Lembranças das noites quentes de verão romance Capítulo 66

- Sou Sabrina. Você deve ser Yuna.

- Sou Yuna, dona da casa – ela fez questão de dizer – E filha mais velha.

- Eu... Sou a filha mais nova. – Sorri.

- Está com fome? – Do-Yoon perguntou-me.

Se eu estava com fome? Pensei que não estava, mas quando ouvi aquela frase percebi que sim, estava morta de fome.

E não tinha como tentar ser educada e dizer que não, pois corria o risco de desmaiar ali mesmo.

- Sim, estou com fome. – Falei.

- Vou preparar algo. – Ele disse.

- Não quero dar trabalho... Mas realmente estou com muita fome. E... Tem o bebê. – Tentei justificar.

Do-Yoon saiu por uma porta. Observei a sala pequena, com uma única janela de vidro. Tudo era branco, o que dava a impressão de ser mais amplo do que realmente era. Havia um sofá marrom num material que eu não conhecia, que era pequeno demais para duas pessoas, mas ao mesmo tempo grande para só uma. De frente para ele, um painel minimalista com uma televisão grande. A janela em vidro era coberta por cortinas bege com um voal claro por cima. Não eram blackout. Um móvel em madeira, que comportava uma espécie de sofá, ficava na outra parede. Era coberto por uma almofada que ocupava exatamente o espaço feito para ela, ornamentado por quatro almofadas, duas azuis turquesa e duas rosas chiclete. Uma mesa de centro baixa, da mesma cor dos móveis, completava a decoração. Não havia nada sobre ela e me intrigou o motivo de ficar ali, no caminho, sendo que não tinha utilidade.

- Vou lhe mostrar o seu quarto. – Disse Yuna enquanto se dirigia para uma porta fechada, branca.

A segui. Quando ela abriu, percebi duas camas de solteiro, uma ao lado da outra. Uma janela minúscula, coberta também por cortinas que não tapavam a claridade. Um roupeiro com quatro portas e uma mesa com um computador era o que tinha no espaço que era menor que o meu closet.

- Não tem banheiro? – Arqueei a sobrancelha.

Ela deu um meio sorriso:

- No corredor. Banheiro coletivo. Sabe o que é?

- No caso... Dividiremos?

- Não exatamente... No caso, “nós” dividiremos com você.

- Bem, você disse que era o “meu” quarto... Mas tem duas mini camas.

- Não são mini camas. São camas, porém em tamanho “solteiro”. Eu divido este quarto com minha mãe quando ela vem nos finais de semana que sua família a liberta da escravidão. Você tem a opção de dormir no sofá, caso esta cama não lhe agrade.

- Não... Não me entenda mal. Não quero fazer desfeita. Só... Nunca vi uma cama deste tamanho. Eu... Costumo ocupar um grande espaço no colchão.

- Em que mundo você vive, garota?

- Num mundo de ilusões... Mas acho que estou saindo dele. – Olhei tudo ao redor, tentando entender como sobreviveria com tão pouco espaço.

- Do-Yoon dorme no segundo quarto. O banheiro é no corredor. Passando ele tem a cozinha. Nos fundos, área de serviço e quintal. Poderá lavar suas roupas lá e estendê-las também, caso prefira secá-las o sol.

- Lavar roupas? – Estreitei os olhos, pensando em como se fazia aquilo.

Ela suspirou e olhou no relógio:

- Já é tarde. Você toma banho à noite?

Olhei-a sem entender ser era um convite, um pedido ou uma ordem.

- Eu... Bem... Poderia me mostrar onde fica o banheiro?

Ela passou pela porta e acompanhei-a, tentando imaginar como seria tomar um banho naquele lugar.

Assim que entrei no espaço que eles chamavam de banheiro, ela avisou:

- Toalhas limpas e secas ali – apontou – Deixei uma roupa para você dormir... Emprestada.

- Obrigada.

Assim que ela saiu, fechei a porta, me sentindo claustrofóbica num espaço tão pequeno e pouco arejado. Não era branco e sim em tons beges. O meu box era maior que o cômodo todo. Ou melhor, eu não tinha mais um box com chuveiro na casa Rockfeller. Então aquela era minha realidade.

Senti as lágrimas escorrendo dos meus olhos enquanto retirava a roupa e me dirigia para o chuveiro. Que vontade de gritar pela minha casa, pelas minhas coisas, por Charles.

Abri o registro e a água começou a descer em pequenos pingos, mais quente do que morna. Não tinha misturador, então certamente não havia possibilidade de controlar a temperatura. Olhei para cima e tentei entender como funcionava aquele pequeno chuveiro.

Meu coração batia intensamente e escorei-me na parede, espalhando sabonete líquido pelo meu corpo, as lágrimas misturando-se com os pingos de água. Toquei meu ventre e tentei tirar forças dali. Eu precisava superar tudo e vencer cada obstáculo. Por mim e principalmente por ela.

- Prometo que vai dar tudo certo, Melody. Vou me reerguer e quando você nascer, tudo estará no seu devido lugar. E serei uma boa mãe... Eu juro.

Não tinha como ser um banho demorado, pois eu não me sentia em casa ainda. Sequei-me e pus a roupa confortável que Yuna deixou-me.

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