desespero tome conta de mim. Preciso estancar enquanto uma ambulância não vem. Preciso salvar Ale. Não, ele não pode morrer! Não é possível.

– Chuchu, suas rosas vão ficar sujas de sangue, tire-as daqui. – Diz Ale. Segurei-me para não chorar ainda mais do que as lágrimas que já escorriam dos meus olhos. Não, Ale tinha que brincar até mesmo quando ele estava ali a morrer.

– Ale, pare de falar! – Digo, mas estou tentando não sorrir e chorar ao mesmo tempo. Pela minha tonalidade de voz, Ale dá um pequeno sorriso. Parece perceber isso. Ainda assim, não consigo segurar o quanto estou temendo que algo de ruim aconteça com ele. – Já volto. – Digo quando percebo que tenho uma ideia e saio então correndo e trazendo pisadas de sangue para a cozinha enquanto pego alguns panos de prato esterilizados que uso na cozinha trazendo-os correndo na direção de Ale. Preciso segurar o sangue que escorre. Preciso que ele não morra.

– Você não pode morrer, Ale. Por favor, faça esforço. Fique vivo. – Digo entre lágrimas, pois não sei se conseguirei aguentar a perda de Ale. Não, meu coração já foi completamente tomado por ele e sei que a dor já toma conta de mim. Ale, no entanto, volta a falar.

– Preciso falar então Sara. Eu tenho medo que seja tarde de...

– Não. Não vai ser tarde! – Grito já entre lágrimas. Logo me controlo, pois sei que preciso ficar calma. – Não vai ser tarde, Ale. Não diz isso. Você precisa ficar comigo. – Digo chorando e Ale abre os olhos esverdeados tomando conta do meu rosto entre lágrimas. Aperto a toalha sobre seu peito. Não posso deixa-lo que morra.

– Eu insisto, Sa. – Diz Ale e eu concordo meneando a cabeça. As lágrimas já alcançam meu queixo caindo copiosamente. – Eu preciso te pedir perdão por ser um babaca. – Ele diz e eu balanço a cabeça negando. Outrora eu pude achar isso dele, mas não agora. Não quando ele pulou na frente de uma bala por mim.

– Você não é um babaca. – Digo, o que ele ignora.

– Eu não devia ter pesquisado a sua vida, não devia ter feito isso com você. Mas você precisa entender que eu queria ajuda-la a conseguir o que tanto queria, como eu corri atrás do meu para ter, ao mesmo tempo que eu precisava arrumar uma pessoa em quem realmente confiar para propor algo assim. Por isso eu fiz isso, Sa. Por isso eu fui atrás de toda a sua vida. Mas sabe o que é a grande ironia da vida? – Eu neguei balançando a cabeça, ainda incomodada que Ale continuasse falando quando tanto sangue escapava dele.

– Ale, não precisa... – Mas ele continuava falando.

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