Deirdre ficou comovida com as palavras de Sam e, tentando conter as lágrimas, abaixou a cabeça para controlar as emoções.
― De qualquer forma, isso não é mais importante. Fui eu que delirei o suficiente para pensar que Brendan não favoreceria ninguém em detrimento da verdade. ―
Agora que Deirdre havia dito isso, ela achou a ideia estúpida e ridícula.
Os humanos eram geralmente sentimentais. Além do mais, Charlene era a mulher que Brendan amou por toda a vida. Portanto, a vida de um cachorro e uma verdade trivial não eram nada comparadas a esse fato.
Sam observava Deirdre, com um olhar de preocupação quando ouviram o barulho do motor de um carro se aproximando e desligar, dentro da propriedade.
Brendan tinha voltado?
― Que horas são? ― Deirdre perguntou a Sam.
― São três horas da tarde. ―
Brendan deveria estar trabalhando, em seu escritório na empresa. Por que ele voltaria no meio da tarde? Antes que qualquer um deles pudesse reagir, Brendan estava na porta. O homem viu Deirdre e o segurança juntos e franziu ligeiramente as sobrancelhas.
Sam cumprimentou Brendan com profissionalismo e saiu. Enquanto isso, como Deirdre sentia uma forte dor de cabeça, foi até a cozinha pegar um comprimido analgésico. Mas, Brendan a seguiu.
O homem tinha uma aura forte, então mesmo que ele não falasse e seus passos fossem silenciosos, a jovem sempre sentiria arrepios em sua presença.
― Indo embora assim que cheguei? ― Brendan disse em um tom indiferente e com a frieza habitual. Só quando enfrentava Charlene é que mostrava rara ternura.
Com os olhos baixos, Deirdre se atrapalhou para abrir o armário do canto esquerdo e, enquanto procurava pelo frasco, explicou:
― Não foi isso, só quero tomar alguns analgésicos. Estou com dor de cabeça desde que acordei, não faz muito tempo. ―
― Você não comeu nada ainda hoje, não é? ―
― Não, eu não tive fome ― respondeu Deirdre. Ela encontrou o frasco, desatarraxou a tampa, mas antes que pudesse pegar um comprimido, o remédio foi tirado de suas mãos.
Em seguida, Brendan entregou uma embalagem em suas mãos, dizendo:
― Não faz bem tomar remédio de estômago vazio. Coma isso primeiro. ―
― O que é isso? ―
A embalagem era bastante pesada e parecia conter algum tipo de comida.
Brendan calmamente mudou sua expressão:
― Abra e você saberá. ―
O homem tinha enfrentado duas horas de fila para conseguir comprar aquela iguaria específica. Mas, decidiu que o esforço valeria, quando lembrou o quanto Deirdre apreciava aquilo.
A jovem não sabia por que Brendan havia entregado aquela embalagem a ela, mas se atrapalhando um pouco para abrir, tirou a comida da caixa e foi atingida pelo cheiro forte e característico de doce. Antes mesmo de pensar no que fazia, pegou o conteúdo e levou à boca.
A sensação pegajosa em na língua fez Deirdre engulhar e cuspir.
Brendan ficou furioso:
― O que foi? ―
Ele sabia que Deirdre não podia estar grávida. Por isso, se perguntou se ela estava resistindo a comer a sobremesa oferecida de propósito, como forma de despeito. Por outro lado, Deirdre sentia tanta ânsia de vômito que seus olhos ficaram vermelhos. Por isso, ela jogou fora a sobremesa em sua mão, sem pensar duas vezes.
A trufa de chocolate com recheio de maracujá caiu no pé de Brendan e Deirdre enfiou a boca debaixo da torneira, tentando lavar, mas não conseguia parar aquela sensação de náusea.
Brendan franziu as sobrancelhas e seu rosto ficou sombrio. Ele estendeu a mão para agarrar o ombro de Deirdre e disse, resistindo ao impulso de ficar com raiva:
― O que você quer com isso? Essa não era sua sobremesa favorita? ―
― Minha sobremesa favorita? ― Deirdre cerrou os dentes para engolir o ciúme e zombou com os olhos vermelhos: ― Não, você está enganado. É a favorita de Charlene. Eu odeio trufa com recheio de maracujá! ―
― Impossível! ― Brendan atirou de volta. ― Lembro-me claramente que, quando comprei para você, no aniversário de Lena, você comeu tudo e ainda pediu que eu comprasse mais! ―
Deirdre quis rir, mas as lágrimas brotaram de seus olhos. A razão pela qual ela tinha comido tudo era porque Brendan tinha dado a ela e, na época, o homem era tudo para ela. Mesmo que ele tivesse comprado o doce que ela mais detestava, mesmo que ele tivesse dado a ela um pedaço de carne crua e ensanguentada, ela o teria comido de bom grado. Afinal, havia apenas um punhado de coisas que Brendan compraria para ela.
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