Ficar ou correr? romance Capítulo 826

Sendo um pouco distraída, andei mais longe do que planejava. Logo, as ruas começaram a me parecer estranhas, então decidi voltar.

“Seu demônio feio! Você parece um imigrante ilegal. Você cheira como o lixo!” Um coro de vozes zombeteiras vinha de um beco próximo. Curiosa, me aproximei para ver melhor.

Vi uma gangue de delinquentes cercando um homem no chão. Pareciam ser jovens que tinham por volta de quinze ou dezesseis anos.

Um deles segurava um balde com algo desconhecido. “Abram caminho, abram caminho. O prato principal chegou!”, ele gritou animado.

Os meninos se dispersaram enquanto o garoto com o balde despejava seu conteúdo sobre o homem no chão. Em um instante, ele estava encharcado da cabeça aos pés.

Os garotos riam alto.

Franzi a testa com desaprovação. O homem no chão tinha a cabeça entre os joelhos. Parecia ser de constituição forte, mas suas roupas estavam rasgadas e esfarrapadas. Sua característica mais marcante era sua pele.

Para mim, ele parecia um homem inofensivo e sem-teto. As crianças pareciam ter mais planos para molhá-lo, então eu gritei: “A polícia está chegando!”

Eram apenas crianças, afinal. Ao ouvir minha voz, elas saíram correndo.

Quando o silêncio voltou, o homem no chão levantou lentamente a cabeça. Seu olhar era frio, mas ele não dava sinais de ter sido intimidado.

Fiquei paralisada de choque ao reconhecê-lo. Daniel novamente! Como ele havia acabado assim?

Após uma breve reflexão, entrei no beco.

Ao ouvir meus passos, ele virou-se e congelou ao me ver.

“Você... você está bem?”, perguntei, sem saber o que mais dizer.

Daniel desviou o olhar e torceu a água extra de sua camisa. “Estou bem!”, respondeu de forma brusca.

Respirei fundo, sentindo uma tristeza no coração.

Suelen ligou para me contar como tinha sido seu dia na escola, eram as pequenas coisas que incomodavam as crianças. Deixei-a falar até que se cansasse.

Desliguei logo depois. Após um dia e meio de sono, não consegui adormecer rapidamente. Pensando na inspeção do Projeto Vila Lavelian no dia seguinte, mandei uma mensagem para Raquel e Marcos para informá-los da inspeção.

Era meia-noite quando o som de um motor veio de baixo. Eu sabia que era Pedro sem precisar olhar. Como não estávamos nos dando bem nos últimos dias, seria melhor para ambos se eu adormecesse rapidamente para evitar um confronto.

A porta se abriu e se fechou, seguida pelo clique do interruptor da lâmpada ao lado da cama. A torneira do banheiro foi aberta e depois fechada. Finalmente, a cama do lado dele afundou com seu peso.

De repente, senti minha cintura sendo abraçada com a respiração de Pedro em meu ouvido. Não esperava isso. Talvez ele sentisse algo diferente em relação a mim hoje.

“Você não está dormindo?”, ele disse baixinho.

Suspirei enquanto a fachada caía por terra. “Não”, sussurrei.

A lâmpada ao lado da cama ainda estava acesa. Pedro me virou para encará-lo. É um bom sinal que ainda não brigamos. “Vamos conversar sobre as coisas?”, ele perguntou.