Os Desamados são os Terceiros romance Capítulo 170

Às cinco da manhã, Augusto Monteiro foi chamado de volta à cidade por um telefonema.

Nona Neves havia piorado, com complicações que quase a levaram, mas após duas horas de luta, sua vida foi salva.

Augusto não havia dormido a noite toda e, exausto, acabou adormecendo no sofá.

Ele sonhou que estava de volta às margens do Rio Y, naquela tarde em que o céu estava tingido de um esplendoroso pôr do sol. Ele e Raíssa Lopes estavam sentados lado a lado na mureta de concreto da barragem. Raíssa, com um cavalete nas costas, estava pintando um jovem Augusto—

"Augusto, será que entre nós nunca haverá traição ou abandono?"

"Sim! Para Augusto, Raíssa é a mais importante."

"Então, Augusto, vamos nos casar."

...

"Raíssa, Raíssa."

Augusto murmurava suavemente enquanto acariciava as costas da esposa.

Ela estava de volta, não tinha ido embora. Raíssa havia prometido que nunca haveria traição ou abandono entre eles; ela ainda se lembrava das promessas que fizeram...

Nona ficou paralisada, atordoada.

Ela havia ficado contente ao saber que Augusto e Raíssa haviam se separado, pois pensava que, no coração de Augusto, ela, Nona, era a mais importante. Mas agora, até mesmo em seus sonhos, ele chamava pelo nome de Raíssa.

Como isso poderia ser embaraçoso para ela?

Augusto despertou abruptamente, ainda sob o impacto do sonho, e percebeu que não era a suave e delicada Raíssa em seus braços, mas sim Nona.

Augusto afastou-se, apoiando a mão na testa: "Ah, é você, Nona! Está se sentindo melhor?"

Nona sentou-se no sofá ao lado, com uma voz suave—

"Estou um pouco melhor!"

"Mas eu sei que só tenho mais seis meses de vida."

"Augusto, me desculpe. Eu não queria ser a causa da sua separação da minha irmã. Se eu soubesse, teria feito de tudo para impedir que meus pais fizessem algo tão absurdo! Se minha irmã não quis doar para mim, é uma escolha compreensível."

...

Os olhos de Augusto se tornaram profundos.

Nona respondeu amargamente: "Mas minha irmã não pensa assim. Ela acredita que é tudo mérito dela."

Dona Neves voltou a criticar: "Por que você não segurou Augusto?"

Nona falou com tristeza: "Ele tem trabalho. Como eu poderia forçá-lo a ficar? Mas ele sempre vem me visitar de tempos em tempos. Ele não tem ninguém ao seu lado, então, se não vem aqui, não tem para onde ir."

Dona Neves queria que a filha aproveitasse a chance, esquecendo completamente que a saúde da filha estava debilitada.

...

Augusto saiu do hospital.

Ao descer as escadas, embora o sol brilhasse intensamente, Augusto sentiu um frio que lhe percorria todo o corpo.

Ele fez uma rápida visita à Mansão de Platina, onde trocou para um traje formal antes de ir à empresa para uma reunião. Lá, ele conduziu os negócios como de costume e participou dos eventos sociais como sempre...

Diante dos outros, ele ainda era um homem de presença marcante, cheio de vigor.

Mas somente Augusto sabia que havia uma parte de seu coração que estava lentamente se deteriorando.