O Labirinto de Amor romance Capítulo 22

Eu imaginava que após o aborto, Guilherme ficaria enfurecido por pouco tempo, ou talvez avistando que Lúcia tinha parado de fazer drama, ele desapegaria dos acontecimentos da criança.

Mas o que eu não havia previsto, era que o entrelaçar entre mim e Guilherme apenas começava.

A mansão sempre foi deserta, e depois do incidente com o bebê, Guilherme se recusava a voltar. A ausência dele era também um alívio para mim.

Para fazer com que o meu episódio fosse ainda mais real, eu quase não saía da mansão, e pedia a Liz que trouxesse tudo o que fosse necessário.

De tarde.

Liz enchia a geladeira com diversos nutrientes, e me explicava como deveria me alimentar deles, após isso ela se aproximou de mim e falou:

- Diretora, o pagamento final do Hospital Municipal está atrasado, o setor financeiro não para de me ligar. Não seria melhor você entrar em contato com o Diretor José?

Eu comia jaca, mas não estava aguentando mais o cheiro, então o joguei na lixeira. Percebendo que Liz ainda estava parada de modo obediente, pedi a ela para se sentar, limpei as mãos e perguntei:

- Por quantos dias o Diretor José atrasou?

- Por mais ou menos dois ou três dias! - ela respondeu:

- Não tardou muito, mas o valor é gigante, e a empresa pretendia usar esse dinheiro no desenvolvimento de novos mercados. E agora com a demora, está prejudicando os lucros do próximo trimestre.

Acenei a cabeça, o fluxo financeiro do Grupo Nexia sempre foi veloz, o atraso de qualquer parceiro prejudicava um bocado a empresa. No entanto, a quantia da parte do Diretor José era imensa, mesmo não a usando para investir, só de deixá-la depositada no banco por dois ou três dias, já teria um rendimento considerável.

Depois de pensar um pouco, falei:

- O Diretor José sempre foi uma pessoa de palavra, como fiquei muitos dias em casa me recuperando, acabei me esquecendo disso, é de minha responsabilidade, fale com o setor financeiro que assim que eu melhorar, irei resolver os negócios.

- Tudo bem! - Após responder, ela se levantou para preparar o jantar.

Liguei o celular e olhei as mensagens de texto que Fernanda havia me mandado:

- Sra. Kaira, como você está se sentindo? José conseguiu circular os fundos, muito obrigada pela sua ajuda.

Parece-me que conseguiram resolver os problemas, posso prosseguir com o trabalho. Assim que respondi a mensagem de Fernanda, liguei para o Diretor José e combinei a data do pagamento final para depois assinar o contrato de conclusão.

Após solucionar isso, Liz também tinha terminado de cozinhar e, como ela tinha outros compromissos, não a convidei para ficar. Notando que ela andava às pressas, falei:

- Já me recuperei bastante, pode ficar na empresa para tratar das coisas. Marquei um encontro com o Diretor José amanhã para tratar isso logo.

Ela me observou, preocupada, e perguntou:

- Você tem certeza que está bem? Ouvi dizer que depois de um aborto é preciso ficar em repouso por duas semanas, mas só se passaram alguns dias.

Dei um sorriso para ela e falei:

- Olhe como estou, pareço doente? Além do mais, se eu não terminar isso logo com o Diretor José, só vai adiar ainda mais o pagamento, imagine o prejuízo que a empresa vai sofrer. Se chegasse naquele ponto, a questão com Guilherme não seria mais simples, ele não me trataria mais com tanta bondade.

Já não existia o tal do aborto, se perdesse mais tempo aqui, atrasaria meus planos, e a barriga só cresceria mais a cada dia, se até lá não tivesse terminado definitivamente com Guilherme, só iria piorar tudo.

Agora só podia apressar os passos, resolver tudo, e depois disso procurar uma chance para deixar a Cidade de Rio.

Ouvindo isso, ela suspirou e me olhou sem jeito:

- Tudo bem, mas coloque a sua saúde em primeiro lugar.

Depois que Liz foi embora, voltei para a mesa de jantar. Senti a solidão e mesmo com a mesa repleta de comida fiquei sem vontade de apreciá-la. Com o anoitecer, também fiquei sem ânimo de sair.

Degustei um pouco dos pratos e voltei ao quarto. Guilherme não retornava e eu também não tinha nada a fazer, decidi então ler alguns livros e pesquisar na internet à procura de um apartamento na Cidade de Nuvem. Caso decidisse morar lá, precisaria de um alojamento confortável tanto para a mãe quanto para o bebê.

Neste momento meu celular tocou e me assustei, o identificador de chamada indicava que era Esther, em seguida o atendi, antes que eu pudesse falar, meu ouvido já tinha sido bombardeado.

- Mulher malvada! Você fez o aborto?

Como havia passado somente alguns dias, fiquei confusa de como ela obteve essa informação, então perguntei:

- Como é que você soube?

- Como é que eu soube? Você ainda tem coragem de me perguntar? Você me considera sua amiga? Isso é muito sério e você não me disse nem sequer uma única palavra - Esther falou enfurecida.

Quando essa mulher ficava irritada, ninguém poderia segurar ela. Coloquei a mão na testa, com a cabeça latejando, falei:

- Eu queria acabar com isso logo, pois quanto mais esperava mais medo sentia. Queria te avisar, mas sabia que você andava muito ocupada, então tinha decidido te contar daqui a alguns dias.

- Não é isso que quero saber! Não sou contra o aborto, mas você precisava de alguém para cuidar de você depois da cirurgia! Você não me contou nada, e se algo de ruim acontecesse com você? - Esther estava ansiosa demais, por isso havia soltado tudo do coração.

Compreendendo a sua preocupação, uma ternura preencheu o meu coração e, em silêncio, fiquei apreciando os discursos dela. Depois disso, falei:

- Esther, vou me divorciar do Guilherme, talvez deixe a Cidade de Rio, você quer vir junto comigo?

No momento, achei melhor não comentar nada do bebê, mesmo que ela soubesse, não alteraria nada, masachei necessário que ela ficasse ciente de que a decisão de me mudar para outra cidade, porque o motivo de ela ter vindo morar aqui fui eu. Se eu partisse sem avisar, com certeza ela nunca mais faria caso de mim.

Um silêncio tomou conta do outro lado da linha, depois ela perguntou:

- Quando você vai partir? Para qual cidade você pretende ir?

- Nesses últimos meses, fiquei pensando sobre a Cidade de Nuvem, queria me mudar para lá.

Assim que terminei de falar, de imediato ela respondeu:

- Tudo bem, estou sabendo!

E não falou mais nada, achava que ela iria fazer alguns comentários, mas ela ficou calada, como não tinha mais nada para dizer, decidi me despedir dela.

De repente ela falou:

- Venha buscar o teu homem aqui no meu bar, ele está bêbedo.

- O Guilherme? - perguntei surpresa.

- Além dele, você tem outros homens? - Esther perguntou impaciente.

Fiquei sem palavras.

Por que Guilherme foi beber ali? Depois de desligar o telefone, me troquei com rapidez, vesti um casaco e dirigi até o bar de Esther.

O Bar de Tempo não ficava distante da mansão, em dez minutos já tinha chegado até lá.

Esther estava encostada na mesa do bar e bebia, quando me viu, falou com indiferença:

- Ele está na sala privada no andar de cima, bêbedo como um gambá.

Enquanto guardava as chaves do carro na bolsa, a olhei e perguntei:

- Por que ele veio aqui para se embebedar?

- Sei lá, ele veio por dois dias seguidos, mas antes de ficar torrado desse jeito já tinha sido levado por aquele assistente alto e bonito dele. Mas hoje o assistente não veio, deve ter outros trabalhos, então ele encheu a lata. - Esther falou:

- Minha garota, você abortou o filho dele sem avisar, ainda espera que ele esteja de bom humor?

Fiquei pasma, ele estava assim por causa do bebê?

Chegando ao andar de cima, encontrei a sala na qual Guilherme estava, bati na porta algumas vezes, mas ninguém respondeu, então abri a porta da sala.

Assim que empurrei a porta, senti um bafio forte de cigarro misturado com cheiro insuportável de álcool. Deixei a porta aberta para melhorar a circulação de ar, depois entrei.

As luzes do quarto não eram muito iluminadas, o homem sentado no sofá permanecia com os olhos e os lábios finos semicerrados, mas o comportamento dele não me parecia ser de alguém que havia bebido demais, parecia mais alguém que apenas descansava a mente com olhos fechados.

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