O Egípcio romance Capítulo 3

Conheci Raissa na loja em que trabalho como designer de moda. Foi em um dia de verão e a vendedora não estava conseguindo agradar à Raissa na escolha de um vestido.

Eu passei pela loja para ir em direção aos fundos dela, onde fica meu ateliê. E percebi a dificuldade da vendedora. Então observei o físico de Raissa e na hora escolhi o vestido certo. Raissa tem os seios pequenos e os quadris largos. Peguei um com enchimento e pouco volume na saia. Ela ficou tão satisfeita com a minha ajuda e começou a conversar comigo. Então abri para ela que eu desenhava os vestidos da loja.

Raissa, que não é nada boba, me contratou. Comecei a desenhar roupas exclusivas para a minha amiga egípcia, me atentando ao formato de seu corpo, estilo de vida e personalidade. Uma coisa ela me deixou claro: embora ela goste de cores alegres, nenhum de seus vestidos poderia ser acima dos joelhos, ter decotes e mangas curtas.

Não foi difícil agradar à Raissa. No fundo, ela é uma garota simples, apenas insegura e muito carente também. E assim nasceu uma grande amizade. Quase todo final de semana passo com Raissa. Nós conversamos, ouvimos músicas, vamos ao shopping, teatro, cinema, trocamos livros etc.

Raissa tem 20 anos, sou cinco anos mais velha do que ela. Ela nunca namorou. Eu não sei até que ponto isso é uma influência dos costumes deles, ou se Raissa não se interessa mesmo pelos rapazes.

Com tristeza, lembro-me do meu último namorado. Um rapaz que se mostrou no início tão maravilhoso, um príncipe, mas se tornou um sapo. Afasto a imagem de Heitor, ele não merece nem estar dentro dos meus pensamentos.

Logo estou em uma roda de cinco jovens mais ou menos da nossa idade. A música árabe agora está mais gostosa, amena. As pessoas podem conversar normalmente sem precisar falar alto para serem ouvidas.

— Meninas, quero apresentar a vocês uma grande amiga. Karina. — Karina, essa é Alicia, Raquel, Bianca e Lorena.

— Oi — digo para elas.

Todas me cumprimentam. Umas com um aceno de cabeça, outras com um sorriso, mas percebo que há uma agitação entre elas. Estão avoadas, rindo de alguma coisa.

— Nos desculpe, Karina, mas vamos dar uma circulada — Lorena, a mais alta de todas, comunica.

Então, rindo, se afastam de nós. Eu achei uma baita indelicadeza da parte delas, não comigo, mas com Raissa.

Encaro Raissa.

— São todas suas primas?

— Sim, todas.

— Vocês não são muito próximas, são?

— Você reparou, né?

— Sim.

— É que a minha vida é muito diferente da delas. Elas vivem em baladas, e eu não fui criada assim.

— Isso que eu acho estranho. Sua mãe não parece ligada aos costumes.

— Minha mãe não, mas meu irmão é. E ela o teme.

Cada vez compreendo menos essa história. Busco o grupinho com o olhar. Elas estão rindo e olhando toda hora para uma parte do salão.

— Elas parecem bem agitadas — comento, ainda com o olhar voltado para elas.

— Ah, você reparou? Estão assim por causa do meu irmão. Estão ansiosas para vê-lo.

Eu pisco aturdida. Mas elas não são primas? Que tanto fogo é esse?

— Vem, vamos comer e beber alguma coisa.

Raissa me pega pelo braço e abre caminho entre os convidados. Vamos até uma mesa de bebidas com as mais variadas jarras. Todas enfeitadas com uma fruta, facilitando a escolha, pois assim dá para saber o sabor de cada uma delas. Ao lado, vejo uma taça gigante de ponche que parece vinho com abacaxi.

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