Lucas estava me esperando e Rosa estava sentada no banco do passageiro. Eu realmente queria dar meia volta e ir embora, mas a razão me fez ficar.
— A chave do carro. — Estendi a mão para Lucas ao pedir.
Lucas não falou nada, apenas colocou a chave na minha mão. Contornei o automóvel e fui diretamente para o assento do motorista, sorrindo sob o olhar confuso e surpreso de Rosa.
— Não se preocupe, querida! Você é quase como uma irmã para o Lucas, então pegar carona é algo absolutamente comum. — Em seguida, olhei para Lucas, que ainda estava em pé do lado de fora. — Anda logo, o vovô já está nos esperando.
O silêncio se perpetuou durante todo o percurso. Tudo estava quieto como se estivéssemos num caixão.
Rosa queria conversar com Lucas, mas provavelmente por ter que ficar virando a cabeça, pareceria um pouco estranho.
Percebendo que eu estava desconfortável, Lucas de repente abriu uma garrafa de bebida e me passou.
— Você quer um pouco de Suco de manga? Esse é o seu favorito.
Tomei um gole, franzi levemente a testa e então, devolvi.
— Está muito doce, pode ficar!
Naqueles dias, eu apreciava sabores mais azedos; no passado, eu comia de tudo, mesmo o que não me agradava, apenas para evitar o desperdício. Mas naqueles dias, eu nem sequer conseguia me empenhar nisso.
Lucas não pronunciou palavra alguma, apenas recuperou a bebida, como de costume.
— Oferecer bebida a ele após ter bebido não é aconselhável, sabia? A boca abriga diversas bactérias, até a Helicobacter pylori pode ser transmitida dessa forma, — advertiu Rosa com um tom sério.
— Se for por isso, nós dormimos juntos todas as noites, o que é ainda mais arriscado, não é verdade? — Não contive o riso.
Rosa sabia exatamente o que eu queria dizer.
— Jamais passou pela minha cabeça que vocês dois, mesmo sendo quase um casal de idosos, teriam tamanha intimidade.
— Está com inveja? — Lucas inquiriu de maneira fria.
Às vezes, como naquele momento, a maneira como ele tratava Rosa me fazia considerar que talvez não fosse tão apaixonado por ela.
Parecia que essa era a dinâmica com a qual estavam familiarizados.
— É claro que eu estou com ciúmes! — Rosa respondeu com ironia. — E daí?
— Quem se importa?
— É, é, é.
— Quem diria, na noite do seu casamento, ao ouvir que eu tinha um problema, você a deixou de lado para ficar comigo a noite inteira… — Rosa torceu a boca, seus olhos brilhando com diversão,
— Rosa! — Lucas a chamou com firmeza, contudo, o seu rosto ficou pálido.
De repente, voltei à realidade e pisei no freio, parando o carro a tempo antes de cruzar a faixa de pedestres. Observando através do espelho retrovisor, encarei o semblante marcado de Lucas, sentindo meu coração como se estivesse aos pedaços. Um sentimento de injustiça que provocou ardência em meu nariz e nos olhos emergiu inesperadamente.
— Nora! — Lucas, que raramente ficava furioso na minha frente, exclamou.
— Naquela noite, você foi atrás dela? — Minha voz soou amarga quando fiz a pergunta.
Emoções tumultuadas quase me subjugaram. Mesmo agora, apesar de estar em harmonia com Lucas, o fato de ele ter recebido uma ligação na noite do nosso casamento e ter saído sem voltar durante toda a noite ainda era como um espinho cravado no meu coração.
O meu casamento com Lucas foi arranjado por Mauro Franco.
No começo, nós dois éramos como estranhos, e eu nunca tive a oportunidade de perguntar para onde ele foi naquela noite. Esse assunto foi deixado de lado. Todavia, Rosa, sem aviso, arrancou o espinho do meu coração e a cravou ainda mais profundamente.
O meu olhar ia e voltava entre os dois. Eu estava me sentindo como uma piada.
— Você nunca falou sobre isso com a Nora? — Em pânico, Rosa, cobriu a boca e olhou para Lucas. — A culpa é minha, sempre falo demais.
Era como se a Nora dissesse, “Veja só, vocês nem sequer têm uma relação boa, já que ele escondeu estas coisas”.
— Rosa, você está louca? — Lucas tinha o semblante fechado e o olhar frio que assustava.
Seus traços eram marcantes, e quando seu rosto se endureceu, sua presença se tornou ainda mais intimidante, o que explicava como, apesar da pouca idade, já comandava o Grupo Franco.
— Pronto, pronto, me desculpe, não sabia que você nem tinha contado isso para sua esposa. — Rosa se apressou em se desculpar. Embora seu tom fosse complacente, ela parecia ter certeza de que Lucas não faria nada com ela.
— Ah, não, não me chame de vô!
Mauro nunca havia aceitado Rosa como parte da família. Quando a mãe dela entrou na família, ele também se opôs veementemente. Meu sogro casou-se mesmo assim. E por isso, a fortuna da Família Franco nunca teve nada a ver com meu sogro, que recebia apenas cinco milhões por ano para viver. Nada mais.
— Pai, Rosa está sozinha agora, porque… — Meu sogro tentou falar.
— Você fica quieto! — O meu avô o interrompeu furioso.
Eu sabia que o Sr. Mauro não gostava muito de Rosa. Mas aquela foi a primeira vez que presenciei ele deixando-a sem graça em público.
— Eu não deveria ter vindo hoje, — Com o rosto pálido, Rosa pegou sua bolsa e se levantou, claramente desconfortável. — Desculpa por estragar o jantar em família.
Assim que terminou de falar, ela saiu correndo, chorando.
— Você não vai atrás dela para consolar? — Meu sogro lançou um olhar para Lucas. — A Rosa acabou de se divorciar, se algo acontecer, você vai conseguir viver com a sua consciência?
De repente, entendi por que Lucas era tão indulgente com Rosa. Havia alguém constantemente lembrando-o que estava em dívida com outra pessoa. Sob essa constante manipulação moral, quem resistiria? Quando Mauro tentou intervir, Lucas já tinha saído correndo atrás dela.
Olhei para sua figura se afastando, soltando um suspiro silencioso. Passado um bom tempo, os dois ainda não voltaram. Como esposa de Lucas, mesmo que fosse só de fachada, achei que eu deveria me levantar.
— Vovô, vou dar uma olhada no Lucas.
— Sim! — Mauro assentiu e cuidadosamente, instruiu o empregado: — Está frio à noite, pegue um casaco para a senhora.
Ao sair, vi o Maybach ainda no mesmo lugar no quintal, então decidi dar uma olhada fora da propriedade. Assim que saí, ouvi vozes de uma discussão.
— O que você está tentando fazer? Não me diga que dizer aquilo no carro foi só porque você fala o que pensa! — Lucas questionava Rosa com uma voz severa.
Essa faceta, eu só havia visto quando ele estava trabalhando. Rosa, abandonando seu usual estilo gentil e tranquilo, chorava e fazia escândalo, olhando para Lucas com olhos cheios de lágrimas.
— Você está bravo comigo, não está? Mas é que estou morrendo de ciúmes, não consigo me controlar.
— A Nora é minha esposa! — Ele retrucou com firmeza. — Que direito você tem de sentir ciúmes? — Lucas inquiriu friamente, com um tom tanto gelado quanto duro.
— Perdoe-me! — Encolhendo os ombros, Rosa chorava. — Eu me divorciei, Lucas! Você sabe que eu me divorciei por sua causa.

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