Ficar ou correr? romance Capítulo 239

Sem saber o que dizer, apenas a ouvi sem intenção de interrompê-la. Ela pediu ao garçom para lhe servir mais café antes de continuar:

“Quando tinha vinte e quatro anos, nós dois começamos a imaginar nosso futuro. Até imaginei como seria minha vida depois de me casar com ele. Achei lindo e que valia a pena esperar, mas a realidade é cruel. Pouquíssimas crianças nascidas em famílias simples podem facilmente ganhar o respeito dos outros. Somente aqueles que nascem em berço nobre são dotados de superioridade e elegância inerentes, que os fazem se destacar na multidão."

“Pouquíssimas pessoas nascem nobres, pois este é um traço que faz parte do sangue.” Ela olhou para mim com desprezo nos olhos.

Franzi a testa inadvertidamente, mas deixei que ela continuasse. Ela recostou-se ligeiramente antes de prosseguir: “Por causa de minhas origens, fui rejeitada pela família Leão. Sendo a mulher orgulhosa que era, abandonei Fábio em um acesso de raiva, querendo construir uma vida para mim. Então, no dia em que deixei Nova Itália, jurei um dia me tornar alguém que a família Leão admirasse.”

Naquele momento ela riu de si mesma. “Mas o destino é uma coisa engraçada. Só percebi que estava grávida depois de deixar Nova Itália. Meu orgulho não me permitiu voltar para Fábio, mas eu era jovem e era meu primeiro filho, então não consegui abortar. Infelizmente, também não pude criá-la. Enquanto me via presa em um dilema, minha barriga ficou cada vez maior. No final, tive que dar à luz. Pensei em encontrar outro homem para facilitar as coisas, mas como poderia me contentar com alguém além do Fábio? Então, depois de dar à luz, fui para o exterior sozinha.” Notando a tristeza que tomava seu rosto, minhas sobrancelhas se uniram ligeiramente. Aquela mulher tinha sido alimentada pela ambição durante toda a sua vida, mas agora, não tinha certeza se era uma coisa boa. Um breve silêncio se seguiu antes que ela continuasse: “Você sabe como é difícil para uma mulher de vinte e poucos anos viver no exterior? É como andar numa corda bamba. Não conseguia dormir à noite, pois estava atormentada com pensamentos sobre minha filha, sentindo falta dela dia e noite. Mas não podia voltar para buscá-la, não até que eu tivesse economizado dinheiro suficiente e tivesse uma renda estável. Dez anos se passaram num piscar de olhos. Quando voltei para Passo Largo para procurá-la, descobri que ela havia sido expulsa por aquele homem maldito. Minha filha, por quem eu arrisquei minha vida!”

Percebendo as lágrimas se acumulando em seus olhos, abaixei meu olhar quando uma dor surda se formou em meu peito. Mesmo se eu sacrificasse minha vida, nunca seria capaz de recuperar meu filho. Um riso desdenhoso escapou de meus lábios quando olhei para ela novamente.

"E daí? Isso é uma desculpa para machucar os outros?"

Ela balançou a cabeça, acalmando-se antes de responder:

“Dezesseis anos. Esta é a quantidade de tempo que passei procurando por Rebeca. Mesmo enquanto ansiava por ela durante esses dezesseis anos, rezava para que ela estivesse vivendo uma vida boa. Para encontrá-la, não estava disposta a ter um bebê com outra pessoa depois que me casei e preferi ser uma madrasta. Tenho reparado meus erros por tantos anos e agora, eu finalmente a encontrei. Você pode dizer que eu sou egoísta e má. Não vou negar. Mas como mãe, estou disposta a fazer o que for preciso para satisfazer todos os desejos dela. No momento, eu vivo apenas por ela.”

“Você ama sua filha mais do que a própria vida. Não acha que outras pessoas sentiriam o mesmo sobre seus próprios filhos?”, sorri com desdém.

Hah! Quanta arrogância!

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