Ficar ou correr? romance Capítulo 134

Percebendo a minha confusão, ela suspirou impotente.

“Deixa para lá, fique com o Pedro. Afinal de contas, você vai continuar relutante em deixá-lo até que a decepção finalmente te consuma." Após uma pausa, ela entrou no banheiro, suspirando enquanto caminhava. O que ela disse era verdade e eu não tinha nada a dizer. Quando ela voltou, começou a secar o cabelo e perguntou: "O que você quer comer mais tarde?"

"Qualquer coisa serve."

Sentia inveja da sua extrema determinação. Sempre fui o tipo de pessoa que não conseguia renunciar às coisas, e ao longo do tempo, algumas pessoas se indignavam com esse meu comportamento idiota.

São Vicente era um lugar perfeito para se viver. Era uma cidade de ritmo lento, com custos de vida mais baixos, clima agradável e muita comida boa. Não importava onde eu estava, na cidade ou no subúrbio. São Vicente era um cidade completamente pitoresca. Na primavera, a cidade era coberta pelas flores de jacarandá azul. No verão, era a vez das sibipirunas com sua copa amarela. No outono, as azaleias se espalhavam pelas ruas. No inverno, vez ou outra, uma leve geada cobria tudo. Não me admirava que João continuasse dizendo que deveria me mudar para cá.

Márcia era do tipo que comia de tudo. Agora que ela tinha um bebê dentro dela, ela não precisava mais se preocupar com seu corpo. Como ela não sofria com um enjoo matinal severo, passamos grande pare de nossos dias comendo e fazendo compras. Passados alguns dias em São Vicente, Márcia me disse que planejava ir para o interior por alguns dias, mas eu não fui com ela. Não importava o que acontecesse no futuro, tinha que esclarecer as coisas com o Pedro. Por isso, comprei uma passagem de volta para Augusta, enquanto Márcia comprava a sua. Nos separamos na estação. Ao embarcar, logo encontrei um assento na janela.

Quando eu era criança, lembrei-me de ouvir Auld Lang Syne, enquanto brincava nas ruas de Passo Largo. Naquela época, não entendia por que tantos adultos amavam aquela música, e não entendia por que ela foi tão popular. Pensando agora, percebi que a música tocava algumas pessoas. Era uma canção que simbolizava os anseios que não podiam ser transmitidos por algumas palavras em uma época em que a tecnologia não era tão avançada. Perdida em pensamentos, não percebi que Marcelo se sentou ao meu lado. Só vi seu rosto quando me virei após o ônibus começar a andar.

"Que coincidência, Letti."

Eu rapidamente me virei para evitar ver seu sorriso, me sentindo irritada. Ele era bom com tecnologia, e conseguir um assento ao lado do meu foi uma tarefa bem fácil para ele.

"O que você quer?" Eu não era do tipo especial, então não entendia o porquê de ele continuar vindo atrás de mim.

Ele não respondeu de imediato, em vez disso, olhou para a paisagem lá fora antes de dizer lentamente: "Quero ser aceito".

Ser aceito?

"Você depende de mim para se sentir aceito?", perguntei confusa.

Ele ficou em silêncio quando se virou para me encarar. Incapaz de compreender suas palavras, fiquei quieta.

A viagem até Augusta durou apenas uma hora. Marcelo se deu ao trabalho de conseguir uma poltrona do lado da minha, mas tudo o que ele fez foi observar a paisagem que se estendia lá fora.

"Queridos passageiros, chegamos à Cidade de Augusta", ouvimos o motorista anunciar. Levantei-me para pegar a minha mala, mas antes que pudesse alcançá-las, ele a pegou. Minhas roupas estavam na mala, então não estava pesada. Marcelo era um pouco mais alto do que eu. Olhei para ele antes de pegar a mala e disse: “Obrigada”.

Com uma mão ele pegou a mala, e com a outra segurou a minha mão estendida. Ao sentir sua mão na minha, franzi a testa e tentei puxá-la para longe dele. No entanto, ele me impediu. “Há muitas pessoas ao redor. Não é seguro."

"Eu sei. Me larga.", falei fechando ainda mais a cara. Era como se ele não me ouvisse. Tentei puxar minha mão várias vezes, mas tudo o que ele fez foi apertar com mais força. Acompanhamos a multidão que desembarcava lentamente. Enquanto saíamos, pude ouvir pessoas conversando em voz baixa.

"Nossa! Que homem lindo!"

"Não olhe para ele. Não vê que ele está acompanhado? E que ela está grávida?"

"Ah, sim... É mesmo. Que pena. Ela é tão sortuda."

Em seguida, Marcelo se virou com um leve sorriso nos lábios. Ignorei sua expressão enquanto continuava a seguir a multidão olhando para o chão. O portão de saída estava lotado. Minha barriga estava grande, mas Marcelo estava me guiando para fora. Felizmente, a maioria das pessoas abriu caminho para mim, então nada de sério aconteceu na nossa saída. Ao deixarmos a estação, Marcelo ligou para alguém antes de me levar até a calçada. Irritada, eu disse:

"Nós já saímos, então é hora de você me soltar. Vou pegar um táxi para casa."

“Pedi a alguém para nos buscar. Vou te levar para casa daqui a pouco." Ele abaixou a cabeça para olhar para mim.

"Vou ficar bem." Estendi minha outra mão para afastar a dele da minha.

No entanto, ele me segurou com força mais uma vez e afirmou:

“Se comporte. As ações da Corporação Carvalho tem caído nos últimos dias. Embora não seja muito tempo, há acionistas que não conseguiram resistir por esses poucos dias. Você acabou de deixar a Corporação Carvalho, e pode encontrar os acionistas que estão atrás de vingança.”

“Não precisa tentar me assustar. Os preços das ações da empresa caíram apenas por uma semana. Então algo assim não vai acontecer." Não investia em ações, então não conseguia entender o que ele queria dizer. Ele olhou para mim como se eu estivesse fazendo um papel de boba.

Um Bentley preto estacionou ali perto. Sem dizer nada, ele entregou minha mala ao homem de preto que desceu do carro. Então, ele me puxou em direção ao carro. Havia muitos táxis por perto, mas já que o motorista dele estava ali, seria um exagero meu recusar. Então, entrei no carro. Marcelo sentou-se ao meu lado e instruiu o motorista:

"Para o Tulip".

"Se não vamos para o Palace, vou pegar um táxi.", falei franzindo a sobrancelhas.

Logo em seguida, me preparei para sair do carro, mas Marcelo me parou. "Já é meio-dia. Por mais que você não esteja com fome, você não vai se importar com o bebê?”

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