Márcio recostava-se no sofá, sorvendo lentamente um copo de espumante com uma preguiça encantadora, como se fosse uma calamidade bela que, por ventura, descesse à terra.
Denise chegou ofegante e atrasada, a testa coberta de suor. Sentou-se ao lado dele, pegou uma taça vazia sobre a mesa de centro e serviu-se de um copo de vinho, bebendo-o de um só gole.
"Ah, por que sempre tem alguém querendo me prejudicar? Hoje eu quase não consegui chegar."
Márcio lançou-lhe um olhar indiferente, com um tom de voz desinteressado: "O que você aconteceu dessa vez?"
Ela retirou o celular, mostrando a ele a foto do carro.
"Alguém danificou nosso carro, não sei quem foi o idiota responsável por isso."
Márcio girou seu copo nas mãos, ainda desinteressado: "Quem você acha que foi?"
"Eu chequei as câmeras de segurança do estacionamento, era um homem, usando boné e máscara preta. A polícia ainda não o pegou."
Ela fez uma pausa, um brilho sombrio passando por seus olhos: "Na volta do clube ontem, fomos seguidas. Pedi ajuda a um amigo do DETRAN e descobri que o carro era de Enzo Santos, que é assistente pessoal da Rosália. Justamente uma pessoa desprezível."
Márcio esboçou um sorriso frio: "Então o que vai fazer?"
"Nada! Sem provas, não posso simplesmente pedir indenização." - Ela suspirou profundamente: "O carro era da Adriana, ela precisa dele todos os dias para trabalhar. Vou ter que emprestar o meu carro a ela. Será que o presidente Fonseca poderia arranjar um carro para me buscar? Hoje eu tive que pegar dois metrôs e ainda peguei uma carona para chegar até aqui, estou exausta."
Márcio franziu ligeiramente a testa, não admirou que tivesse chegado tão tarde.
"Depois vá até a garagem e escolha um carro, nada de faltar no trabalho."
"Obrigada, chefe." - Ela sorriu, a generosidade do chefe era inegável.
Mas, ela não veio com o propósito de pedir um carro.
"Chefe, com sua astúcia e sabedoria, não há quem te supere em inteligência. Pode me ajudar a pensar em uma forma de fazer Rosália pagar pelo carro?"
Márcio olhou-a com olhos frios e profundos, que sob a luz pareciam poços antigos, insondáveis e cheios de mistério.
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