Alicia Rogers narrando
Eu me sento na poltrona no lado de fora do quarto e apenas fecho os olhos orando pela vida do meu pai, eu nunca fui uma pessoa religiosa, mas a minha mãe era. Eu me lembro muito pouco dela, apenas o suficiente para saber o quanto ela me amava. Só que eu lembro exatamente o dia da sua morte, meu pai me levou para me despedir dela no velório, todo mundo da aldeia estava lá, minha vó que já é falecida chorava vendo a sua filha dentro daquele caixão, eu mexia na minha mãe tentando acordar ela, implorava para ela se levantar e me fazer um pão com manteiga, para me contar uma história, mas ela não me levantou e eu só fui entender a sua falta quando eu percebi que ela não me colocaria mais para dormir, que não levaria meu pão com manteiga no sofá e que não colocaria os meus desenhos preferidos na televisão, que não faria mais o meu bolo de aniversário , então eu sofri, sofri muito e meu alicerce foi meu pai, que amava de mais a minha mãe e escondeu o seu sofrimento dentro de si para me consolar, me amar e ocupar o espaço que era da minha mãe para amenizar a saudade que eu sentia.
E eu sinto que foi assim quando meu pai entrou em coma, ele está em coma a 8 anos e foi do nada, eu saí de manhã para trabalhar e ele tinha arrumado meu café, porque ele sabe que eu sempre saia atrasada e não tomava café, a gente morava longe do centro e o caminho era longo, ele começava a trabalhar mais tarde e sempre acordava antes de mim, para me dar bom dia e a gente poder tomar café da manhã.
E eu nem sabia que aquela amanhã era a última vez que eu tomaria café com ele, os médicos sempre foram verdadeiros comigo, a chance do meu pai acordar e ficar vivo era apenas 10% conta os 90% de que ele poderia acordar e morrer no mesmo dia. Aquela manhã fria normal da Alemanha, ele me abraçou forte e me disse o quanto me amava, me disse que a noite iria trazer linguiça para o jantar e faria a minha comida preferida.
A noite não chegou, a linguiça ele não comprou e ele não fez meu jantar preferido, aquela noite eu estava sentada em uma sala de espera, esperando notícias dele após ele passar mal.
- Mamãe – Escuto a voz da Maria Alice no colo de Jonas e ele me encara e eu o encaro.
- Oi meu amor – ela vem no meu colo.
- Vovô acordou? – ela pergunta sorrindo.
- Acho que sim – eu respondo.
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