Virgindade Leiloada romance Capítulo 18

Murilo

Quando o garçom chegou até a nossa mesa, interrompendo o que a Virgínia estava prestes a me contar, eu fiquei irritado, pois parecia ser algo bastante importante.

Ao perceber que ela havia feito um pedido e pretendia comer durante a nossa conversa, que parecia ter uma importância totalmente diferente da que eu imaginei, fiquei extremamente confuso, sem conseguir entender como ela poderia simplesmente fazer uma refeição naquele horário, ainda mais comigo a olhando.

Mas ao ver como ela pegou os talheres, parecendo quase lamber os lábios de tamanha a vontade que ela estava de comer aquela bendita lasanha, o estranhamento aumentou e lembrei de uma cena na novela que o Aquiles estava assistindo, bem parecida com o momento atual, onde a mulher estava grávida e comia de forma descontrolada.

O jeito que a Virgínia olhava para a lasanha à sua frente me trouxe a cena de novela a memória e, mediante a sua afirmação de que aconteceu sim, “alguma coisa”, como ela colocou, que eu não iria gostar nada de saber e mediante a sua hesitação em me contar logo de uma vez, pensei de imediato: A Virgínia está grávida.

— Hum! — Ela engoliu a comida que provavelmente havia ficado presa em sua garganta, ao ouvir a forma direta com que eu fiz a pergunta sobre a sua gravidez e então falou de maneira resoluta: — Você acertou. Estou grávida, sim.

A olhei sem conseguir decidir se sorria, de tamanha alegria com a notícia, ou se fingia estar preocupado ou receoso, pois estava claro que era aquilo que ela esperava que eu fizesse e eu não queria que ela pensasse que não estava me importando com os seus sentimentos.

Mas eu não consegui me conter e acabei deixando escapar um sorriso contido, que logo foi se tornando maior e que eu tinha certeza que estava quase tomando conta de todo o meu rosto e usei de toda a minha força de vontade para não gritar de felicidade. Eu seria pai!

— Suponho que você não está entendendo, Murilo. — Virgínia falou, levando mais uma garfada à boca, fechando os olhos para apreciar o sabor da comida e voltando a abrir de maneira lenta e deliciosamente provocante.

— Você está grávida. Entendi. — Falei, ainda com o sorriso parecendo pregado em meu rosto.

— E o filho é seu, Murilo. Eu estou grávida e o filho é seu. Você será pai. — Ela estava quase a desenhar para mim o que ela pensava que eu não estava entendendo.

A verdade é que ela não estava compreendendo que a cada frase dita, mais eu me sentia exultante, feliz e realizado. Eu seria pai e, mesmo que a Virgínia não conseguisse entender e aceitar, ainda, o fato de ela ser a mãe do meu filho não era nenhum pouco desagradável para mim. Muito pelo contrário.

— Preciso contar para a vovó e para a Ártemis. E para o Aquiles, é claro. — Acabei por dizer em voz alta aquilo que pretendia manter apenas em pensamento.

Fiquei analisando como poderia dar essa notícia para a vovó, pois ela já tinha a idade um pouco avançada e a notícia de que seria bisavó muito em breve, era uma emoção muito grande para ela.

— Eu acredito que a ficha não caiu ainda para você. — Virgínia disse, no intervalo entre uma garfada e outra. — Eu também me sinto assim.

Sorri perante a maneira como ela acreditava estar me sentindo. Eu estava feliz e ela acreditava que eu estava desnorteado. Aquilo era bastante engraçado e eu soltei uma risada.

— Você é daquelas pessoas que quando fica nervosa não consegue parar de sorrir, não é? Trabalhei com uma garota que era assim, também.

Não contestei a sua colocação, era mais cômodo para mim que ela acreditasse que aquele era o caso e apenas sorri com seu comentário, dando a entender que ela estava certa em sua suposição.

Ela levou o guardanapo à boca, limpando os cantinhos de maneira delicada e percebi que ela terminou o seu prato de lasanha e admirei a rapidez com que ela fez isso.

— Acredito que agora que você está grávida, não vai poder comer esse tipo de alimento. — Comentei, me sentindo preocupado. — Não deve fazer bem ao nosso bebê.

Ela parou o que estava fazendo, o guardanapo no ar, me olhando como se estivesse vendo uma aparição de outro mundo.

— Estou preocupada com você, Murilo. — Ela falou, enfim baixando o que tinha em mãos e colocando ao lado do seu prato vazio. — Eu te digo que estou esperando um filho seu e você vem questionar a minha alimentação?

— Claro! — Falei com convicção. — Agora que está esperando um bebê, precisa pensar no bem-estar da criança, Virgínia. Será mãe, agora.

— Você não está chateado ou algo assim? — Ela perguntou, parecendo bastante surpresa.

— Eu diria que “algo assim”.

Ela não precisava saber ainda, que o algo assim que eu me referia era a estar extremamente feliz, pois o destino estava me presenteando com algo bem maior do que eu acreditava merecer, pois, se antes eu já acreditava que a Virgínia e eu tínhamos muita chance de ter um relacionamento sério, agora eu tinha certeza de que ela havia entrado na minha vida para ficar.

Sobre o fato de que nós tínhamos nos conhecido em circunstâncias bastante incomuns, isso era algo que não me preocupava em nada, mas o ideal é que ninguém, além de nós dois, tomasse conhecimento sobre essa circunstância. Não porque eu tivesse algum tipo de constrangimento, mas para evitar expor a Virgínia.

— Bem, eu queria ter te preparado para então poder contar algo tão sério. Mas as coisas escaparam ao meu controle.

— Percebi. A comida não poderia esperar, não é mesmo? — Brinquei, tentando descontrair o clima, ao ver que ela parecia chateada.

Ela rolou os olhos como se estivesse entediada e eu sorri com o seu jeito extrovertido. Apesar de acreditar que ela deveria seguir uma dieta mais rígida agora que estava grávida, eu admirava o fato de ela não se prender aos padrões impostos e comer aquilo que desejava, sem culpa.

Lembrei da Bruna e suas dietas constantes e balancei a cabeça de maneira negativa, para afastar aquela lembrança. A Bruna não fazia parte da minha vida há meses e eu não deveria estar lembrando de alguém que não teve nenhum pingo de consideração por mim e muito menos por nossa história.

Eu estava diante do meu futuro, a Virgínia e o nosso filho. Apenas isso importava a partir de agora.

— Quando você soube?

— O quê? - Ela estava tão contrariada que nem mesmo conseguia prestar atenção no que estávamos conversando.

— Sobre a gravidez. — Expliquei. — Quando você soube que estava grávida?

— A minha vida estava uma correria muito grande e eu só fui perceber que meu ciclo estava atrasado ontem à noite.

— E fez o teste hoje. — Eu deduzi.

Fiquei me questionando se, caso ela não tivesse a dúvida sobre a questão da gravidez, se ainda assim ela teria respondido às minhas mensagens e concordado em me ver, mas me repreendi. Não iria me apegar a questões tão pequenas.

Mais importante que qualquer outra coisa era o momento presente.

— Por sua reação á notícia, devo entender que você não está chateado e que não vai agir como um idiota e pedir para que eu não tenha o bebê, estou certa? — Ela perguntou, mas parecia estar ainda em dúvida.

— Claro que eu não vou te pedir algo desse tipo! — Falei me sentindo ultrajado pela incerteza que percebi existir em seu tom de voz. — Nós nos protegemos e se, mesmo assim, você ainda engravidou, nos resta apenas pensar no melhor para o nosso filho.

Ela suspirou parecendo aliviada ao ouvir a minha resposta e exibiu um sorriso tímido, que a deixou ainda mais vibrante do que já era.

— Essa situação é tão louca. Nós nem nos conhecemos e agora vamos ter um filho juntos. - Ela falou, gesticulando e apontando para si própria e depois em minha direção.

— Nada que não possamos consertar. — Falei. — Sou Murilo Fernandes e você é Virgínia… ?

Ela não pegou a minha deixa, ao invés disso, olhava para algo que parecia estar por trás de mim e eu fiquei aguardando que ela completasse a sentença me dizendo seu nome.

— Murilo Fernandes!? — Repetiu, parecendo horrorizada.

Não entendi o horror presente em sua voz e virei o torso, tentando entender o porquê de sua reação tão estranha apenas a menção do meu nome.

Constatei então que havia um banner com a atual campanha de publicidade da empresa de cosméticos da minha família e da qual eu era o CEO, onde eu aparecia como o “garoto propaganda” da nossa nova marca, a FERZ, uma ideia do setor de marketing e que eu não me opus, visto que só iria contribuir para aumentar os nosso lucros.

— Você é o dono da FERZ? — Ela enfim conseguiu proferir a pergunta que gritava em seus olhar.

— Sou um dos donos, na verdade. — Expliquei um pouco a contragosto.

Nunca antes eu me senti mal por minha posição social, mas ao observar que aquilo tinha gerado uma reação tão negativa na Virgínia, me arrependi até mesmo por ter concordado em participar da tal campanha de divulgação de

Ela ainda parecia chocada com a sua “descoberta”.

— Só falta agora você me dizer que é casado! — Seu tom era acusatório e me senti um pouco incomodado com sua atitude.

— Não estou entendendo você. Qual a relação entre eu ser um empresário e ter que ser casado?

— Por que era tudo o que me faltava! Estar grávida de um homem rico e ainda por cima, casado. — Ela colocou a cabeça entre as mãos, parecendo desolada e me senti até mesmo culpado por me encaixar, pelo menos em partes, no perfil que ela desenhou.

— Eu não acredito que tenha relação uma coisa com a outra, Virgínia. — Tentei usar a sensatez. — Eu realmente sou um homem rico, como você colocou. Não deveria estar surpresa com esse fato. Mas sou solteiro. Completamente livre.

— Eu realmente deveria saber que um homem que paga quinhentos mil reais em um leilão como aquele em que nos conhecemos só poderia ser um milionário. — Ela falou como se para si mesma e o tom usado me incomodou muito.

— Qual o problema, Virgínia? — Questionei, me sentindo chateado. — Deveria estar feliz, pois tem a certeza de que o bebê que está esperando vai ter sempre o melhor que o dinheiro pode comprar.

— As coisas não se resumem apenas a dinheiro, Murilo. — Ela falou, enfim levantando o rosto e me encarando com seus olhos quentes como mel.

— Claro que não. — Concordei de imediato. — Mas faz muita diferença na vida de alguém.

Consegui me controlar a tempo de falar alguma besteira, como o quanto o dinheiro poderia obrigar as pessoas a tomarem atitudes extremas. Não queria trazer aquele assunto à tona.

— Você está certo. — Ela falou, parecendo derrotada.

Sem mais nenhuma palavra, ela se levantou, pegando a sua bolsa que estava no espaldar da cadeira enquanto eu a observava sem acreditar que ela pensava simplesmente em ir embora sem termos conversado tudo o que era necessário.

— Depois nós nos falamos melhor. — Ela ainda falou, me dando as costas.

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