O SÓCIO DO MEU MARIDO romance Capítulo 40

Alicia Rogers narrando

Eu me sento na poltrona no lado de fora do quarto e apenas fecho os olhos orando pela vida do meu pai, eu nunca fui uma pessoa religiosa, mas a minha mãe era. Eu me lembro muito pouco dela, apenas o suficiente para saber o quanto ela me amava. Só que eu lembro exatamente o dia da sua morte, meu pai me levou para me despedir dela no velório, todo mundo da aldeia estava lá, minha vó que já é falecida chorava vendo a sua filha dentro daquele caixão, eu mexia na minha mãe tentando acordar ela, implorava para ela se levantar e me fazer um pão com manteiga, para me contar uma história, mas ela não me levantou e eu só fui entender a sua falta quando eu percebi que ela não me colocaria mais para dormir, que não levaria meu pão com manteiga no sofá e que não colocaria os meus desenhos preferidos na televisão, que não faria mais o meu bolo de aniversário , então eu sofri, sofri muito e meu alicerce foi meu pai, que amava de mais a minha mãe e escondeu o seu sofrimento dentro de si para me consolar, me amar e ocupar o espaço que era da minha mãe para amenizar a saudade que eu sentia.

E eu sinto que foi assim quando meu pai entrou em coma, ele está em coma a 8 anos e foi do nada, eu saí de manhã para trabalhar e ele tinha arrumado meu café, porque ele sabe que eu sempre saia atrasada e não tomava café, a gente morava longe do centro e o caminho era longo, ele começava a trabalhar mais tarde e sempre acordava antes de mim, para me dar bom dia e a gente poder tomar café da manhã.

E eu nem sabia que aquela amanhã era a última vez que eu tomaria café com ele, os médicos sempre foram verdadeiros comigo, a chance do meu pai acordar e ficar vivo era apenas 10% conta os 90% de que ele poderia acordar e morrer no mesmo dia.  Aquela manhã fria normal da Alemanha, ele me abraçou forte e me disse o quanto me amava, me disse que a noite iria trazer linguiça para o jantar e faria a minha comida preferida.

A noite não chegou, a linguiça ele não comprou e ele não fez meu jantar preferido, aquela noite eu estava sentada em uma sala de espera, esperando notícias dele após ele passar mal.

- Mamãe – Escuto a voz da Maria Alice no colo de Jonas e ele me encara e eu o encaro.

- Oi meu amor – ela vem no meu colo.

- Vovô acordou? – ela pergunta sorrindo.

- Acho que sim – eu respondo.

- Obrigada – eu falo para ele que não me diz nada.

Eu me sento com Maria Alice no colo e ela começa a brincar com o meu colar e me contar como tinha sido o balé e o tempo todo chamando seu pai para concordar com ela e ele concordava com todas as maluquices que ela falava e ela dava risada o vendo concordar com ela.

- O papai tá muito louco – ela fala e ele a encara – ele está concordando e nem sabe o que eu estou falando – ela coloca a mão na cabeça.

- A senhorita está muito esperta – ele fala para ela.

Ele me observava o tempo todo, eu não me importava mais com o que ele pensa sobre mim e o que ele queira fazer, eu só me importava com meu pai e a minha filha, eu não iria mais deixar as suas palavras me machucar, mas eu faria o possível e o impossível para ficar ao lado dela.

Quando eu assinei aquele maldito contrato, eu jamais pensei no futuro, eu só conseguia pensar no meu pai naquele momento e ele tinha noção disso, ele e seu advogado agiram de má fé. Eu jamais iria assinar algo que eu renunciava a um filho no futuro, mesmo que eu não pensasse em engravidar ou ser mãe naquele momento.

- Dona Alicia Rogers – o médico sai do quarto – o seu pai acordou – eu abro um sorriso – ele está acordado, pedindo de você, só que – eu o encaro – eu vou ser sincero com você, seu pai tem algumas horas de vida apenas, 24h ou  48h seria sorte. Infelizmente, ele está muito fraco e os seus órgãos estão parando aos poucos. Vocês são todos os familiares que ele tem?

As lagrimas desce do meu rosto e eu não consigo responder.

- Sim – Jonas fala. – podemos ver ele? – ele pergunta.

- Fique a vontade – ele fala – terá um enfermeiro acompanhando – O médico fala.

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