Luto...
Estou acordando em uma sala toda branca, sei que estou no hospital por causa do cheiro tão conhecido por mim. E então me lembro o porquê estou aqui e comecei a chorar. Minha mãe vem até onde estou e diz:
__ Calma meu amor. Não é bom chorar estando assim no seu estado. Fica calma. – ela pede, mas não consigo parar, a dor no meu peito é imensa. Parece que tem uma faca nele. Não consigo respirar direito. Eu não acredito que meu amor, não eu não consigo nem falar nada, não posso nem pensar nisso... Meu Deus que dor no peito, parece que vou sufocar. E chorando eu digo:
__ Como vou ficar calma mãe? Nós não vivemos nada ainda, - soluço mas continuo falando: _Mãe nós tínhamos tantos planos, tantos sonhos, eu estou grávida mãe e eu não contei a ele, porque eu queria fazer surpresa pra quando ele chegasse, - meu coração parece que vai rasgar com a dor que estou sentindo, minha mãe me abraça e eu continuo falando e soluçando ao mesmo tempo: _ Mamãe nós não tivemos tempo, como eu vou ficar calma, fala pra mim como eu vou ficar? Mamãe. Eu quero meu marido, o pai do meu bebezinho, eu quero meu amor, mãe, por favor diz que é mentira!! – choro soluçando, choro com dor, choro copiosamente no colo de minha mãe que tenta me consolar mas não consegue achar as palavras então só me abraça apertado e chora comigo.
Meu coração está dilacerado, doendo, e o choro é pra aliviar, mas nada resolve, então uma enfermeira veio colocar um calmante no meu soro eu apaguei de novo.
Acordei e já era dia novamente, então dormi a noite toda, e quando acordei a minha sogra estava no quarto comigo. E quando ela me vê, desanda a chorar, assim como eu ela perdeu tudo o que tinha.
Então choramos juntas.
__ Eu não tive tempo de dizer a ele sogra, ele nunca vai saber que é papai. – ela me abraça apertado, e diz:
__ As procuras pelo mar estão a todo vapor minha filha, não vamos perder a esperança, que é tudo que temos nesse momento. E eu adorei a notícia que serei vovó, mais um motivo para manter a esperança querida. Precisamos orar pra Deus nos ouvir e trazer ele para nós.
__ Eu sei, eu não vou perder, mas no mar. É pouco os casos de sobrevivência né? – falo o óbvio e choro mais.
__ É sim, o índice é bem baixo. Mas não vamos descansar até encontrar ele ou pelo menos o corpo.
Quando ela diz isso começamos a chorar novamente, e soluçando juntas, não faço a mínima ideia como é perder um filho, mas sei que perder o marido dói demais. Ele é o amor da minha vida. Ele é meu mundo.
Meu pai e meus irmãos entram no meu quarto, e me dão condolências, meu pai me abraça apertado e diz que a busca não deu em nada e que não encontraram ele, o corpo do piloto e o co-piloto estavam boiando na água, sem vida. E o do meu marido não tem nem sinal. Havia um outro passageiro com ele, que também não foi encontrado.
O meu sogro não veio me ver ainda porque ele está lá na Grécia, para acompanhar de perto às buscas. Mas a minha sogra e minha mãe se revezam para ficar aqui no hospital comigo.
“Eu estou bem” fisicamente, mas elas querem me manter aqui para eu não fazer besteira e nem ficar sozinha em casa. Isolada do mundo.
Mas tudo o que eu queria era estar na nossa casa, sentindo o cheiro dos nossos lençóis, das roupas dele, do seu perfume em seu travesseiro, ver as suas roupas ao lado das minhas no closet, seus sapatos, nossas fotos do nosso opulento casamento, nossos vídeos caseiros de nós dois fazendo coisas aleatórias, como cozinhar juntos, decorando um bolo e até vídeos de sexo, guardamos como recordação nossos melhores momentos juntos. Temos vídeos de nós dançando no gelo. Saindo com os amigos, viajando nas férias com a dona Evangelina. E sozinhos na Europa.
Era isso que eu estaria fazendo agora, eu só queria ver o meu marido. Meu amor. Minha vida, o pai do meu bebezinho, que nesse momento não faz ideia do que está acontecendo aqui fora.
Então liguei para a minha mãe, com o telefone do hospital porque meu celular ficou em casa ou eles confiscaram também, para eu não procurar por notícias do acidente pra não ficar mais deprimida ainda.
Ela autorizou a minha alta médica, e disse que já vai trazer e que vai me levar pra casa, agradeci e fui no banheiro me arrumar. Tomei um banho rápido porque pelo o que eu sei, já estou aqui dois dias e duas noites, porque quando me trouxeram já era noite. Agora é quatro da tarde.
Lavei meus cabelos e comecei a chorar novamente, não consigo acreditar que meu marido se foi. Na verdade eu não acredito mesmo, enquanto eu não tiver velado um corpo, eu nunca irei acreditar. Mas eu sinto um vazio tão grande dentro de mim. E o que está me fazendo ficar um pouco conformada é apenas esse ser humano pequenininho aqui dentro de mim. Eu o vi na ultrassom, ele tem apenas sete centímetros mas é tudo pra mim, porque é o meu bem mais precioso, ele é o bebê do amor da minha vida, e mesmo que não encontrem ele, eu serei feliz cuidando do nosso presente.
Terminei meu banho pensando em como vou continuar, preciso juntar os caquinhos do meu coração e continuar vivendo, pela minha família e meu bebê, a família do James também vai estar ao meu lado, e eles estão sofrendo tanto ou mais do que eu, porque era o único filho deles. E vou cuidar da minha sogra que sempre cuidou tão bem de nós dois, ela sempre foi maravilhosa.
Eu estava terminando de me vestir, quando mamãe entrou no quarto e disse:
__ Pronta para ir meu amor?
__ Sim mãe, não tem porque eu ficar aqui dentro, nós estamos bem...
__ Tudo bem, vamos pra casa então.
__ Mamãe eu quero ir para o meu apartamento, por favor, eu preciso ficar lá, sentir o cheiro do meu marido enquanto ainda tem, por favor.
__ Oh meu amor, pra que sofrer filha, você pode evitar tudo isso!
__ Eu preciso mãezinha, é uma etapa do luto que preciso seguir, pra conseguir virar a página do capítulo, não é assim que auxiliamos os pacientes aqui no hospital?
__ Sim meu amor, mas quando acontece com a gente é diferente né?
__ Nem consigo acreditar que isso está acontecendo comigo. – digo começando a chorar novamente.
__ Mas está meu amor, e agora precisa ser forte para cuidar do meu netinho ou netinha.
__ A senhora está bem com essa revelação?
__ Estou feliz demais, sempre quis ser avó, e vocês dois eram tão perfeito juntos, tanto que eu não via a hora de ter um bebê correndo pela casa. Vocês até que demoraram. – ela ri e uma lágrima corre de seus olhos e ela continua. __ Mas estou feliz, apesar das circunstâncias, eu quero que saiba filha que estarei aqui pra vocês tá bom?
__ Obrigada mamãe, vamos então?
__ Sim, deixa eu só pegar a sua bolsa... – ela me trata como se eu estivesse doente, mas não estou, só grávida, mas o meu coração sangra.
Meu motorista já estava esperando nós na frente do hospital, e abriu a porta para nós entrar.
Chegamos em casa bem rápido e na saída o meu motorista diz:
__ Meus sentimentos senhora, eu gostava muito do senhor James. A minha esposa pediu para te enviar as condolências dela também. Mas eu acredito senhora que ele vai voltar.
__ Obrigada senhor Hugo, eu também acredito nisso de todo o meu coração. – digo confiante.
A minha mãe escutou a nossa conversa, mas não se meteu, ela não quer que eu tenha esperanças e depois me frustre com tudo. Eu entendo ela, mas não posso perder as esperanças quando se trata do meu marido.
Entrei no meu apartamento e comecei a chorar novamente, porque aqui tem todas as nossas lembranças, a nossa vida, aqui é a nossa casa, nosso cantinho, tudo aqui lembra ele. Sentei no meu sofá e deixei as lágrimas caírem, porque eu preciso disso. Olhei para a minha mãe e disse:
__ Pode ir mãe, eu gostaria de ficar sozinha, sofrer um pouquinho, ter o meu luto, falar com o meu marido, olhar as nossas coisas, assistir nossos vídeos, mas eu preciso ver isso sozinha por favor. Eu não consigo aceitar ainda, mas eu preciso me acostumar a viver sem ele.
__ Eu queria ficar com você filha.
__ Não precisa mãe, a minha rotina não era com você aqui em casa. – digo por fim.
__ Tudo bem filha, se precisar de mim, é só me ligar tá bom, promete que vai se alimentar direitinho pelo seu bebê, e que vai dormir tá bom? – ela pede me abraçando.
__ Tá bem eu prometo, vou cuidar da minha saúde para ter um bebê bem saudável.
__ Tá bom. Eu te amo filha!
__ Também te amo mamãe.
Ela se vai e fico aqui dentro sozinha, eu e meu bebê e meus pensamentos. Choro muito de soluçar, porque não posso viver sem o James. A minha governanta não está aqui ainda. Mas daqui a pouco ela chega, então vou aproveitar que estou só, e vou para o meu quarto, me tranco e pego meu celular para ver as notícias, coloco no navegador o nome do meu marido, e aparece as manchetes com as descobertas, e não encontraram ele. Mas já faz dois dias que a equipe de busca está procurando, e não acharam nenhuma evidência que ele possa estar vivo. As lágrimas caem grossas dos meus olhos. Deito na minha cama e pego o travesseiro dele, e sinto o seu cheiro, e isso me acalma e traz paz para o meu coração.
Ainda estou chorando, mas agora estou apenas deixando as lágrimas levarem toda a minha angústia. O vazio no meu peito é gigante. A dor que sinto dentro do meu âmago, só o James pode curar.
As notícias não saem da minha cabeça, talvez por isso a minha mãe tirou o telefone de mim, porque a minha memória fotográfica vai ficar vendo e revendo todas as cenas que eu li agora. E preciso ocupar a minha mente ou não vou conseguir fazer mais nada.
Comecei a andar de um lado para o outro no meu quarto, meu coração acelerado e as mãos suando.
Em dois anos que estamos juntos, eu nunca invadi a privacidade do meu marido, eu sempre soube que ele escreve um diário, com tudo o que acontece com ele, e com as descobertas que ele fez em algum estudo ou alguma cirurgia bem sucedida e nova.
Peguei o seu diário na nossa mesinha que tem ao lado da nossa cama. No total aqui tem todos os diários dele, desde quando era adolescente e começou a escrever. Em cada capa está escrito o ano que foi escrito. Peguei o do ano em que nos conhecemos, ou seja do dia da palestra.
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