Cheguei para a consulta já incomodado, na sala de espera a secretária falava com alguém no telefone, sem se importar se eu estava ali.
Não sei qual era o assunto, porque não tive interesse em prestar atenção, uma vez que a voz dela era irritante o suficiente para eu apenas desejar que ela ficasse quieta.
Nisso a porta se abriu e saiu uma garota, não tinha mais que 15 anos eu acho...o que será que uma menina tão nova faz no psiquiatra ? Pensei.
-Pode entrar sr Piter, é a sua vez. Disse a secretária com a voz irritante.
Entrei...
-Bom dia Piter, como está ?
-Bom dia doutor, tudo bem...eu acho.
-Como passou de terça ?
-Na medida do possível passei bem.
-Quer me contar porque usou "na medida do possível" ?
-Porque a minha sócia, uma mulher com quem eu tive um caso, na verdade um envolvimento sexual, veio para o Brasil para pentelhar a minha vida, mas tudo bem, já foi embora.
-Nenhuma explosão de raiva ? Ciúmes ?
-Não... Porém não saímos de casa ainda, assim para ir em balada ou algo do tipo não.
-Você me parece um pouco incomodado hoje...
-A minha mulher está tirando habilitação, e eu estou me roendo pra saber como é o instrutor de direção dela.
-Porque quer saber ?
-Para saber se o cara é boa pinta.
-Tá com ciúmes de uma pessoa que você nem sabe como é ?
-Para o senhor ver... Eu até matei serviço hoje de manhã pra levá-la na auto escola, só pra ver se via o cara, porque sei que é homem, ela fala "meu instrutor..." então é homem.
-Piter, me conta sobre a sua infância, adolescência e se der tempo, sobre sua vida adulta antes da Mel.
-Eu não gosto de falar da minha infância e adolescência...
-É importante, eu preciso saber.
-Por onde eu começo ?
-Me fala a partir de onde você lembra da sua vida, dos seus pais, irmãos....
-Minha mãe é italiana, mas veio para o Brasil ainda mocinha para trabalhar, e meu pai é brasileiro....
Contei para ele o que eu lembrava da minha infância e adolescência, sobre a morte da minha mãe que com toda certeza é o fato que mais marcou a minha vida e depois passei para quando conheci a Léa, tia da Mel.
-Então você ficou anos com essa mulher sem amá-la. Perguntou.
-Sim, mas eu gostava dela, porém, com o tempo foi esfriando a relação, eu fui me interessando cada vez mais por outras mulheres e pelo sexo casual e deixei de ter interesse por ela.
-Depois dela teve outras namoradas por quem nutriu algum sentimento ?
-Não ! Na verdade namorada mesmo só tive mais uma, na Itália, mas durou pouco, só uns cinco ou seis meses.
-Você disse que nunca teve ciúmes de outras mulheres antes da Melissa certo ?
-Certo...namorei anos com a tia dela e nunca senti sequer 20% do ciúme que tenho da minha mulher.
-Você tem certeza que a ama, ou tem um sentimento de posse por ela ?
-Os dois...infelizmente ! Eu a amo mais do que qualquer coisa na vida, mas não posso negar que junto vem o sentimento de posse.
-Você diz sempre que pode "minha mulher", essas palavras vem carregadas de prazer em dizê-las e mostram que você tem realmente esse sentimento de propriedade.
-Você tem razão, tenho prazer em chamá-la de minha mulher, mas não acho que ela é minha propriedade.
-Você não gostou da palavra, mas é a mesma coisa que sentir posse.
-Tudo bem....você vai poder me ajudar ?
-Sim, eu posso, mas ainda não tenho um diagnóstico, é muito cedo...porém vou te passar um remédio de manipulação para te ajudar a se controlar.
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Os comentários dos leitores sobre o romance: O Padrinho(Triologia Ella Monteiro)
Acabou?...