Faltam 30 dias para eu ir embora — Sr. Gabriel perdeu o controle romance Capítulo 882

Na verdade, depois das palavras do Sr. Henrique, Beatriz já havia aceitado quase por completo aquela realidade. Mas, ainda assim, queria ouvir mais, talvez buscasse uma confirmação definitiva.

— Mas você… — Letícia hesitou, aflita.

Lembrou-se do que o secretário de Renato lhe contara: que Beatriz, sob forte estresse emocional, chegara a apresentar sintomas físicos graves. Não tinha coragem de deixá-la passar por isso outra vez.

— Melhor não falarmos sobre isso agora. Quando você estiver mais recuperada, conversamos. — Sugeriu Letícia.

Mas Beatriz balançou a cabeça e, com os olhos semicerrados, murmurou:

— Pode… Falar. Eu consigo… Aceitar…

No fundo, já sabia de tudo. Apenas queria ouvir da boca de Letícia mais uma vez.

Diante de sua insistência, Letícia não teve outra escolha. Segurou firme a mão dela, o rosto contraído pela preocupação, e confessou:

— Na verdade, eu mesma só soube hoje de manhã. Ontem à noite, quando aconteceu o acidente, eu não sabia de nada. Mas hoje, sem conseguir falar com você, já estava pronta para ir atrás de você pessoalmente… Foi o Rafael quem me contou o que tinha acontecido.

Falava com calma, num tom suave, como quem teme ferir ainda mais uma ferida aberta.

Beatriz a escutava em silêncio. Os fatos, porém, não mudavam: ela era, de fato, a filha perdida da família Cardoso, e Vitória havia usurpado sua identidade para se apresentar como tal.

E, para tomar de vez o lugar que não lhe pertencia, tentara mais de uma vez acabar com a sua vida.

— Aquela desgraçada da Vitória… Vou fazer questão de desfigurar a cara dela a tapas, até virar um porco. Só assim vou sentir que fiz justiça por você. — Explodiu Letícia, cerrando os punhos de raiva.

— Colocar aquela desgraçada na cadeia ainda seria pouco. — Rosnou. — Quero que ela passe a vida inteira sendo atormentada, sem poder viver e sem conseguir morrer.

O ódio queimava no peito de Letícia; se pudesse, naquele instante, despedaçaria Vitória com as próprias mãos.

Beatriz, vendo a amiga indignada por ela, mergulhou em lembranças.

Sim… Desde pequena era assim. Sempre que tinha alguma coisa boa, Vitória inventava uma desculpa convincente para tomar emprestado.

A corrente, por exemplo: dissera que, quando Beatriz a usava, só se entristecia pensando nos pais. Então, como boa amiga, se oferecia para guardá-la.

O vestido: dizia que era bonito demais, que chamaria inveja e afastaria as outras crianças. Assim, gentilmente, levava o vestido de princesa para si, deixando um qualquer para Beatriz.

E assim foi em tantas outras situações… Até com um simples chocolate. Vitória dizia que, se Beatriz comesse, engordaria; oferecia-se, então, a engordar no lugar dela.

E assim, uma vez após outra, foi se apropriando de tudo.