— Estupro? — Leandro arqueou as sobrancelhas, olhando para ela friamente.
Marília, sem mostrar vergonha ou hesitação, assentiu com a cabeça:
— Eu estava bêbada naquele dia, sem plena consciência, e ter relações com uma mulher nesse estado é estupro. Isso é um conhecimento básico de direito, Dr. Leandro, o senhor não sabe disso?
O rosto de Leandro ficou sombrio, sua mandíbula se contraiu, e, após um momento de silêncio, ele disse de repente:
— Você pode me denunciar.
Marília não esperava que ele fosse tão descarado, se recusando a dar a ela uma saída digna. Esse hipócrita com certeza estava contando que ela não teria coragem de levar o caso adiante!
Ela já havia se conformado com o que tinha acontecido naquela noite, mas, vendo agora a atitude de Leandro, como se ele fosse imune a qualquer constrangimento, ficou furiosa:
— Leandro, pare de fingir que é tão íntegro, como se ter algo a ver comigo fosse um fardo insuportável para você. É óbvio que você se sentiu atraído por mim! Embora eu não me lembre de tudo o que aconteceu naquela noite, ainda estava consciente quando você me segurou e me beijou!
Leandro olhou para ela impassível, sem demonstrar nenhuma mudança em sua expressão.
Marília sentiu um vazio no coração, mas continuou:
— Você gosta da comida que eu faço. Sou capaz de satisfazer tanto o seu estômago, quanto o seu corpo. Uma namorada perfeita como eu, onde mais você vai encontrar? Você já não é tão jovem, Leandro, nunca pensou em me dar uma chance?
— Marília, você não tem vergonha?
— Homens podem cortejar mulheres, mas por que uma mulher perseguir um homem deveria ser vergonhoso?
Marília levantou o queixo, indignada, o encarando.
Sob o cabelo curto e preto perfeitamente penteado, o rosto dele era impecavelmente bonito, austero e frio. Os óculos de armação dourada que usava lhe davam um ar de intelectual, mas também uma pitada de canalha refinado.
Era evidente que um homem como ele seria difícil de dominar.
Mas Marília não se preocupava com isso agora. Ela só queria transformar Leandro em seu namorado o mais rápido possível, para provar a todos que ela, Marília, não dependia de Anselmo, que poderia encontrar alguém ainda melhor.
Leandro olhou para a teimosia nos olhos dela, franziu as sobrancelhas, e, nesse exato momento, se ouviu uma batida na porta. A voz de Serafina veio do lado de fora:
— Posso entrar?
Assim que a mulher terminou de falar, a porta foi aberta.
Marília teve que engolir sua irritação por ora.
Quando Serafina viu que só havia os dois na sala, ignorou Marília e sorriu para Leandro ao perguntar:
— Já terminou?
Leandro assentiu:
— Vamos.
Ele passou por Marília sem hesitar, seus passos longos e elegantes não diminuíram nem por um segundo.
Marília observou Leandro sair com outra mulher, desaparecendo de sua vista.
Seu coração estava cheio de raiva. Ela achava que finalmente havia feito algum progresso. Logo pela manhã, fora ao mercado comprar os ingredientes e passou duas horas cozinhando, mas, no final, ele ainda a tratava com aquele rosto frio.
Ele nem sequer pensou no esforço que ela fez para preparar aquela refeição!
Marília pegou os pratos que havia preparado e saiu.
Lá fora, o sol brilhava intensamente. Com um calor desses, os pratos não podiam ficar muito tempo nas embalagens, ou estragariam. Marília decidiu encontrar um lugar para pedir uma bebida e almoçar enquanto a comida ainda estava quente.
Enquanto procurava uma loja, viu uma senhora idosa pedindo dinheiro na rua:
— Boa moça, será que poderia me dar um pouco de dinheiro para comprar algo para comer? Estou com hipoglicemia...
Naquela movimentada rua comercial, cenas como essa eram comuns. O cenário de idosos e crianças pedindo esmola já não impressionava ninguém. As pessoas apenas ignoravam e seguiam em frente.
Marília também já tinha visto isso várias vezes, mas, quando ouviu a idosa mencionar hipoglicemia, instintivamente abriu a bolsa, retirou um pãozinho e um chocolate, que sempre carregava consigo. Ela caminhou até a senhora e os entregou.
A idosa pegou os itens rapidamente e disse:
— Obrigada. — Quando viu claramente o rosto bonito da jovem à sua frente, os olhos turvos da idosa brilharam instantaneamente.
Marília já estava prestes a ir embora quando a senhora a chamou apressadamente:
A idosa parecia culpada.
Marília pensou no jeito frio e arrogante de Leandro e, afinal, ele nem se importava.
— Isso não era para o meu namorado. Eu não tenho namorado.
— Uma moça tão bonita como você, solteira? — A idosa ficou animada com o assunto e disse. — Meu neto tem 28 anos e também não tem namorada. Que tal a vovó apresentar vocês dois? Quem sabe vocês se dão bem?
Marília não gostava muito de ser envolvida em encontros arranjados, mas ao ver o entusiasmo no rosto da idosa, ela entendeu o jeito de pensar da geração mais velha e decidiu não discutir. Apenas pegou o celular e perguntou:
— Qual é o número do seu neto?
A senhora, pensando que o neto poderia vir conhecê-la, rapidamente passou o número.
Marília discou e, logo depois, entregou o celular à idosa.
O telefone tocou por um momento e logo foi atendido. Assim que ouviu a voz do neto, a idosa chamou imediatamente:
— Leandro, Leandro, é a vovó. A vovó está perdida na rua. Perdi meu celular e minha carteira... Não se preocupe, conheci uma boa moça, muito gentil. Ela está cuidando de mim... Onde estou?
Marília estava comendo e não ouviu o que a senhora dizia, mas viu que ela levantava a cabeça, olhando ao redor de maneira confusa, sem conseguir explicar direito onde estava.
— Deixe que eu explico. — Marília pegou o celular, o colocou no ouvido e, sem dizer uma palavra a mais, respondeu. — Estamos no centro, em frente ao Hospital São João, na Rua da Elegância Francesa, na cafeteria Cantinho do Café. Estamos sentadas perto da porta, junto à parede de vidro. Quando entrar, poderá nos ver.
Depois de um momento, uma voz masculina e grave soou do outro lado da linha:
— Entendido. Estarei aí em breve.
Marília estava prestes a levar o café à boca quando ouviu aquela voz familiar. Sua expressão se tornou estranha.
Assim que o outro lado desligou, Marília abaixou o celular e olhou para o número registrado no histórico de chamadas.
Não podia ser coincidência... Mas então ela se lembrou de que a idosa havia chamado Leandro.
Marília levantou a cabeça e perguntou:
— Seu neto trabalha com o quê?

Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Ela é o Oceano, Eu Sou o Náufrago
Tantos dias sem atualizações, como q da sequência em livros assim ? Cê tá Loko ....