Beatriz
Penso antes de responder a sua mensagem.. Me intriga o porquê de ter procurado meu contacto, mas deixo passar e lhe respondo curto mas sem ser grossa.
Meu sono se foi e me sento na cama. Segundos depois me levanto e sento no sofá ligado a janela. Afasto a cortina e observo o céu.
É uma noite fria, o céu está carregado de nuvens pretas e alguns raios decoram o mesmo.
Me apavoro...
Aquela conhecida sensação de pânico se apodera de mim a medida que vou ouvindo o barulho da chuva e dos trovões.
Um grito involuntário escapa dos meus lábios e abraço os meus joelhos balançando para frente e para trás.
Estou petrificada no mesmo lugar.
Não consigo levantar.
Não consigo correr.
Não consigo pensar.
Só consigo me apavorar!
Lágrimas caem dos meus olhos a medida que vou me transportando para aquele dia.
É como se eu estivesse parada na porta me vendo sofrer todo tipo de porcaria nos meus 15 anos.
Todo tipo de injúria.
Eu era uma menina e fui forçada a ser uma mulher.
Eu não queria.. Eu lutava, esperneava, chorava e implorava para pararem. Mas nada resultou.
A culpa não foi minha. Eu não queria. Eu não queria!!
- O que há Beatriz? Calma. - sinto dois braços enormes me abraçarem e me carregarem pra cama.
Eu estava gritando? Oiço o som estrondoso de um trovão e solto um grito de desespero misturado as lembranças do passado.
Sinto meu corpo queimar a cada toque lembrado.
Ânsia toma conta de mim ao lembrar dos palavrões, a forma como a palavra anjo saía de suas bocas, como fui obrigada a sucumbir a perversões. A surra, acordar ensanguentada, me sentir sendo dividida ao meio. A sensação de desmaiar e acordar sendo fodida.
Choro ainda petrificada.
- Olhe pra mim. - ele diz e levanta meu queixo para que eu fite seus olhos. - O que foi? Me diga. - nada respondo. - Tá me preocupando Bia, o que está acontecendo?
- Me ajuda. - é a única coisa que consegui sussurrar em meio as lágrimas e ao desespero.
Involuntariamente o abraço pelo pescoço e choro no seu colo.
Fecho os olhos e tremo.
Tremo ao lembrar de toda merda e todo meu passado fudido.
Sinto ele se deitar na minha cama comigo nos seus braços e nos tapar.
- Shhhh. Eu estou aqui e nada de mal vai acontecer. Calma. - ele sussurra carinhosamente no meu ouvido.
Não sei quanto tempo, talvez horas se passam até que a tempestade cessasse, só então eu apanho sono.
/
Rafael
Olho para o céu e vejo uma tempestade se aproximando.
Sigo para a cama e me deito.
Estava pegando o sono quando oiço gritos crescendo gradualmente a medida que trovões explodem pelo céu.
Rapidamente saio do meu quarto e sigo para o dela.
Ela já teve crise de choros e gritos, mas nada como agora.
Entro no quarto e a vejo sentada no sofá abraçando os joelhos e chorando compulsivamente.
Ela grita e pede para que parem. Diz que a machucam.
Quem?
Outro trovão e ela grita ainda mais alto.
Comentários
Os comentários dos leitores sobre o romance: Viver Para Crescer
Amei a história. Ansiosa pela continuação...
Qual nome do livro 2?...