- Campbell, meu rapaz – um homem bem mais velho que Declan se levanta de onde está sentado e vem em nossa direção com um sorriso genuíno no rosto.
O restaurante há alguns andares abaixo ainda no hotel, é enorme, as mesas dispostas em forma de circulo dá a ideia de intimidade e ao mesmo tempo distanciamento. As paredes cobertas por um papel de parede em cores de creme e dourado fazem com que se torne elegante e chique.
E bem no meio uma pista de dança com alguns casais dançando ao ritmo de uma música suave e lenta.
- Isaac, bom ver você – Declan o abraça batendo de leve em suas costas e eu sorrio olhando para a mesa próxima com um casal mais novo.
Volto o olhar para os dois e vejo quando Isaac se afasta dele e o olha franzindo a testa, uma leve preocupação estampada em seu rosto.
- Como você está menino?
- Estou bem – fico confusa pelo tom de voz sério e Declan olha para mim sorrindo e fingindo que nada aconteceu – Essa é Kalliope Jones, minha assistente....
- Muito prazer – estendo a mão e ele a pega sorrindo enormemente
- O prazer minha cara, é todo meu
- E minha namorada, só para que fique claro – Declan anuncia e eu fico vermelha sorrindo para um Isaac surpreso.
- Namorada?
- Sim – ele responde e puxa uma cadeira para mim. Me sento ainda sentindo minhas bochechas pegando fogo e apoio minha bolsa no colo.
Vejo quando Isaac olha de mim para Declan com uma expressão tensa e eu olho para Declan buscando alguma resposta. Mas é claro que só o que eu recebo é um sorriso de “não tem problema algum”.
Isaac se senta ainda nos observando e limpa a garganta antes de chamar um garçom para nós servir com vinho.
- Bom, tenho que dizer que fiquei surpreso quando recebi o seu convite – Isaac comenta mudando de assunto e eu vejo quando Declan expira aliviado ao meu lado.
- Sim, eu imaginei que ficaria
- Você sabe muito bem que não estou mais no ramo de construção
- Eu sei, mas o que eu estou pensando é em algo que talvez você se interesse – Declan bebericou um pouco do vinho e eu vejo o olhar de Isaac se iluminar com curiosidade.
Então Declan começa a explicar os pontos principais do seu plano de construção e eu o escuto ao mesmo tempo em que olho ao redor, observando as pessoas enquanto minha mente viaja para a conversa silenciosa que Declan e Isaac pareceram ter a minha frente.
Uma menina passa dançando com o pai sorrindo e eu não me contenho e sorrio de volta, mas volto o olhar quando vejo Isaac fazendo algumas perguntas a Declan.
- Esse projeto parece não ser muito seu, o que o inspirou?
- Digamos que foi alguém que me fez olhar de fora. Uma nova perspectiva
Declan olha para mim e eu sorrio levemente e sinto Isaac voltar o olhar para mim.
- Entendi. Bom, eu achei o plano excelente, mas preciso de algum tempo para confirmar minha resposta Campbell
- Achei que diria isso, por isso falei que iria ficar uma semana por aqui, tenho negócios a tratar também com o dono desse hotel
- Hunf, Marcos Petrov
- Não gosta dele? – eu pergunto depois de ver o olhar de chateação de Isaac
- Nem um pouco. Pense no homem mais arrogante e narcisista. Você terá um belo retrato dele.
Sorrio com sua descrição e o garçom se aproxima colocando o cardápio em nossas mãos.
- Mas porque precisa entrar em negociações com ele? – Isaac pergunta por cima do cardápio.
- Eu recentemente comprei um prédio na Filadélfia e inconvenientemente fica bem ao lado de um dos prédios dele.
- E o que você quer?
- Comprar e destruir aumentando o meu
Isaac se engasga com o vinho e eu arqueio a sobrancelha quando entendo o plano de Declan.
- Você nunca vai convencê-lo disso
- Eu não, mas a Kallie vai
- O que? – é a minha vez de engasgar só que com o ar mesmo, desvio o olhar de Isaac e olho para Declan com os olhos espantados – Porque acha que logo eu vou conseguir?
- Porque você convenceu o ex-dono do que agora é o meu prédio a diminuir o preço, e foi uma bela diminuição
- Tudo bem, mas isso não é o mesmo que convencer alguém a vender um prédio
- Pra mim é
Estreito os olhos para Declan mas só o que ele faz é voltar o olhar para o cardápio como se não tivesse dito nada.
- E não adianta olhar para mim como se fosse me matar a qualquer momento – ele ressalta e eu reviro os olhos
- Babaca
Isaac começa a rir ruidosamente do outro lado da mesa e só depois que consegue recuperar o ar é que ele fala com diversão brincando em sua fala.
- Agora entendi o seu plano, ela com certeza pode conseguir chegar perto da víbora
- Eu disse – Declan confirma e fazemos nossos pedidos.
Meia hora depois, com nossas barrigas satisfeitas e a conversa fluindo pacificamente em torno da mesa, Isaac se levanta e estende a mão apontando com a cabeça para a pista de dança.
- Me acompanha?
- Claro – eu respondo e pego sua mão estendida, um sorriso brinca nos lábios de Declan enquanto eu me levanto e sigo Isaac.
All of Me começa a tocar e eu sigo os passos suaves do meu companheiro de dança, sua mão circula minha cintura e nos movemos pelo salão, em silêncio, mas então Isaac fala em tom baixo enquanto me rodopia.
- Há quanto tempo trabalha para ele?
- Uns dois meses ou mais
- E começaram a namorar desde então?
- Ah não, isso é....- penso por um minuto e concluo com a voz distante – Recente
- Uhm. Me interessa que alguém tenha sido capaz de aguentar Declan por bastante tempo, principalmente trabalhando com ele.
Ele sorri amenizando o tom da conversa e eu devolvo o sorriso.
- Ele não é tão difícil assim, só quando cisma com alguma coisa
- Sei como é. Campbell sempre tem o que quer, na maioria das vezes é claro – Isaac faz uma pausa e me rodopia de novo – Ele nem sempre foi assim, tão fechado e taciturno.
- Verdade?
- Sim, ele mudou depois do que aconteceu e eu não posso culpa-lo
- O que aconteceu? – eu pergunto assustada e ele pisca os olhos como se tivesse sido pego em flagrante. Mas depois suspira cansado e revira os olhos nos movendo pela pista
- É claro que ele não contou
- Não contou o que?
- Isso é algo que ele deve contar, a história não é minha querida – ele vê o meu olhar desconfiado e sorri inspirando – Está tudo bem, o relacionamento é novo, talvez ele te conte antes do que imagina.
Com isso a música se encerra e eu fico paralisada por um instante juntando as mínimas peças que tenho em minha disposição, mas só o que me resta é um quebra cabeça enorme de mais de mil peças e só o que eu tenho é pecinhas minúsculas e que não fazem sentindo algum quando estão juntas.
Acabo percebendo, enquanto volto para a mesa, que por mais que ele saiba muita coisa sobre mim, – talvez até muito mais do que eu estava disposta a dar – eu não sei nada sobre ele e isso meio que faz com que meu coração troveje em meu peito me sufocando lentamente.
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