Os Desamados são os Terceiros romance Capítulo 248

248 /349

Com o pôr do sol alaranjado, uma atmosfera calorosa e difusa, parecia que todo o passado e as feridas jamais tinham existido.

Através de uma leve névoa, Augusto olhava profundamente para Raíssa—

"Eu sei que você me odeia, sei que quer o Noe de volta, mas Noe não pode."

"Raíssa, eu não faço distinção entre filhos."

"Noe é minha vida."

Por quê?

Porque Augusto só tinha Noe agora.

O orvalho vira geada, a geada murcha o verde do verão.

Durante três anos, por dez meses, Noe ficou na incubadora.

Naquele acidente de carro, Augusto ficou na cama do hospital por dois meses. Depois de alguma melhora, ele transferiu o quarto para o hospital onde Noe estava. Todas as noites, ele arrastava seu corpo debilitado para ver seu Noe.

Um braço, ele não lamentava.

Contanto que Noe vivesse, ele só queria que seu Noe vivesse.

Quando Noe completou dez meses, saiu da incubadora. Augusto o levou para casa e, dia após dia, cuidou dele, criando seu Noe até ele crescer.

Os olhos de Augusto estavam úmidos.

Com um cigarro entre os dedos, sua voz quase trêmula, ele usou toda a dignidade que tinha para ser corajoso apenas uma vez: "Se você quer o Noe, vamos nos casar novamente."

O crepúsculo se aprofundava, o laranja se tornava um roxo chumbo.

O passado ecoava entre eles, incessantemente.

Raíssa estava sentada na penumbra, olhando para cima para Augusto. Sua expressão era serena e tranquila, sem alegria nem tristeza: "Augusto, você sabe que isso é impossível. Os anos passaram, o ódio realmente enfraqueceu, mas ainda está presente."

Somente por causa da criança, eles tinham que se relacionar, especialmente por causa de Noe.

Augusto não respondeu.

Ele apenas olhava para ela, e seu olhar de saudade era tão evidente.