Virgindade Leiloada romance Capítulo 20

Murilo

Quando a Virgínia saiu da praça de alimentação de forma tão intempestiva, eu fiquei imediatamente irritado com sua atitude, até notar o quanto ela parecia transtornada e quando ela caminhou diretamente na direção dos banheiros, achei melhor a aguardar do lado de fora, para me certificar de seu real estado emocional.

O fato é que ela estava grávida e entendi que ela deveria estar abalada com uma notícia tão impactante como essa.

Um filho mudava tudo na vida de alguém e, quando se tratava de uma mãe, a tendência é que seria ainda mais transformador.

Após vários minutos esperando por sua saída do banheiro, comecei a ficar realmente preocupado e estava pensando seriamente em chamar uma das mulheres que saíam do local, em busca de alguma informação sobre a mulher que muito em breve seria mãe do meu filho.

Estava prestes a fazer exatamente aquilo, quando percebi que ela era a próxima a sair e fui ao seu encontro, me sentindo bastante aliviado por ver que ela estava bem, pelo menos, aparentemente.

Quando a confrontei, ela não gostou nenhum pouco da minha atitude, mas eu só estava pensando no melhor para ela e o bebê que carregava em seu ventre e não me importei se estava sendo inoportuno.

Eu tinha a melhor das intenções e, depois de muita insistência de minha parte, consegui com que ela me acompanhasse de volta a uma das mesas da praça de alimentação e nós nos sentamos.

—Eu estou bem. Não vejo razão para tanto.

— Só estou tentando agir de maneira correta, Virgínia.

Ela levou as mãos ao rosto, o cobrindo e, depois de alguns segundos, voltou a me encarar.

—Desculpa, Murilo. Estou sendo rude, enquanto você só está sendo gentil.

— Eu entendo que você deve estar com as emoções abaladas. Acredito que possa estar relacionado ao fato de estar grávida. — Não consegui conter o sorriso de satisfação em dizer aquilo.

— É isso que me aborrece! — Ela voltou a agir de maneira intempestiva. - Como você pode estar sorrindo e parecendo feliz, quando o meu mundo está virando de cabeça para baixo!? — Acusou, bastante indignada.

— Eu estou feliz, Virgínia. E isso é algo que eu não posso controlar! Mas, você tem razão e tudo vai mudar, realmente. Mas não vai estar sozinha. Eu vou estar do seu lado durante todo o tempo, eu prometo!

Puxei um de suas mãos que estava sobre a mesa e a segurei de maneira delicada, querendo expressar com aquele gesto que, a partir de agora, nós estaríamos juntos.

— O fato de você estar ao meu lado não vai evitar que os problemas apareçam. — Ela disse e senti que estava franzindo a testa, me sentindo contrariado com sua teimosia. — Eu acredito até, que por você ser exatamente quem é, um empresário milionário, vai até trazer alguns problemas para a minha vida.

— Mas que loucura, Virgínia! — Contestei sua colocação. — Como o fato de eu ser milionário pode atrapalhar a sua vida e a do nosso bebê?

— Melhor deixar isso para depois. — Ela desconversou. — Em um outro momento, quando acontecer, eu irei mostrar para você que apenas dinheiro não trás felicidade.

— Eu não quero discutir com você, Virgínia. — Tentei racionalizar. — Mas eu, assim como você tão bem colocou, também não acredito que dinheiro trás felicidade. O que me deixou feliz e nada pode mudar isso, é saber que serei pai. E o que contribui ainda mais com a minha alegria, é poder oferecer o melhor para meu filho, em termos financeiros. Isso não é algo bom para você?

— Estou cansada, Murilo. — Ela optou por não responder diretamente. — Não acho que devemos entrar novamente nessa discussão.

Pensei em insistir, mas terminei por acatar seu pedido e mantive meus pensamentos apenas para mim.

— Você combinou com sua amiga para que horas? — Perguntei, para mudar de assunto.

— Amiga? — Ela perguntou, parecendo não entender sobre quem eu estava me referindo.

Aquilo me trouxe um questionamento e comecei a duvidar de que ela tivesse realmente marcado de encontrar com a tal amiga na praça de alimentação.

— Você disse que estava esperando uma amiga e que, por esse motivo, não aceitaria que eu a acompanhasse até sua casa. — Esclareci.

Ela pareceu então se recordar do que havia dito e pareceu até mesmo constrangida, algo que a denunciou de imediato.

— Não existe nenhum encontro com amiga, não é mesmo?

— Claro que existe!

Ela não pareceu tão segura e eu arqueei a sobrancelha em dúvida, mostrando que não estava realmente acreditando em suas palavras.

— Eu combinei com a Mariana aqui. - Insistiu.

— Então, de que horas vocês combinaram? — Continuei a pressioná-la.

Seu olhar era de incerteza e notei que ela procurava algo em cima da mesa e depois olhou para seu colo, local onde ela havia deixado sua bolsa.

— Responde sem olhar a hora.

Eu concluí que ela deveria estar a procura do seu aparelho celular, onde ela pretendia consultar as horas e ao me ouvir, foi visível que ela se sentiu envergonhada por estar sendo pega em uma mentira.

— Tudo bem. Você está certo. — Ela acabou admitindo. — Eu não marquei nada com a minha amiga aqui.

Não me senti vitorioso após ela confessar que estava mentindo para mim, ao dizer que tinha um encontro marcado com uma amiga.

Aquilo só mostrava que ela queria se ver livre de mim e aquilo não era nada agradável, e eu nem estava me referindo a uma questão de ego ferido.

— Por que não deseja a minha companhia? — Perguntei diretamente. — Sou uma pessoa desagradável para você?

Eu precisava saber por que a mulher que seria mãe do meu filho e por que eu tinha bastante interesse antes mesmo de ter conhecimento desse fato, não queria estar comigo.

— Não é nada disso, Murilo. — Ela parecia uma pessoa derrotada.

Eu me senti triste por ver que estar ao meu lado causava aquele sentimento na garota com quem eu até mesmo tinha sonhos quentes e profanos há semanas. Aparentemente, eu não era retribuído em meu interesse.

— Então, me diga o por que de você estar dessa forma. — Eu a desafiei.

— Eu só preciso de um tempo para assimilar tudo o que está acontecendo. Você pode me dar isso? — Ela pediu.

— Não gostaria, mas se é isso mesmo que você deseja, eu preciso aceitar.

Ela estava contrariando os meus desejos, mas era necessário admitir que ela não era obrigada a se sentir da mesma forma que eu, tampouco aceitar tudo do meu jeito.

— Peço que permita que, pelo menos, eu vá te deixar em casa. Depois que eu tiver certeza de que está bem e em segurança, eu posso aguardar o seu tempo.

Ela me olhou, como aconteceu durante todo o tempo em que estivemos juntos, ela pareceu pensativa, como se analisando algo simples como uma oferta de carona.

— Eu pretendo ir embora com uma amiga. — Ela disse, após alguns segundos de reflexão. — Ela realmente existe, está aqui nesse shopping e se chama Mariana. Assim você pode ficar mais tranquilo.

Eu sorri sem alegria, ao entender o que estava bastante nítido desde o início e eu não me dei conta: ela não queria que eu a deixasse em casa, como também não me disse nada sobre ela, além do fato de estar grávida e que o filho era meu.

Mas deixaria como está, ao menos por enquanto. Aparentemente, eu já havia forçado a barra o suficiente por um dia.

— Tudo bem, então. — Concedi. — Farei como deseja. Mas…

— Mas?

— Só irei embora quando a sua amiga chegar aqui.

Ela suspirou com visível desagrado, mas acabou por concordar e, no mesmo instante, entrou em contato com a sua amiga e, poucos minutos depois, ela chegou.

Depois que nos apresentou, percebi que se tratava da mesma garota que estava com a Virgínia na boate, mas também tive a impressão de que já a tinha visto anteriormente.

Não comentei sobre aquela impressão e, depois que nos despedimos, eu me senti obrigado a cumprir com o acordado e deixei as duas garotas na praça de alimentação e segui até o estacionamento, para pegar meu carro.

Dirigi pelas ruas do bairro nobre, sentindo a irritação transbordar por todos os meus poros. Mas sabia que não poderia ter feito diferente. Não seria correto de minha parte forçar uma situação, então só me restava ter paciência e esperar o momento certo.

A única coisa que eu sabia sobre a Virgínia era o seu nome e telefone e nada mais. Gostaria de ter a levado em casa, pois assim eu saberia onde mora e um pouco mais sobre a sua situação financeira, mas agora não adiantava ficar me lamentando.

Foquei no mais importante, que era o fato de que seria pai e que a mulher que esperava o meu filho era alguém que eu tinha sentimentos fortes, mesmo que eu ainda não tivesse certeza sobre a profundidade do que eu sentia por ela, a nossa química existiu, não foi algo que eu estava apenas idealizando.

Agora era correr atrás e tentar conquistar aquela garota arredia e de temperamento forte, com o agravante de que ela estava agora grávida e as emoções devem estar em ebulição e talvez nem ela mesma soubesse ainda o que de fato queria naquele momento.

Pensei em ir até a casa da vovó e contar sobre o mais novo membro da família Fernandes, mas voltei atrás. Eu queria estar com a Virgínia quando fosse dar essa notícia a minha família e deixar claro para todos que eu pretendia formar uma família e que, dessa vez, seria para valer.

Nada de noivado longo, como aconteceu com a Bruna. Nem iria aceitar que ninguém viesse tentar me convencer do contrário. Não que eu acreditasse que a vovó ou a Artemis pretendiam fazer algo assim.

Eu pensava sobre o Aquiles. Ele talvez não reconhecesse a Virgínia da noite no clube, mas caso isso acontecesse, eu não queria que ele viesse a espalhar essa história para mais ninguém.

Para que isso não viesse a acontecer, decidi que o melhor a ser feito de início, era procurar o meu primo e conversar com ele de maneira direta e honesta.

Não queria nada no meu caminho e iria garantir isso naquele exato instante, pensei, enquanto entrava com o carro na garagem do prédio no qual nós dois moramos.

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