Filha Foi Cremada! Onde Você Estava? romance Capítulo 635

A noite caíra, envolvendo toda a cidade em um profundo azul-escuro, quase negro.

O celular de Naiara Leite tocou de repente; era uma ligação de Williana, lembrando-a de que a próxima fase da competição estava prestes a começar.

Assim que a etapa recomeçasse, Naiara teria de permanecer isolada por uma semana.

"Profa. Williana, entendi."

A voz de Naiara saiu seca e sem forças. Ela desligou o telefone, sentindo o peso esmagador de uma pedra sobre o peito.

De um lado, a filha que recuperara, mas que ainda parecia tão distante; do outro, o sonho que compartilhava com Zélia desde sempre.

Jorge Martins observou o sofrimento estampado no rosto pálido dela, sentindo o próprio coração se apertar dolorosamente.

Ele se aproximou mais um passo, prometendo com voz grave e solene:

"Naiara, já providenciei a melhor equipe, que ficará 24 horas por dia vigiando a casa para proteger a Zélia. Eu garanto a segurança dela com a minha própria vida."

"Me dê um pouco de tempo, eu juro: desta vez, trarei nossa filha de volta para você, sã e salva! Não vou permitir que ela sofra nenhum dano. Confie em mim mais uma vez, por favor?"

Nos olhos profundos dele, havia uma culpa que parecia impossível de dissipar, mas também uma determinação inabalável.

Naiara não respondeu. Apenas fitou em silêncio a mansão iluminada, até que, exatamente às nove horas, viu as luzes do quarto de Zélia se apagarem de repente.

A escuridão engoliu o último feixe de luz, como se sugasse também toda a força de Naiara.

"...Me leve de volta ao hotel."

Ela finalmente falou, em um tom tão baixo quanto uma pluma.

...

De volta à suíte luxuosa do hotel, Naiara sentia-se como se estivesse trancada numa câmara de gelo.

A imensa tristeza, a preocupação, a culpa e uma saudade sem saída reviravam-se em seu peito como ondas bravias.

Ela se remexeu sem parar, a cama sob seu corpo parecia cheia de espinhos — cada segundo era uma tortura.

No quarto ao lado, Jorge assistia pela câmera de vigilância à expressão dolorida dela, sentindo o coração se dilacerar ainda mais.

Discretamente, ele pediu ao mordomo que acendesse no quarto dela um incenso especial, com efeito calmante e relaxante.

Uma fumaça leve, com aroma fresco de ervas brasileiras, se espalhou suavemente pelo ambiente, finalmente aliviando os nervos tensionados de Naiara e levando-a, pouco a pouco, para um sono profundo e lacrimoso.

Enquanto isso, no quarto de Jorge, as luzes permaneceram acesas durante toda a noite.

Ele ligou seu notebook de alta performance, a luz fria da tela iluminando o contorno duro de seu rosto.

O que fez seus olhos se arregalarem ainda mais foi a origem registrada — norte da fronteira da Birmânia, canal clandestino.

"Norte da Birmânia..."

Essas palavras atravessaram a memória de Jorge como um gelo envenenado.

Pouco mais de seis meses atrás, ele havia recebido uma notícia de seus contatos que permaneceram na região: Valéria Gomes, aquela mulher cruel, havia morrido por lá.

A data...

Uma coincidência assustadora!

Imediatamente, Jorge acionou todos os seus recursos, investigando a fundo aquela trilha gelada.

Comandos foram enviados um a um, os canais criptografados reluzindo no escuro.

Algumas horas depois, um relatório urgente, com o mais alto nível de sigilo, chegou à sua tela.

A conclusão, fria e carregada de sangue:

O coração que batia no peito de Eliana... era, sem sombra de dúvida, o de Valéria.