Depois de jantar com os colegas, Marília pegou um táxi para voltar para casa. O carro parou no meio do trânsito quando o semáforo fechou no cruzamento. Marília pegou o celular para olhar as horas, quando ele começou a vibrar.
Era uma ligação.
Ao ver o nome "Rômulo", Marília hesitou. Não queria atender.
Mas, se lembrando do que Selma dissera mais cedo, acabou clicando em "atender". Sua voz soou fria:
— Qual é o assunto?
— Você precisa vir para o Espaço Palmeiras! — Marília estava prestes a recusar, mas Rômulo continuou do outro lado com urgência. — A Zélia acabou de me ligar, perguntando onde o Anselmo está. Eu passei o endereço para ela, e ela deve chegar a qualquer momento. Estou com medo de que ela faça alguma confusão!
— Já estou indo!
Nesse momento, o semáforo abriu, e Marília pediu ao motorista que virasse ali mesmo, no cruzamento.
...
Ainda bem que o Espaço Palmeiras não ficava longe. Cerca de dez minutos depois, o táxi parou em frente à entrada do clube.
O Espaço Palmeiras era um clube de alto padrão em Serenópolis e o ponto de encontro onde Anselmo e seus amigos sempre se reuniam. Qualquer festa ou evento organizado por eles acontecia ali. O aniversário de Marília, alguns dias antes, também havia sido celebrado lá.
Marília era uma frequentadora assídua do clube, e todos a conheciam bem.
Quando chegou ao segundo andar, ela foi direto ao camarote. Já na porta, ouviu o som de algo se quebrando lá dentro. Seu coração deu um salto. Imediatamente, segurou a maçaneta e empurrou a porta.
— Zélia!
Marília avançou rapidamente e tirou a garrafa de vinho que Zélia segurava no alto.
Rômulo e Teodoro suspiraram aliviados ao vê-la.
— Mimi, o que você está fazendo aqui? Foi algum desses dois idiotas que te chamou?
Zélia lançou um olhar de reprovação para Rômulo e Teodoro.
Teodoro imediatamente negou:
— Não fui eu!
— Então foi você! — Zélia fixou os olhos furiosos em Rômulo.
Rômulo soltou uma risada nervosa e, meio culpado, disse:
— Eu só não queria que você quebrasse tudo aqui! Se isso virar um escândalo, a reputação da Mimi também será prejudicada. Não acha?
— Prejudicada? O culpado é esse canalha do Anselmo, que traiu e enganou a Mimi! Foi ele quem errou com ela...
— Zélia, não pense que só porque o seu irmão é o Adalberto eu não tenho coragem de enfrentá-la!
Anselmo a interrompeu bruscamente, com a voz cheia de rancor.
Marília percebeu que ele estava encharcado de vinho. O líquido vermelho-escuro, com um tom puxado para o roxo, escorria pelo rosto e pela roupa dele, pingando no chão. Anselmo, completamente desarrumado, parecia muito distante da imagem do "príncipe elegante" que costumava exibir.
— O quê? Vai me bater agora? Vamos lá! Bate! Quem tem medo de você? Hoje eu vou dar uma lição nesse canalha por tudo o que ele fez à Mimi!
Zélia arregaçou as mangas, pronta para partir para cima dele.
Marília se apressou a segurá-la:
— Zélia, vamos embora, por favor! Eu preciso falar com você!
— Só depois de dar uma lição nesse idiota!
Todos no camarote olhavam na direção deles.
Anselmo, com o rosto sombrio, encarava Zélia, claramente irritado com a cena. Ele então se virou para Marília e, com a voz gelada, disparou:
— Você não acha que já chega?
Marília mordeu os lábios, prestes a responder, mas foi interrompida.
— Com que direito você fala assim com a Mimi? — Zélia tentou avançar de novo, mas Marília a segurou firme. — Mimi, me solta! Eu estou aqui para te defender...
— Defender? — Anselmo soltou uma risada fria, afrouxou o botão do colarinho, visivelmente furioso. — Marília, o que foi que eu te fiz? Todos esses anos você viveu às custas da família Pereira! Se não fosse por mim, o que você seria agora?
O rosto de Marília ficou pálido.
— Sim, eu tive um relacionamento com você. Mas isso significa que sou obrigado a ficar com você para sempre? Até casais casados podem se divorciar. Eu nem sequer dormi com você, então com que direito você me chama de canalha? Agora eu entendo o que o tio Leovigildo sentiu naquela época. Você é igualzinha à sua mãe. Ter cruzado o caminho de vocês foi a maior desgraça da minha vida...
Plaft!
Um tapa forte acertou o rosto de Anselmo.
A palma da mão de Marília estava dormente de tanto que doía, mas ela não sentia. Todo o sangue de seu corpo parecia ter subido para a cabeça, seu corpo tremia de raiva, e as lágrimas caíam sem controle:
— Anselmo, você ainda se considera humano ao dizer essas coisas?
— Anselmo, seu desgraçado! Você sabe muito bem como a mãe da Mimi faleceu, e ainda assim tem a coragem de dizer algo tão cruel, ferindo diretamente o coração dela? Você realmente não vale nada!
Os lábios finos de Anselmo se comprimiram em uma linha reta.
Zélia pegou novamente a garrafa de vinho e tentou arremessá-la.
Rômulo e Teodoro correram para contê-la.
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