Dessa vez, Marília nem perguntou e já serviu duas tigelas de arroz, se sentando à mesa junto com ele.
Leandro franziu as sobrancelhas e a observou. Seu olhar claramente a questionava:
"Por que ela aparecia ali sem ser convidada novamente?"
Marília fingiu não perceber a falta de boas-vindas. Pegou os talheres ainda limpos e colocou um quiabo no prato dele, sorrindo:
— Esse prato é feito com frango e quiabo. Experimente e veja se gosta.
Ao se deparar com o olhar cheio de expectativa e a tentativa de agradá-lo, Leandro se lembrou do jeito como ela lhe oferecera água com mel na hora do almoço. O mesmo olhar. Parecia um cachorrinho abanando o rabo, tentando ganhar sua simpatia.
Ele sabia que não queria que ela se aproximasse, mas, desde aquela noite no hotel, quando lhe ligou, Marília começou a aparecer repetidamente em sua vida.
Na verdade, ele não deveria tê-la levado para casa.
— Uma garota como você não devia ficar vindo aqui o tempo todo.
Era uma rejeição direta e clara.
Marília entendeu perfeitamente o que ele quis dizer, mas escolheu fingir que não. Piscou os olhos com um ar inocente e suplicante:
— Não pode ao menos me deixar aproveitar uma refeição? Você nem vai conseguir comer tudo e, no fim, vai acabar jogando fora. Que mal há em dividir comigo?
Antes que Leandro pudesse responder, Marília pegou o celular e abriu o histórico de transferências do dia anterior para mostrar a ele.
Ela era esperta. Antes de vir, já havia apagado o histórico das conversas. Agora, o que Leandro via eram apenas os dois depósitos que ela havia feito, ambos de trinta mil, totalizando sessenta mil.
Os horários das transferências estavam bem visíveis.
— Eu realmente estou sem dinheiro. Meu salário mensal é apenas sete mil. Depois de pagar cinco mil de aluguel, só me restam dois mil para passar o mês. Ainda tenho que viver, comprar roupas, produtos de cuidados com a pele, pagar contas de água e luz... Dois mil não dão para nada!
Marília também mostrou os registros do seu salário sendo depositado na conta. Todo mês era basicamente sete mil. Nos melhores meses, chegava a oito ou nove mil, mas, mesmo assim, um ou dois mil a mais ainda não eram suficientes.
No momento, o saldo no cartão dela era de apenas vinte mil. Se Leandro tivesse aceitado aqueles vinte mil no dia anterior, ela teria que pedir dinheiro emprestado para sobreviver.
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