Você É o Meu Paraíso romance Capítulo 372

"Félix, naquele ano era o começo do outono. Você sabe o quanto faz frio no inverno em Cidade Paz?"

Elsa ergueu levemente a cabeça, seu olhar distante, como se realmente voltasse àquele inverno gelado.

A esposa de Félix, o advogado mais renomado e o homem mais rico de Cidade Paz, havia sido presa.

Mais preocupante que a queda do topo era o medo daqueles demônios atrás das grades.

"Na prisão, basta uma pessoa te rejeitar para que logo se torne um grupo inteiro te isolando. Adivinha, de onde vieram todas essas cicatrizes no meu corpo?"

Ela sorriu suavemente, a voz ainda contida, como se contasse o passado de alguém que nada tinha a ver com ela.

"Diziam que eu era cruel, que eu não tinha vergonha de me deitar com homens. Naquele frio cortante, jogavam água gelada em mim, me obrigavam a limpar todo o presídio sozinha. Se eu errasse em algo, puxavam meu cabelo, batiam no meu rosto. Apanhar virou rotina. No final, aquilo já não bastava: competiam entre si para ver quem deixava marcas piores no meu corpo. Qual corte me faria gritar mais alto?"

Elsa olhou para Félix sorrindo, sem qualquer vestígio do pânico ou da apatia que tivera na prisão.

"Com sete meses de gravidez, minha barriga já estava enorme, era difícil até caminhar normalmente. Mas aquilo era uma prisão. Alice nem chegou a nascer com dez meses completos e, mesmo quando a primavera terminou, ela ainda era frágil. Eu era a mais desprezada entre todas, nem mesmo a água quente ou a comida que sobrava era oferecida a mim. Por Alice, eu chorei, supliquei, ajoelhei. Não me restou dignidade. Naquele ano, a única coisa que me manteve viva foi Alice."

Os lábios de Félix tremiam, e ele murmurou: "Chega, não diga mais nada."

"Félix, meus sentimentos por você já se esgotaram há muito tempo."

Elsa observava cada gesto dele à distância; não sabia se era pela dor das lembranças ou por outro motivo, mas a tristeza crescia silenciosa em seu peito, e as lágrimas se acumulavam nos cantos dos olhos como pequenas pérolas.

Ela tremeu as pálpebras, os cílios longos se umedeceram com o brilho das lágrimas, mas ela não deixou que caíssem.

Elsa inspirou fundo, engolindo toda mágoa e sofrimento.

Ainda bem, tudo havia passado.

Os lábios de Félix estremeceram; ele pegou o exame e logo viu o índice de 99,9%.

Ele fechou os olhos e sentiu o coração, já sofrido, se partir de vez.

Como Elsa disse.

Agora, todos os pedidos e súplicas haviam se tornado palavras vazias.

Ele... realmente não tinha direito algum.

Félix foi invadido de repente pelas memórias de tudo o que fizera.

Por causa de um simples arranhão em Karina, transferira todos os médicos do Hospital Duarte e quase deixara Alice morrer de febre alta.