O Sobrenome Dela, o Amor Dele romance Capítulo 528

Cília pegou os documentos e examinou-os com toda a atenção; quanto mais lia, mais seu semblante se fechava.

Culpa dela!

Culpa dela por não ter investigado antes e ter acreditado cegamente nas palavras de Alexandra Garza.

Jamais imaginaria.

A verdadeira manipuladora era Alexandra Garza!

Na verdade, as intenções de Alexandra Garza já estavam mais do que claras.

Ela queria usá-la para derrubar Úrsula Mendes.

Repugnante!

Cília sentiu como se tivesse engolido uma mosca: presa na garganta, nem conseguia engolir, nem cuspir.

Pá!

Cília bateu com a pasta de Alexandra Garza na mesa, o rosto tomado por um olhar sombrio.

Por ser a irmã mais próxima de Miguel Solano, Cília jamais desconfiou de Alexandra Garza.

Nunca teria imaginado!

Quem brinca demais com o perigo, uma hora acaba sendo surpreendido.

Dizem que os semelhantes se atraem!

Agora, parecia que Miguel Solano também não era nada confiável.

Jenniefer se apressou a dizer:

— Senhora Lyanne, quer que eu providencie alguém para colocar Alexandra Garza em seu devido lugar?

— Não precisa — respondeu Cília, semicerrando os olhos, um brilho perigoso passando por seu olhar. — Quando eu me recuperar, vou pessoalmente acertar as contas com ela!

— Certo.

Jenniefer assentiu com a cabeça e continuou:

— Senhora Lyanne, acabei de ver o mordomo sair com a receita para buscar os remédios. A senhora tem certeza de que vai tomar mesmo esses medicamentos?

Seja incontinência pós-parto ou epilepsia, com a tecnologia médica atual, ainda são consideradas doenças sem cura.

A família Lyanne contratou diversos especialistas renomados ao longo dos anos para tentar tratar a epilepsia de Cília, mas sempre com o mesmo resultado.

Nem pensar em cura.

Aqueles médicos sequer conseguiam aliviar os sintomas.

Embora Úrsula Mendes tivesse salvado Cília, Jenniefer ainda duvidava da capacidade de Úrsula de, de fato, curá-la.

Além disso, pessoas do país P sempre desprezaram os remédios do Brasil.

Acham que tomar remédio é coisa de gente atrasada.

Só países subdesenvolvidos ainda recorrem a tratamentos antigos e amargos.

Países desenvolvidos jamais usariam métodos tão arcaicos para tratar doenças.

— Sim — Cília assentiu. — Vou começar o tratamento hoje mesmo.

Ao ouvir isso, Jenniefer hesitou, depois disse:

— Senhora Lyanne, acho que essa decisão foi um tanto precipitada. Afinal, a senhora nunca tomou esse tipo de remédio, nunca consultou um médico de fitoterapia. Talvez fosse melhor informar a senhora sua mãe antes.

Dizem que já foi sozinho até tribos na floresta para tratar malária, já esteve em zonas de guerra, atuando como curandeiro entre os soldados, salvando vidas anonimamente.

Algumas comunidades chegaram a erguer estátuas em sua homenagem.

A devoção era constante.

Como Pai Aureliano das Sombras nunca revelou sua verdadeira nacionalidade, muitos países disputavam o direito de reivindicá-lo como um dos seus.

Alguns diziam que era do país P.

Outros, do país Y.

Outros ainda, do continente M.

Obviamente, havia também brasileiros que juravam que Pai Aureliano das Sombras era do Brasil. Como ele vivia no Brasil há anos, esse rumor só aumentava.

Mas quase ninguém admitia que ele pudesse ser brasileiro.

Aos olhos dos países ocidentais, o Brasil era considerado um país atrasado. Como um lugar assim poderia produzir um curandeiro tão extraordinário?

Pai Aureliano das Sombras poderia ser de qualquer lugar — menos do Brasil.

— Antes eu também achava impossível que Pai Aureliano das Sombras fosse brasileiro, porque o Brasil era visto como terra pobre e atrasada, incapaz de formar médicos de excelência — Cília disse, pausadamente. — Mas depois de conhecer a Srta. Solano, percebi o quanto meu olhar era limitado. E me diga, você não percebeu algo curioso nessa viagem?

— O quê? — perguntou Jenniefer.

Cília continuou:

— O Brasil já deixou para trás a pobreza e o atraso. Não é mais aquele país de cem anos atrás. E pense: se Pai Aureliano das Sombras não fosse brasileiro, por que escolheria viver aqui por tanto tempo?

Jenniefer olhou para Cília e sorriu:

— Senhora Lyanne, acho que isso é porque a Srta. Solano é sua benfeitora, então a senhora passou a ver o Brasil com outros olhos. Como dizem por aqui, quem gosta do santo, gosta do altar.