Engoli em seco, de certa forma entendendo Rose.
- Tudo bem! – sorri, fingindo que não me abalei com as palavras dela – Fico em casa. Quem sabe acenda a lareira e mexa com os borralhos... E espere a fada madrinha – brinquei – E papai, por favor, não morra!
- Corre o risco de mamãe trancar Olívia no sótão. – Isabelle gargalhou.
- Não temos sótão. – Rose contestou, de forma séria.
- Talvez me faça ter como única companhia os ratinhos – suspirei – Não se preocupe, Rose, sei que você não seria uma “má”drasta comigo. – Sorri, tentando não parecer irônica.
Rose respirou fundo e gritou para a empregada:
- Pode tirar meu prato! Perdi a fome. Sem contar que não posso comer mais nada nas próximas 24 horas. Tenho que ficar magra e esquelética para entrar num vestido da Prada que comprei há um tempo atrás e não usei. Ou acha que devo comprar um novo, querido?
- Sem compras, Rose. Já vai ser difícil o jatinho. – Papai disse de uma forma tão séria que até me preocupei.
- Tudo certo então... Uso o vestido que ainda está com etiqueta. Rita vem num jatinho, Olívia fica em casa, Isabelle compra um vestido novo e o jantar está pronto! – Gritou em torno de si mesma, só faltando a gargalhada estridente de madrasta-bruxa para um típico conto de fadas.
- Papai, acho que alguém esqueceu de fazer o pagamento da minha faculdade – avisei, enquanto finalmente provava o peixe que foi feito para o jantar – Recebi um aviso para que fossem quitadas as parcelas em atraso.
- Ah... – papai sorriu sem jeito.
- Estamos... Com problemas financeiros? – Perguntei.
- Claro que não. – Ele disse rapidamente.
- Acho que você deveria cancelar esta faculdade de Medicina, Olívia – Rose sugeriu – Por que não trabalha na empresa do seu pai?
- Trabalhar? – fiquei incrédula – Eu só tenho 21 anos!
- Medicina é um curso que requer esforço, dedicação e inteligência, Olívia – ela continuou – Não querendo ser chata, mas sabe que sou sincera e não acho que você tenha capacidade para tanto. Conheço filhas e filhos de amigas que são bem mais inteligentes do que você e não aguentaram ir até o fim. Por que não escolhe algo que exija menos? E que seja mais barato? Lembrando que depois que se formar, nem sequer poderá usar o sobrenome Abertton, já que não é uma legítima Abertton. Ou seja, terá um diploma mas não terá um nome. Quem consultaria com uma médica assim?
- Eu sou Olívia Abertton. Então eu tenho um sobrenome! – Contestei.
- Ah, mas quase ninguém sabe que vem de Ernest Abertton! E você não vai querer manchar a reputação do seu pai e toda a sua família publicamente, não é mesmo?
- Mas ela não é da família! – Isabelle sorriu – Então... – levantou os ombros – Por que deveria se preocupar com uma?
- Por que você é tão chata? – Rose olhou para a caçula.
- Por que você é tão má? – Isabelle enfrentou-a.
- Sem brigas por minha causa, por favor – intermediei – Se tem problemas para pagar a faculdade eu posso tentar uma bolsa.
- Com que nome?
- Olívia – a olhei seriamente – Eu tenho um cérebro, se é que me entende. E talvez não precise usar o “seu” sobrenome, que no caso vem do “meu” pai.
- Ah! – papai massageou as têmporas – Por favor, parem!
Levantei-me imediatamente e o abracei por trás, com ele ainda sentado na cadeira:
- Desculpe, papai. – Dei-lhe um beijo.
- Está tudo bem... – ele olhou para Rose – É só um jantar! Não me deixe louco, por favor. Já tenho problemas o bastante. – Levantou e saiu da sala de jantar.
Esperei que ele saísse e olhei para Rose.
- Tudo culpa sua, como sempre! – Ela apontou o dedo na minha direção, enfurecida, e saiu bufando.
- Culpa sua, por existir. – Isabelle me olhou de forma séria – Eu ainda tenho que aturá-la, porque é minha mãe. Mas você não! Como consegue?
Eu ri e fui na direção dela, abraçando-a com carinho:
- Sou paciente. Talvez esta seja minha maior qualidade. Nada é capaz de tirar meu sossego ou me fazer sofrer. Já passei pela minha cota de sofrimento na vida.
- Você é uma santa, Olívia. Aliás, existe uma santa chamada Olívia? Eu poderia acrescentá-la na lista de santos?
Começamos a rir e ela me olhou com aqueles olhos de quem me mataria de cócegas e saí correndo para o meu quarto, em uma fuga alucinada.
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