Amor além do tempo romance Capítulo 24

Acordei cedo, acreditando que o Dilan iria vim me buscar pra fazermos algo juntos.

Eu ainda estava chateada por ele ter ido embora daquela forma, mas eu iria pra qualquer lugar que ele me chamasse, caso ele precisasse de ajuda.

Olhei no relógio e vi que já eram 08:30, e já havia passado da hora que ele costumava me buscar e achei melhor ir tomar o meu café da manhã.

Passei pela Recepção e vi apenas a Dandara.

- Cadê a Cris?

Dandara: Hoje ela só trabalha a tarde.

- Porquê? aconteceu alguma coisa?

Dandara: Não, é que ela só trabalha o dia inteiro quando a pousada está cheia, quando está tudo tranquilo, ela só trabalha meio período, como hoje.

- Entendi. Vamos merendar?

Dandara: Eu já merendei, o Dilan não vem?

- Acho que não. Eu até me arrumei pra sair com ele, pra resolver o que está faltando pra loja, mas depois de ontem, acho meio difícil ele querer vim aqui.

Dandara: Daqui a pouco a raiva dele passa.

- Ele nem deveria estar com raiva Dandara, ele errou e tem que assumir o erro dele.

Dandara: Isso é verdade.

Se você quiser, posso te dar as chaves da casa dele pra você ir lá conversar com ele.

- Não sei se devo fazer isso, não depois dele ter saído daqui ontem sem ter me ouvido.

Dandara: Mas alguém tem que ceder Kyra.

- Eu vou pensar, se eu mudar de ideia, eu venho aqui pegar as chaves com você.

Dandara: Ta certo. Agora vai merendar que já está ficando tarde.

Fui pra área goumert, e logo o seu Dário foi me servir.

Dário: Acho que alguém não acordou bem hoje.

- O Dilan sempre foi assim mimado?

Ele riu do que eu falei.

Dário: Digamos que por ele nunca ter olhado pra ninguém além da projeção que ele teve a vida toda de você, ele jamais precisou passar por situações como essa, de realmente se importar com o que alguém acha dele.

É como se a opinião do mundo não existisse, mas a partir do momento em que você chegou e mostrou que existem pessoas que tem sentimentos além dos dele, isso deu um choque de realidade nele que até então era desconhecido.

- Um homem daquele tamanho agindo como um menino birrento.

Ele voltou a rir.

Dário: Tenha um pouco de paciência com ele Kyra, o Dilan se fechou muito pra vida, então ele realmente é só um menino aprendendo a viver.

Ele me deu um beijo na testa e foi servir os outros hóspedes.

Fiquei pensando em tudo o que ele disse.

E eu também passei a vida projetando coisas com o Dilan, mas isso não fez de mim alguém que não se importasse com os sentimentos dos outros.

O nome disso pra mim é egoísmo.

Talvez fosse mesmo preciso eu ir conversar com ele, mas vou esperar a tarde chegar, pra eu não precisar enfrentar esse sol.

Depois que terminei de tomar meu café, voltei pro meu quarto, peguei o telefone e tentei mais uma vez falar com a minha vó.

Eu sabia que estava acontecendo algo, eu sentia, e eu só ficaria tranquila quando eu ouvisse a voz dela.

Vó: Oi Kyra, minha filha, como você está meu amor?

- Vó, eu é que pergunto pra senhora, tentei ligar várias vezes pra você, e eu estava entrando em desespero já.

Vó: Eu passei um tempo fora tentando resolver um grande problema minha filha.

- Conta pra mim vó, que problema é esse?

Vó: A muitos anos atrás, antes da sua mãe nascer, eu e seu vô trabalhávamos pra um homem, e em troca de serviço, ele nos deu essa casa pra morar, e nos dava o alimento necessário pra vivermos.

Certo dia, esse homem sumiu, e nunca mais apareceu, e a fazenda dele ficou abandonada, e foi o seu vô que cuidou do pasto, dos animais, até alguém da família aparecer.

Nós nos alimentávamos com o leite, ovos e com a colheita das frutas e verduras, e ainda tínhamos que alimentar os animais.

Vivemos assim por muito tempo, até que o filho desse homem apareceu, disse que o pai havia morrido, e que iria cuidar da fazenda a partir de então.

Foi uma época de bastante escassez pra gente, passamos muitas necessidades, e tudo ficou ainda pior quando engravidei da sua mãe.

Depois de um tempo, seu vó conseguiu um trabalho, e as coisas começaram a melhorar, depois de alguns anos o seu tio nasceu, e sua mãe me ajudava a cuidar dele enquanto eu lavava roupas pra ganhar um dinheirinho a mais.

Seu vô conseguiu se aposentar e logo depois morreu, e eu só consegui cuidar de tudo por aqui, porque passei a receber a aposentadoria dele.

Depois de um tempo, o filho que estava cuidando da fazenda também morreu, e apareceu agora um neto, ele tem mais ou menos a sua idade, e agora está cobrando na justiça o valor em dinheiro pelo tempo que utilizamos essa casa.

Falamos que foi o vô dele que havia nos dado essa casa, mas não temos como provar, pois a casa permanece no nome da família dele.

Ele nos deu três meses pra conseguir o valor de 200 mil reais, ou nós perderemos a casa.

A minha casa, onde eu passei as piores e melhores épocas da minha vida.

- Meu Deus vó, eu não acredito que ainda exista ser humano capaz de desabrigar uma família. Eu vou voltar vó, vou te ajudar a resolver isso, ninguém vai tirar a casa de você.

Vó: Não precisa vim minha filha, nada está perdido ainda, conseguimos um defensor público, e ainda temos uma chance.

- Você promete que vai me manter informada e vai me dizer se as coisas se complicarem por aí?

Vó: Prometo minha filha, mas não vai se preocupar com isso não, continue construindo a sua vidinha por aí, com um tempo, tudo se ajeita.

- Tudo bem vó, mas eu quero saber de tudo. Qualquer coisa eu volto.

Vó: Ta bom meu amor, a vó ama você. Que Deus te abençoe e te guarde.

- Amém vó.

Ela desligou, e eu senti um aperto no coração.

Eu nunca terei esse dinheiro pra ajudá-la, eu sei o quanto a minha vó ama aquele lugar, eu só espero que ela não perca essa casa.

Eu estava com um nó na garganta, e precisava pegar um pouco de ar, então eu saí da pousada e fui caminhando até o pier.

Sentei e fechei os meus olhos, tentando fazer com que o vento levasse embora todos os meus medos e problemas.

E então eu me permiti chorar, sem que ninguém pudesse ver a minha dor.

Depois de um longo tempo, decidi voltar pra pousada, almocei sozinha e agradeci por isso, pois eu não queria ter que forçar um sorriso sem sentir vontade.

Fui pro quarto, deitei na cama e pensei se deveria ou não falar sobre esse problema com o Dilan, afinal, corria um enorme risco de eu precisar ir ajudar a minha vó.

Achei melhor não. Isso não é um problema ainda, ela ainda tem chances de ficar com a casa, e se eu falar isso pro Dilan, ele vai ficar preocupado e não vai trabalhar direito, e isso atrapalharia o negócio dele.

Mas eu ainda precisava ter a conversa sobre a Cris.

Levantei da cama e fui até a recepção.

- Dandara, eu quero as chaves pra eu ir lá no Dilan.

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