A Rebeldia da Esposa Desprezada romance Capítulo 81

Paulo Silva?

Esse nome soava familiar.

Não podia ser tanta coincidência, podia?

Flávia Almeida hesitou antes de virar a cabeça, e no segundo seguinte, ficou pasma.

O tal "jovem diretor" que o Sr. Alves tinha mencionado, era nada menos que o diretor daquela peça para a qual ela tinha feito teste, o próprio Paulo Silva!

Esse é o "jovem diretor"?

Quão fera era o Paulo Silva no meio? Olha, só pra ter uma ideia, os trabalhos dele no IMDb, que é conhecido pela crítica da pesada, não tinham nenhum com nota abaixo de sete!

Uma nota sete já te colocava na lista de clássicos imperdíveis! A pior nota de um trabalho do Paulo Silva era um 7!

Sentar à mesa para um jantar com o diretor Paulo Silva, assim, sem mais nem menos, numa social dessas, deixava Flávia Almeida pelo menos um pouco apreensiva.

Quando Paulo Silva a viu, também deu uma travada, mas logo se recompôs e foi cumprimentar o casal Alves de maneira natural.

Na conversa, Flávia descobriu que Paulo Silva era compadre do Sr. Alves, tinham se dado muito bem desde os tempos da faculdade, e a Sra. Alves era prima da esposa do Paulo Silva.

"Seu Paulo, deixa eu te apresentar, essa aqui é uma amiga nossa, Flávia Almeida. Ela está com o nome na boca do povo, eu sempre falo pra você daquela ArtedaFlavia, é ela mesma. A moça é um arraso, voz linda e temperamento de anjo. Flávia, esse é o Paulo Silva, o cara que eu te falei, vocês precisam se conhecer."

Flávia ficou meio sem graça, era claro que Paulo Silva a tinha reconhecido, mas como ele não tocou no assunto, ela também não quis, e só falou, "Prazer, Diretor Silva, sou Flávia Almeida."

Paulo Silva nem estendeu a mão, só acenou com a cabeça, bem na dele.

Flávia ficou sem jeito, com a mão pendurada no ar, e a recolheu lentamente.

A Sra. Alves percebeu que tinha água no chope, mas preferiu não entrar na onda, e puxou logo o assunto, "Bora servir a comida, nê? Todo mundo aqui já está com o buraco no estômago, vamos enchendo a pança."

"Isso, isso, vamos nessa."

Enquanto o casal Alves esbanjava simpatia, o diretor Paulo Silva estava mais na dele, talvez pela natureza do trabalho dele, ou por ter uma desconhecida ali, não queria se soltar muito.

E Flávia notou que sempre que o Sr. Alves jogava a bola pra ela, Paulo Silva saía de fininho da conversa.

Flávia estava desconfortável. Pois, ela tinha entrado de gaiato no quarto naquele dia do teste e talvez Paulo Silva ainda estivesse com aquilo atravessado.

Com o Sr. Alves na área, a mesa nunca ficava quieta, então o clima não chegou a esfriar.

Depois de uns bons goles, o Sr. Alves tocou no assunto que queria.

"Seu Paulo, você sabe que eu não te incomodo à toa, mas hoje eu tenho um favor pra te pedir."

Paulo Silva sorriu, "Bebeu e agora vai abrir o coração, é?"

Sr. Alves fez um barulho de desdém, "Cerveja? Tô é lúcido."

Apontou para Flávia, "Você já viu a moça. Formada na Universidade T de Artes Cênicas, ela tem habilidade profissional de primeira. Se tiver um papel no seu trabalho que caiba pra ela, pensa com carinho, garanto que não vai se arrepender."

Paulo Silva deu um gole no chá, ficou um tempo quieto e soltou, "Você sabe como eu sou, não misturo trabalho com comida na mesa."

O Sr. Alves franziu a testa e disse, "Pô, a gente é irmão, não é estranho não. Porquê você está sendo tão cabeça-dura? Não tô dizendo pra você arrumar uma boquinha pra ela, só to falando pra deixar ela fazer um teste. Ela com certeza vai mandar bem melhor que essas atrizes sem sal que você anda escolhendo!"

"Quando eu escolho atores, muitos vêm de audições abertas. Se tiverem o perfil que a gente procura, podem tentar a sorte. Agora, se é pra fazer teste só pra tirar uma onda, melhor nem perder o tempo de todo mundo."

Flávia Almeida também franziu a testa.

Ela sentia que tinha algo nas entrelinhas do que Paulo Silva dizia.

Mas Paulo Silva não quis entrar em detalhes e disse, "Bora comer, não é todo dia que a gente se reúne. Melhor falar de outras coisas que não sejam trabalho."

O Sr. Alves ainda queria argumentar, mas a Sra. Alves deu uma puxadinha discreta nele por debaixo da mesa e ele se calou.

Flávia Almeida passou o jantar inteiro com um nó na garganta.

Quando a refeição terminou, o Sr. Alves foi acertar a conta e Paulo Silva foi ao banheiro.

Quando ele saiu, Flávia Almeida o esperava na porta.

Ele parou por um momento e disse de forma indiferente, "Me dá licença."

Flávia Almeida não enrolou e foi direta, "Diretor Silva, o que o senhor quis dizer na mesa agora há pouco?"

Paulo Silva deu uma olhada nela e respondeu, "A senhorita Almeida sabe muito bem, pra quê perguntar?"

"Sei o quê, exatamente?"

Flávia Almeida estava cada vez mais confusa, "O senhor disse que fazer teste só pra zoar os outros? Não entendo por que disse isso. O senhor acha que eu usei de influência pra jantar com o senhor, que meus métodos são desonestos? Ou será que é por causa do dia do teste, quando eu entrei no seu quarto sem querer? Se for pela intromissão, eu peço desculpas, foi uma atitude impensada, mas quanto a esse jantar, eu só soube que seu amigo tinha convidado mais gente depois que o senhor chegou."

Paulo Silva já estava de saco cheio de ouvir ela falar e cortou, "Isso não tem nada haver comigo, me dá licença."

Flávia Almeida respirou fundo, perdendo a paciência.

"Então, esclareça! Como é que eu estou zoando de alguém?"

Já que o teste tinha ido por água abaixo, ela não se importava mais com o que Paulo Silva pensava dela, mas não ia levar a culpa por algo que não fez!

E não podia deixar que Paulo Silva pensasse mal do casal Alves por causa dela.

Paulo Silva se assustou com a reação dela e disse com o rosto fechado, "Se a senhorita acha o papel pequeno demais, vá procurar um com mais destaque."

"Quando foi que eu reclamei do tamanho do papel?" Flávia Almeida franziu a testa, "Eu nem vi o roteiro, como eu poderia reclamar?"

Paulo Silva se calou, "Você não recebeu o roteiro?"

Flávia Almeida negou com a cabeça, "Depois do teste, ninguém entrou em contato comigo."

Paulo Silva sentiu que algo estava errado e, tirando o celular do bolso, revirou até encontrar algumas capturas de tela, "É você?"

Flávia Almeida viu que a foto do perfil do WhatsApp, o apelido, era tudo igual ao dela, mas aquelas mensagens não tinham sido enviadas por ela.

Nas capturas de tela, alguém do grupo do teatro tinha adicionado o WhatsApp dela, enviado o roteiro e perguntado sobre seu interesse em assinar contrato.

"Essa" pessoa respondeu dizendo que achava o papel pequeno demais, o cachê baixo demais, queria mais destaque e mais dinheiro. E o jeito de falar era muito arrogante, além de reclamar do tamanho do papel, ainda criticava o roteiro, chamando-o de lixo. O problema é que o roteiro tinha sido uma criação original de Paulo Silva e do roteirista, como ele não ficaria irritado?

Flávia Almeida leu tudo com raiva contida e disse com voz firme, "Posso garantir que não fui eu. Isso foi na noite que meu celular tinha quebrado. Só consegui um novo ontem à tarde, eu não poderia ter conversado com ninguém nesse período."

Flávia Almeida mostrou seu próprio celular, era novo e o WhatsApp mal tinha conversas, ela não estava mentindo.

Paulo Silva franzia a testa, demorou até dizer, "O papel da nobre já foi definido, o contrato foi assinado esta manhã."

Flávia Almeida deu uma pausada e logo sacou que tinha rolado uma armação, e o mais provável é que fosse o ator que tinha ido lá assinar contrato no lugar dela.

Ela já tava ligada que o meio artístico era um oceano de intrigas, mas não imaginava que ia pegar uma rasteira logo na primeira audição.

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