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Filha Foi Cremada! Onde Você Estava? romance Capítulo 611

Já era tarde da noite.

Naiara não conseguia dormir. Levantou-se em silêncio e dirigiu até o cemitério onde Zélia estava sepultada.

Ao se aproximar, viu uma silhueta familiar, meio ajoelhada diante da lápide de Zélia.

Era Jorge.

Como se sentisse sua presença, Jorge virou-se e seus olhos encontraram os de Naiara.

Ao perceber que era realmente Naiara, Jorge teve uma expressão de surpresa e imediatamente se levantou.

Por ter ficado ajoelhado por muito tempo e se levantar apressadamente, suas pernas não reagiram bem; Jorge cambaleou e acabou caindo de joelhos novamente, batendo-os com força no chão.

Sem se importar com o incômodo e a dor nas pernas, Jorge se apoiou na lápide de Zélia para se levantar mais uma vez e caminhou até Naiara.

Tirou o paletó e colocou sobre os ombros dela.

Naiara, instintivamente, recuou.

Jorge, com amargura no olhar, falou baixinho: "Naiara, não é por outro motivo, nem quero insistir em nada. É só que aqui no alto da serra venta muito. Você acabou de perder o bebê, não pode pegar friagem. Fique com o casaco, depois, quando descermos, você me devolve, pode ser?"

Naiara não recusou, o que significou consentimento.

Jorge imediatamente ajeitou o casaco sobre Naiara, protegendo-a do vento frio do alto do morro.

Fez isso com delicadeza.

Ao ajeitar o casaco, sua mão grande esbarrou por acaso no dorso da mão de Naiara.

A mão dele estava gelada.

Era evidente que já estava ali há muito tempo.

Naiara não disse nada, aproximou-se da lápide de Zélia e começou a arrumar uma a uma as oferendas que trouxera.

Ficou olhando para aquela foto eternizada no mármore, o rostinho de cinco anos de idade.

Seu coração foi se acalmando, mergulhando lentamente em sentimentos profundos.

Sabia que sua escolha tinha sido a certa.

Jorge ficou em silêncio ao lado esquerdo de Naiara, protegendo-a do vento pela última vez.

Era a primeira vez que Jorge e Naiara passavam tanto tempo juntos ao lado de Zélia.

Algo que não tiveram em vida.

E, depois da morte, já não fazia mais diferença.

...

Naiara ainda estava muito debilitada após o aborto espontâneo.

Conseguia descer os degraus, mas com bastante dificuldade.

Jorge agachou-se diante dela, olhando para cima: "Naiara, deixa eu te levar nas costas até lá embaixo. Por favor, não recuse. Só desta vez. Assim que sairmos do cemitério, eu prometo que nunca mais vou insistir com você."

Naiara olhou para o rosto pálido de Jorge, vendo a faixa de gaze ainda presa à sua testa.

Ela já tinha notado isso mais cedo, no hospital.

Ele realmente não estava bem.

Os olhos de Jorge estavam vermelhos, e o olhar dirigido a ela era de profunda tristeza.

Desta vez, Jorge estava mesmo desistindo.

Diante do garoto que gostava, ficou ainda mais envergonhada.

Deitada, sem levantar a cabeça, disse que estava bem e pediu para ele ir embora.

Os dois ficaram naquele impasse por um tempo, até que ela, hesitante, murmurou que tinha ficado menstruada.

Naquele momento, Jorge não pareceu feliz, mas mesmo assim tirou o casaco, amarrou na cintura dela e se agachou à sua frente.

Foi a primeira vez que ele a carregou nas costas.

Deitada ali, sentiu uma segurança imensa e o coração acelerou.

Naiara se perdeu um pouco nas lembranças.

Jorge também se lembrou da primeira vez que carregou Naiara.

Ela foi a primeira — e única — garota que ele carregou nas costas.

Naquele dia, Naiara não só sujou o casaco dele, mas também a camisa.

Mesmo sendo meticuloso com limpeza, quando viu o desespero dela, sentiu uma ternura inexplicável.

Naquela época, achava que só cuidava dela por causa do pedido da avó.

Mas, conhecendo seu próprio temperamento, sabia que, se não fosse por vontade própria, não teria se importado tanto, nem mesmo por um pedido da avó.

Entendeu muitas coisas tarde demais.

Por isso, acabaram se desencontrando.

O caminho de descida, mesmo devagar, chegava ao fim.

Assim como eles, que, enfim, também chegaram ao fim.

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