O Egípcio romance Capítulo 50

Esse lado do hotel, eu não conhecia.

O imponente Hotel Shams Sfaga parece uma obra de arte egípcia. Fiquei encantada com a majestade do lugar. Os jardins ao redor do hotel servem como inspiração para muitos paisagistas com as plantas típicas como acácias, tamareiras, palmeiras, juncos…

Um vasto tapete de grama se estende até uma fonte de rochas no centro, seguido de um longo espelho d'água ao redor dela. Fora os canteiros cheios de plantas coloridas que embelezavam tudo ao nosso redor.

Quando entrei no saguão, fiquei encantada com o tamanho do hotel, os tons bege e dourados das paredes e suas colunas com desenhos egípcios deixam tudo muito suntuoso. Lustres majestosos pendem no teto, dando um ar extremamente luxuoso.

Hassan e eu não passamos despercebidos conforme caminhamos até o elevador, eu podia sentir todos os olhares direcionados para mim.

Deus! Como eu gostaria de estar com meu melhor vestido. Sinto-me tão sem graça ao lado dele.

Hassan pede para eu aguardar e fala algo na recepção, e se volta para mim.

São oito horas da noite quando entramos na suíte presidencial. Não preciso dizer que tudo é suntuoso, maravilhoso. O lugar é todo decorado com tons que vão do creme ao marrom e dourado. Ele tem aroma de incenso, gostoso. Hassan me disse que vem do Bakhoor aceso para perfumar o ambiente.

A luminosidade é agradável, amena. A música instrumental de sua terra que Hassan colocou flutua pelo ar. Ele me conduz em direção a uma mesa. Entendo que ele quer primeiro me deixar à vontade, ou se sentir à vontade, para depois conversarmos. Eu me sento na cadeira que ele arrastou gentilmente para mim. Então ele se senta de frente para mim. Ficamos calados olhando um para o outro. Isso aumenta a minha consciência de que estou de frente ao homem mais sexy que já conheci na vida, que sabe o que quer e faz o que é necessário para conseguir seus objetivos.

É tão bom estarmos assim, juntos. Sinto-me tão bem ao lado dele…

Mas esse lindo momento nosso é quebrado quando ouvimos uma leve batida na porta, e esta se abre para a entrada de um garçom empurrando um carrinho. Ele então começa a nos servir. Hassan pediu tudo que há de melhor em sua terra. O carrinho está repleto de quitutes em miniatura, doces e salgados típicos. Fora a comida maravilhosa que acabamos de comer. Eu experimentei um pouquinho de tudo. Hassan fez questão de que eu conhecesse todos.

— Quer mais suco, habibi? — ele pergunta.

O jeito que ele me chama de habibi é tão sexy e me faz ruborizar, mas não quebro o contato visual com ele.

— Não. Obrigada. Não quero mais nada. O jantar estava maravilhoso.

— Que bom que gostou — ele encurta distância do outro lado da mesa para cobrir a minha mão com a sua. — Quer que eu peça para eles trazerem um café? Talvez um pouco de chá?

— Não — eu sorrio encantada com sua amabilidade. — Você já terminou?

Hassan assente, de repente sério.

— Obrigado. Pode ir — ele dispensa o garçom, que, após um gesto cerimonioso, se afasta. Hassan procura meus olhos e sugere: — Vamos para a sala de estar, conversar? É muito mais confortável lá.

— É claro — digo, com o coração agitado.

Ele se levanta e me ajuda com a cadeira. Então, segurando minha mão, lidera o caminho até um sofá confortável.

A mão dele é quente, forte. Ele olha os dedos entrelaçados, o contraste entre a pele dourada e a alva. Também percebi ser inevitável afastar o encantamento que sinto por Hassan, e não é o ambiente que é responsável por isso. Mas eu amo esse homem. A sua intensidade é fascinante…

Ele ergue meu rosto e o estuda por um momento:

— Vou direto ao ponto. Você me perguntou ontem por que eu não gosto de Helena.

Eu respiro fundo e me preparo psicologicamente para seu relato, que parece muito sentido, muito doloroso para ele, embora acho que ele não se permitirá demonstrar isso.

— Sim…

Hassan me olha por um tempo e inicia sua história:

— Você sabe de onde eu venho? Vim das areias do deserto, com roupas comuns, andando a cavalo à margem do rio. De um lugar cheio de amigos de infância que perdi o convívio, de lindas aldeias que me lembram o céu. Onde da minha janela eu conseguia ver a Pirâmide de Quéops, que é um monumento indescritível, não tem como explicar a sensação de ver aquelas coisas gigantescas no meio da cidade se deparando com um deserto ainda maior. A minha terra, minhas origens, elas revelam mais acerca de mim mesmo do que se eu tentasse te descrever quem eu sou. Só quando você for ao Egito você conhecerá o verdadeiro Hassan.

Ele respira fundo e sorri.

— Canções, risos, conversas descontraídas sempre reverberavam através dos jardins do palácio, pois eu vivia cercado de uma família maravilhosa. Tios, tias, primos e minha mãe. Foi então que, em um dia de verão com vento trazendo o perfume de jasmim, em um lindo dia de céu azul, minha mãe faleceu. Ela sofreu um enfarto na minha frente.

Hassan solta o ar.

— Allah! Esse dia foi o pior da minha vida, dia de grande tristeza, de angústia, de vazio… Nessa época eu tinha 16 anos de idade. Eu era um rapaz que estudava, já trabalhava com meu pai. Eu o ajudava com a venda de incensos e tapetes em sua loja — Hassan respira fundo e passa a mão nos olhos, parece fatigado. Ele então se recosta mais no sofá, calado por um tempo. — Não teria sido fácil lidar com a perda dela se não fosse pela família unida que eu tinha em volta de mim e que fez de tudo para que eu superasse sua perda. Passou-se um ano, uma mulher entrou na loja…

Ele se cala, seu rosto se contorce, sua respiração se agita.

— Helena? — pergunto, incentivando-o a contar.

Ele assente e limpa a garganta.

— Desde então, meu pai perdeu a razão. Ficou obcecado por ela. Encantado pelo ouro de seus cabelos, pelo azul do céu de seus olhos e com a cor de leite de cabras de sua pele. Não enxergou que por trás disso tudo se escondia uma mulher interesseira, uma mulher que nunca amou meu pai, pois se o tivesse amado não teria agido como ela agiu.

Hassan se levanta do sofá. Vai até o bar e coloca a garrafa entre as pernas, e coloca uma grande quantidade de uísque no copo e bebe de uma vez só.

Deus! Nunca vi Hassan beber, vejo o quanto é difícil para ele tudo isso. É como se a bebida tivesse o poder de suprimir suas emoções, amortecendo seus sentimentos. Ele então volta e se senta, me olha mais recuperado. Mas não é tristeza ou dor que vejo, e sim ódio.

— Então uma guerra começou. A família do meu pai foi contra. A família da minha mãe também, eles não queriam perder contato comigo. Era sabido de todos que Helena não ficaria no país se meu pai se casasse com ela, ele teria que abandonar tudo para viver esse grande amor. Meu pai, com a cabeça quente, saiu do palácio e viajou em cima de um camelo por duas noites, quando voltou estava decidido. Venderia tudo e se casaria com Helena. Uma mulher que já era separada do primeiro marido e não tinha onde cair morta. Allah! Com muito choro, me despedi da família da minha mãe e do meu pai e vim para este país com 16 anos, sem conhecer a língua, me vestindo diferente e carregando uma cultura totalmente diferente.

Comentários

Os comentários dos leitores sobre o romance: O Egípcio