Ficar ou correr? romance Capítulo 790

Havia muitas coisas que eu ainda não havia conquistado. Eu não queria morrer nem congelar até a morte.

Sob o frio cortante, me dei conta da minha respiração ofegante e do baixo zumbido elétrico do congelador.

Tentei mais uma vez pedir ajuda, mas não consegui emitir nenhum som. O frio perto do topo da minha cabeça começou a penetrar lenta e seguramente. Primeiro, atravessou meu couro cabeludo, depois meu crânio, e então começou a afetar meus nervos. Eles queimavam com dor e ficaram dormentes.

Parecia uma eternidade, ou talvez apenas alguns minutos, mas o ato de esperar a morte me tomar no silêncio sufocante era horrível.

Comecei a sentir sono e cansaço. De repente, lembrei-me de algo que alguém tinha dito há muito tempo. Disseram que a verdadeira morte vem em três formas.

A primeira era a diminuição respiratória. Sua alma e corpo se separariam e de alguma forma sentiria seus membros se endurecendo. Esta era a morte do corpo.

O segundo tipo era ser declarado morto. Quando você parasse de respirar e ficasse deitado na cama, alguém estaria lá para declarar sua morte e informar a hora do falecimento.

O último tipo era a morte na memória dos seus entes queridos. Quando seu corpo e mente se desintegrassem, junto com sua existência no mundo, e todos os vestígios de você na Terra também se fossem. Lentamente, você começaria a desaparecer das memórias dos seus entes queridos, até que um dia, deixasse de existir.

No momento, eu sentia como se estivesse experimentando o primeiro tipo de morte. O som da minha respiração, não, o som do meu coração estava enfraquecendo gradualmente. Ficou tão fraco que eu não conseguia sentir minha respiração mais.

Talvez meu tempo realmente tivesse chegado. Era destinado a ser neste momento.

Justo quando senti meus olhos se fechando, talvez pela última vez, ouvi e senti uma colisão massiva. Deve ter atingido o contêiner em que eu estava.

O barulho ficou mais frenético e urgente; os golpes se tornaram mais fortes e mais agressivos. Quando a brilhante luz branca inundou meus olhos, vi o que parecia ser a forma de uma figura alta e esguia me puxando do abraço gelado da morte e me segurando no calor da vida.

Era demais para descrever; tudo inundou meus sentidos e me sobrecarregou.

A porta se abriu e, embora ainda estivesse abaixo de zero, parecia quente para mim.

Agora eu podia sentir meu corpo, quase congelado, sendo levantado por um par de braços fortes. A figura que me carregava irradiava calor como um forno.

O calor nunca havia sido tão bem-vindo em toda a minha vida. Eu me aninhei mais perto. Um cheiro familiar invadiu minhas narinas, permitindo-me identificar meu salvador. Tentei chamar, mas sem sucesso.

O que eu queria dizer era ‘Obrigado, Pedro’. Mas não consegui.

Por causa dele, todo o terror e tensão que me tomaram nas últimas horas se dissiparam. Fechei os olhos com força e desmaiei.

Tive um sonho muito estranho. Uma mulher bonita estava com um bebê nos braços. Ela caminhou na neve por um longo tempo até não conseguir mais continuar. Então, colocou a criança no chão e ajoelhou-se na neve para beijar o bebê. Ela chorou como se seu coração estivesse se despedaçando.