— Se continuar esfregando o balcão desse jeito acabará fazendo ele sumir.
Eu paro de esfregar e olho para Valéria.
— Se eu não esfregar o balcão desse jeito, ele nunca vai ficar limpo.
Ela começa a secar os pratos.
— Deveria gastar suas energias em outras coisas.
— Tipo o quê? Lavar os banheiros? A cozinha? Daqui a pouco chego lá. — Debocho.
— Sabe o que estou falando, Aria.
Olhei para ela e suspiro.
— Não começaremos com isso de novo.
Valéria próxima de mim e sorrir.
— Essa cidade não te merece. Você é inteligente demais para se afundar nesse restaurante.
Olho ao redor. Falta pouco para às sete da noite. A área do restaurante está quase cheia. Hoje estou no bar. Não é um restaurante de cinco estrelas, mas é o melhor da cidade. Salamanca, menos de seis mil habitantes. E só preciso de uma oportunidade para ir embora. Oportunidade que nunca chega.
— As coisas não estão muito favoráveis para meu lado, Valéria.
— Sei que tem suas economias. - Ela ergue uma sobrancelha. - Pode não ser o bastante para viver na cidade grande, mas sei que chegando lá dará um jeito.
— Você confia demais em mim. - Volto a esfregar o balcão.
— E você deveria fazer o mesmo.
Ela fez um carinho no meu ombro. Voltamos ao trabalho sem tocar mais nesse assunto ou qualquer outro. Sexta a noite o bar tem costume de encher, então me preparo para a noite longa. A parte chata é ter que lidar com os bêbados. Sempre tem um chato. Entrego bebidas para um casal sentado no balcão e recolho os copos de outros.
— Com licença?
Deixo os copos na pia e me viro. Olho intrigada para o homem à minha frente. Não dá para ver muito seu rosto devido ao boné, mas pelas suas roupas de grifes ele não é daqui. Claro que ninguém dessa cidade fosse notar a diferença.
— Por acaso está foragido? Porque escolheu Salamanca para se esconder, não foi muito inteligente. - Me aproximo colocando as mãos na cintura. - Suas roupas chamam muita atenção.
Ele sorriu me olhando de cima a baixo. Ele tem um sorriso bonito. Olho ele com mais atenção, eu sinto que conheço ele de algum lugar.
— Você tem um olhar bom. - Sua voz é grave e baixa. Ele continua me olhando. - Mas ainda assim eu poderia ser um turista.
Apoio minha mão no balcão. Mesmo não podendo ver seu rosto direito, eu sentia seu olhar em mim.
— Você com certeza tem bom gosto. - Faço um sinal com a mão mostrando o lugar. - E não escolheria esse lugar.
Ele tem postura. Costas retas, poucos movimentos, fala o necessário, observado… Aqui o povo fala pelos cotovelos. Ele olha ao redor.
— Não é tão ruim assim. Claro que já estive em lugares melhores.
— É de Nova York? - Não contenho minha curiosidade.
— Sim, Upper East Side.
Olho para ele erguendo uma sobrancelha. Upper East Side? Sério? Esse homem mora em um bairro grande de Nova York que ocupa o lado leste do Central Park. É um bairro caro e luxuoso. Nego com a cabeça, deixando esse assunto para lá.
— Quer beber o quê?
Ele deita a cabeça de lado dando um sorriso sarcástico.
— Já perdeu o interesse por mim?
Ele abre um sorriso mostrando seus dentes brancos e perfeito estado. Eu me perco em seu sorriso, ao contrário de antes que seu sorriso foi mais contido. Passo a minha língua pelo dente como se quisesse ganhar tempo. Quem é esse homem? Antes que eu pudesse falar, um homem bêbado aparece batendo com força o copo no balcão.
— Quero mais cerveja! – Exigiu.
— Senhor, Fuller, por favor tenha calma… - Eu peço.
— Cala boca, vadia e pega mais cerveja para mim.
Calma, Aria. Calma, Aria. Eu pego seu copo e cheio de cerveja.
— Aqui. - Entrego para ele.
— Você deveria ter mais respeito com as mulheres. - Olho para o homem misterioso. - E não é assim que se trata uma. Aposto que se for gentil, ela retribui.
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