Vanessa romance Capítulo 16

Vanessa de Paula

Quando a porta se abre sou golpeada fortemente, uma enchurrada de sentimentos me engole sem que eu tenha qualquer chance de correr, me seguro na porta para não cair.

__ desculpe minha fia mas quem é ocê?

Olho a senhora de idade a minha frente, baixinha, com seus cabelos brancos o mesmo lenço que me recordo no seu cabelo, veste uma camisa verde simples, a pele judiada pelo sol e pela vida sofrida, a vida no interior nunca foi fácil e minha tia sempre batalhou tanto para nunca faltar o pão isso eu admito.

Ela me olha com curiosidade imensa seus olhinhos enrugados,

__ sou eu tia, a Vanessa, pingo de vela!

Algumas vezes ela me chamava de pingo de vela por eu ser de baixa estatura.

__ pingo de vela é ocê? Vanessa minha fia ocê voltou para vê sua velha tia? Eu sempre me perguntei o que tinha acontecido com ocê, por onde andava...

__ eu voltei tia Lurdes, posso entrar?

__ mais que pergunta! Claro que pode! Se achegue!

Meus pés parecem pesar uma tolenada e aos poucos vou caminhando para dentro da casa onde vivi por anos, entro na sala e tudo está igual, um sofá pequeno e gasto coberto por um pano felpudo,

No meio da sala um centro de mesa com os enfeites que minha tinha achava que enfeitava a casa, tinha uma tartaruga que nunca parava de balançar a cabeça, as paredes cheias de quadros de fotos de pessoas antigas já mortas.

__ posso te da um abraço pingo?

Olho para seu rosto esperançoso e me recordo que tia Lurdes é minha única parente viva.

__ pode tia!

Um pouco tímida tia Lurdes me abraça, respiro fundo e apenas fecho os olhos.

__ agora vamos sentar minha fia vou passar um café fresquinho pra ocê!

Concordo com a cabeça e a sigo até a cozinha, novamente lembranças me assolam, O fogão não é o mesmo porém é pequeno e simples, a mesma mesa de madeira com uma fruteira onde todas as frutas são de plástico, tia Lurdes coloca água no fogo e a vejo pegando o pó de café no armário pequeno, quando olho o fogão, só me vem a minha própria imagem cozinhando nele, eu com 9 anos e com a ajuda de um banquinho cozinhando o almoço de todos os dias.

Muitas vezes me queimava por ser muito pequena para aquelas palavras enormes e pessadas.

Balanço a cabeça tentando afastar essas recordações.

__ minha fia por onde você andou quando saiu fugida dessa velha casa?

Essa pergunta me trás um amargor imenso, quando sai daqui fugida para não ser abusada pelo marido da minha tia eu não tinha destino certo,

acabei passando aquela noite na rua, eu estava tão assutada que só conseguir pregar os olhos quando amanheceu o dia.

__ eu não vim falar sobre isso tia, eu vi a senhora na TV, como está a sua saúde?

Ela passa a mão na testa e pega a panela de café do fogo e começa a coar o café, e logo o cheirinho gostoso de café fresco toma conta de tudo.

__ a minha fia eu estou veia, e você sabe que sua tia sempre gostou de fumar seu cachimbo.

Eu lembro da tia Lurdes todas as noites com seu cachimbo na mão.

__ sei tia Lurdes todas as noites você gostava de fumar.

__ eu num sei explicar direitinho mas os purmões da tia não servem muito, eles vão arrancar meus purmões fora e trocar por outro, um trasnprante!

__ transplante tia!

A corrigo no automático.

__ isso mesmo, e se for fazer isso de graça a fila de espera é gigante minha fia, no mínimo 5 anos o doutor disse que talvez num consiga esperar, porque eu sou de idade tenho que trocar os purmões logo.

Ela fala e fico ouvindo tudo calada,

__ agora ele disse que se eu tivesse dinheiro eu podia ir pros outro mundo troca os purmões...

__ outro país tia Lurdes!

__ isso, outro país um tal de estardo urnidos, mas é muita dinherama! Então o fi de dona zefa, madou um vídeo na Internet uma tal de vaquinha e passou na TV e tudo.

__ e quanto é valor da cirurgia tia?

__ minha fia é um valor que nunca vi, num sei nem falar aquilo.

A simplicidade da tia Lurdes é tanta, ela realmente não sabe de dinheiro alto, sempre trabalhou e só ganhava o suficiente para comer nunca tivemos luxo.

__ eu perguntei ao médico se com minha aposentadoria dava pra pagar essa tal cirurgia, ele disse nem que fosse 100 aposentadoria dava, então deve ser dinheirama mesmo, dinheiro do grosso!

Sentamos no sofá, e de repente me bate uma inquietação, a última cena que vivi aqui nessa sala, o marido de minha tia em cima de mim, eu não via escapatória, ele me teria!

Foi quando lasquei sua cabeça com um ferro de passar, bebo um gole de café e afasto as lembranças degradantes, ficamos nos olhando por um tempo até que tia Lurdes começa a falar,

__ eu sei que nossa vida nunca foi fácil pingo de vela, eu trabalhava muito e seu tio era um homem difícil!

Difícil? Ele era um molestador isso sim, digo em meus pensamentos.

__ mas aí quando você fugiu eu fiquei me perguntando, se não deveria ter feito mais por você, minha irmã me confiou você quando partiu desse mundo indo pra terras dos pés juntos...

__ tudo bem tia já passou...

Só a menção desse homem me deixa abalada, não! Isso não pode mais me afetar!

__ depois que você arribou minha fia, seu tio ficou de um jeito que ninguém dava jeito, ele bebia pinga todas as noites, ficou mais agressivo comigo, até que começou a usar drogas pesadas, com ajuda dos vizinhos eu consegui interná-lo numa clínica, de vez em quando eu vou lá visitá-lo.

Por isso tantas marcas no seu rosto, uma vida sofrida de luta, minha tia nunca teve uma vida fácil.

__ tia a senhora quer vim morar comigo? Lá na centro de São Paulo a senhora vai conseguir ter um bom acompanhamento médico, eu posso marca uma consulta para senhora!

Falo no calor da emoção e porque não conseguiria deixar tia Lurdes morrer a míngua sem um atendimento decente, pois sei que aqui nesse interior que ela vive será esquecida por todos, ela nunca conseguiria um bom atendimento, provavelmente iria definhar até a morte. .

Ela me olha e parece pensativa.

__ eu não posso abandonar seu tio minha fia.

Aquele homem não é meu tio, grito em Pensamentos.

__ tia a senhora não está abandonando, esta indo cuidar de sua saúde.

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